quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

O PÉ DE IMBURUÇU E OS ENTERROS

Cada coisa tem sua história e esta história em muito (mais do que aparenta) a define.
Aqui no meio da praça principal do nosso povoado há um pé de imburuçú. Uma árvore bonita de tronco grosso e copa exuberante, que hoje, percebe-se envelhecida. Sua copa é podada cuidadosamente porque há poucos anos o tronco, oco, rachou durante uma ventania. Acostumei-me a sua presença e não gostei quando ao calçarem a praça os pedreiros levaram os paralelepípedos até a casca das raízes. Poderiam ter-lhe dado um espaço, um pouco mais de terra. Mas não foi isso que a prejudicou, creio, porque as raízes profundas não foram abaladas.
Apesar das podas a árvore é uma coisa tão presente que quase não se nota. No entanto, como tudo o demais tem uma história. E esta história remete àquele que a plantou.
Foi um homem chamado Rubi. Quando o fez manifestou aos vizinhos o seu desejo de que ao morrer o seu caixão fosse confeccionado sob seus galhos. Quem me contou a história foi S. Chiquinho de Dona, pai de Nivaldo, e ele acrescentou que à morte de Rubi, a planta já havia alcançado um bom tamanho e os vizinhos cumpriram-lhe o desejo, e arrumaram seu último leito sob a árvore que plantou.
Naquela época e mesmo muito tempo depois que aqui resido o comum era o povo daqui mesmo cuidar do caixão do defunto. De quando em vez algum prefeito oferecia o caixão, mas em geral eram vagabundos. Teve um cara aqui que no enterro, o caixão era de tão má confecção que os membros do morto começaram a sair pelas rachaduras onde os pregos cederam. Caro custou para levar o corpo à sepultura. Difícil foi controlar o riso. Hoje, com o progresso todo mundo é enterrado nuns caixões bem legais, com vidrinho e tudo. Todo mundo chega na sala com o cenho franzido e o olhar contrito, vai até o vidrinho e olha. Depois vai para um canto e por algum tempo mantém um silêncio sepulcral. As pessoas se entreolham e esperam que outro entre e olhe o vidrinho em um voyeurismo macabro. Depois todos se metem uma conversação a princípio um tanto triste, semeada de memórias do morto, mas logo vão se animando ocorrendo às vezes redondas gargalhadas. À noite é fogueira, comida e cachaça até que o amanhecer traz a dor atroz e os gritos das mulheres na hora que o enterro sai de casa. Não sei o que se passa lá na hora de o caixão baixar à terra porque nunca vou a este finalmente. No máximo freqüento o velório. E aqui já fui a muitos, mais até do que gostaria.
Para fechar mais uma informação: Conta-se que Rubi maltratou a uma mulher que era prostituta. Esta o amaldiçoou com tal veemência que após algum tempo desenvolveu uma ferida no pé e outra no nariz o qual, com o tempo, ficou completamente destruído, ficando um buraco no lugar. O homem morreu desta afecção.
Há pouco falei da língua de algumas pessoas, mas seguramente a língua desta mulher, esta sim que era danada.

Um abraço bem gostoso para todos vocês,
Aureo Augusto

3 comentários:

  1. Dr. Áureo tenho dado boas gargalhadas destas suas ultimas postagens.....kkkkkkkkk

    Parece que eu vivo no Capão tal fidedigna descrição vc faz das fofocas e dos enterros. Como eu sou da cidade de Nazaré, no Reconvavo Baiano, estas suas estórias cabem muito bem lá. Eu tenho uma tia que apanhava todos os dia do marido. Um dia não aguentando mais, quedou-se de joelhos a implorar que a morte (do marido kkkk) a libertasse. Não que Deus a ouviu?? Foi-se titio, de morte súbita, acho que um colapso. Uns dizem que foi fígado.

    Bem, na saída do caixão, titia se jogou por cima do tal a implorar que queria se enterrada junto. E ainda hoje, 40 anos depois da viuvez, ela guarda a foto amarelada do falecido. Dizem as minhas outra tias que ela usou luto fechado durante anos e até a calçola era preta. Ó linguas ..............kkkkk.

    Um abraço e continue escrevendo. Eu viajo nos seus posts.

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  2. Jussiara,
    Vc TEM que escrever estas histórias. Essa sua tia é uma figura.
    Escreva menina.
    Um abração,

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  3. Eu tenho meus escritos mas me falta coragem de publicar.

    A minha familia paterna é muito engraçada, cheia de histórias pitorescas.

    Um dia eu publico.....

    Um abraço

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