segunda-feira, 9 de novembro de 2009

O MURO DE BERLIN E NÓS

Já contei isso em outra parte, mas é bom lembrar. Um dia estava em casa quando chegou Dozinho esbaforido. Quando o atendi me disse que estava preocupado com as notícias que a rádio estava trazendo com insistência, mas que ele não entendia nada.
- Sabe o que é Dr. Aureo? Estão falando toda hora que caiu um tal de um muro. E falam nisso demais como se fosse uma coisa muito importante. O que é esse muro?
Demorei algum tempo para entender o que se passava. Fiz algumas perguntas e de repente caiu a ficha. Exclamei:
- O muro de Berlim! Caiu o muro de Berlim!
Duro foi explicar ao meu amigo o que era este muro, e qual a importância sócio-histórica. Naquele dia, tive também que explicar a Landinha, que à época trabalhava para mim, cuidando da casa. Contei-lhe sobre a II Guerra e nazismo, e que a Alemanha fora dividida em duas, ficando uma parte sob o domínio da Rússia comunista enquanto a outra tinha sido dividida entre as potências vencedoras do ocidente. Cuidei de usar uma terminologia o mais simples possível. No dia seguinte tendo que ir à rua (a vila onde se aglomeram as casas aqui no Vale) encontrei-a, de pé na sala, assistida por uma platéia de parentes e vizinhos, explicando para todos, a Alemanha dividida e a queda do muro. Ela não percebeu minha presença e, portanto pude escutar parte da conversa. Ali descobri como surgem as lendas. Como um homem forte passa a ser Hercules ou um governante se transforma em um Deus. Como um bando de guerreiros maltrapilhos é transformado em um grupo de seres divinizados. Ela transformou o que eu tinha falado (sem faltar com a verdade) em uma outra coisa, bem mais interessante, diga-se. Adorei!
Mas o muro caiu e hoje se comemora esta data. Uma libertação! Que caiam outros muros! Principalmente, que caia o muro que construímos quando assumimos a posição de que existem culpados para os nossos males. Sim, culpados bem que existem. Porém, sempre que deixamos toda a imputabilidade pelas nossas mazelas recair sobre outrem, deixamos de assumir nossos erros e defeitos. Fugimos de nossas responsabilidades. Culpamos os comunistas, os ricos, os latifundiários, os capitalistas, os donos de empresas, os Estados Unidos, os políticos, os muçulmanos (e estes aos cristãos), os colonizadores, e, assim, não olhamos para nós mesmos. Não vemos que no dia-a-dia roubamos o tempo dos demais quando nos atrasamos para os encontros marcados, esgarçamos a trama social quando subornamos o guarda rodoviário que nos flagrou em erro, quando fazemos pequenas trapaças e roubos no supermercado, quando destratamos pessoas porque estão em condições econômicas e sociais menos favorecidas, quando nos deixamos levar pelo populismo de certos políticos, quando não votamos com responsabilidade... A lista é longa. O leitor seguramente lembra de outros itens.
A principal liberdade é, em realidade, a capacidade de assumir a responsabilidade pela própria vida.
Um abraço bem gostoso para todos,
Aureo Augusto, em 9/11/09.

Um comentário:

  1. Dr Aureo, boa tarde. Meu nome é Luisa Torreão e sou jornalista, repórter do jornal A Tarde. Estou à frente de uma matéria sobre o parto humanizado, principalmente domiciliar, tendo como gancho uma experiência familiar - minha prima acaba de dar à luz em casa, amparada pelo marido, antes mesmo de chegar a médica que a assistiria. Como introdutor de métodos naturais do parto na Bahia, quero trocar informações com o sr, pegar algumas falas e percepções sobre o assunto. É possível entrar em contato comigo (o quanto antes possível, pois a matéria sairá no fim de semana), pelo e-mail ltorreao@grupoatarde.com.br? Aguardo um retorno! Um abraço, Luisa.

    ResponderExcluir