sábado, 17 de outubro de 2009

CARINHO

Não sei como é pra vocês estas coisas, mas elas me tocam. Esta coisa do cuidado, do ter carinho e fazer um afago delicado. Ontem, após um dia de trabalho intenso, atendendo em Conceição dos Gatos e no Rio Grande, chegamos Gleiton, o enfermeiro, e eu, ao posto de saúde, que já estava fechado por causa da hora. Quando vínhamos chegando cruzamos com Beli que de longe acenou para que eu fosse em sua casa. Respondi-lhe que iria daí a pouco, mas antes que se realizasse o daí a pouco ela veio ao posto com um pacote cuidadosamente embrulhado em papel laminado. Disse que haviam preparado para o almoço, mas lembraram de mim. O povo sabe que sou guloso. Tenho cuidado com a qualidade do que como, mas ainda tenho um longo caminho a percorrer no que respeita à quantidade. Beli sabe disso e sabe que uma comida bem gostosa é uma alegria para mim. Ela não sabia, mas como em Conceição havia tido muita gente a consultar, cheguei tarde em Palmeiras (onde nestes dias almoço) e, como havia que fazer um programa no rádio, ir na Secretaria de Saúde fazer algumas diligências, entre outras coisas, acabei não almoçando. Por sorte em Conceição dos Gatos o povo, que é muito hospitaleiro, sempre tem merendas. Havia um aipim delicioso que comi fartamente. Mas, à hora que chegava de volta ao Vale, a fome batia na porta do estômago e solicitava-me com vigor. O pacotinho era uma comida de forno, naturalmente natural e vegetariana, muito deliciosa que saboreei com prazer (após oferecer um pedaço a Gleiton que aceitou – às vezes sou até um cara decente para estas coisas!).
O que me leva a pensar é constatar que ela na hora do almoço, por algo, lembrou de mim, assim do nada, ou talvez porque quando levou a comida à boca e sentindo-lhe o sabor ocorreu-lhe minha gulodice. Também no dia anterior, dia de N. S. Aparecida, que no Vale do Capão é festejada com hinos e comidas e que se associa ao dia das crianças e, portanto, há farta distribuição de comidas de aniversário, eu havia estado atarefado fotografando a festa muito bela de Beli. Aliás, registro que a festa foi tão maravilhosa quanto a de Cosme. Como sempre a distribuição farta de petiscos foi o forte. A família toda, Beli, seu marido, as belas filhas e o filho, algumas vizinhas mais chegadas, unidos naquela celebração, indo e vindo, distribuindo e rindo embora toda a turma cansada porque foram vários dias nos preparativos. O fato foi que no ritmo de fotografar terminei por não comer nada. Beli, Eldinha (a filha mais velha) e Derme, o marido, ficaram tristes quando descobriram que não comi. Correram à cozinha, olvidaram o cansaço, preparam suco de manga para mim e para Cybele e bastante pipoca. Comi até me fartar, mas parece que ficou na cabeça da dona da casa que eu não tinha comido a empanada tão saborosa. O seu jeito de ter cuidado seguramente assenhoreou-se de sua memória e ontem tive a felicidade, de em um momento de muita fome, comer algo com o sabor dado pelo dom da cozinheira, pelo amor da lembrança e pelo tempero da fome. Tenho do que me queixar?
Em 14/10/09

Nenhum comentário:

Postar um comentário