domingo, 3 de outubro de 2010

CHUVA AQUI E MORTE NO VALE DO CAPÃO

Hoje amanheceu chovendo aqui em Lisboa e é a primeira vez desde que aqui cheguei. Parece que o outono resolveu, finalmente, dar as caras. Também está ventando muito. As bandeiras que festejam o centenário da república são vigorosamente açoitadas pelo vento que uiva alto na janela.
Ontem recebi a notícia da morte de D. Licinha, velha amiga e vizinha lá do Vale. Fiquei triste, por ela, pessoa que me gratificava o coração e também pelo que isso representa em termos de um passado que se vai e do número de histórias que se perdem. D. Licinha desempenhou um importante papel no lugar e não apenas por ter se casado com Seu Piroca, que durante largo tempo foi o “médico” do Capão. Ele tinha remédio pra tudo. Dizem que estudou medicina no sul do país, mas não completou o curso e voltando para estas terras começou a ajudar à população com seus conhecimentos, sem receber nada por isso. D. Licinha era sua esposa e dele enviuvou. Era uma mulher bastante viva e assim permaneceu mesmo depois que uma paralisia a obrigou a ficar em casa e na cama a maior parte do tempo.
Fico pensando na dor de alguns dos parentes. Digo alguns, porque sei que esse negócio de parentesco nem sempre é tão fluido como os costumes parecem indicar. A filha que mais cuidava dela, Luci, também conhecida como Bula, esta deve ter sofrido muito. Muito mesmo. Andréia sentirá saudade da avó. D. Argentina (não confundir com outra Argentina, que é viúva do Velho Anísio), também sofre, mas ela é que nem um anjinho, não sei se sente a dor do mesmo jeito como nós outros sentimos doer.
Embora nessa lonjura e com todo o Atlântico me separando dele, não esqueço do Vale do Capão que todo o tempo me toca. Quando escuto Sérgio Niza ou Assunção, que são educadores de competência e amor, falando dá-me a vontade que lá apareçam para conversar com os professores do Vale e da Chapada; quando vou a um museu penso no quanto seria maravilhoso se os estudantes das escolas pudessem estar comigo e por aí vai. Mas, com a notícia do falecimento de D. Licinha, o Vale tivesse entrado com mais força no quarto do hotel. Aqui está ele, tomando cada canto e fresta. Até o vento cortando o silêncio me traz os ruídos habituados aos meus ouvidos.
Como dizem as pessoas lá no Vale: “Que Deus a tenha”, D. Licinha.
Recebam um beijo, cada um de vocês que me lêem.
Aureo Augusto.

3 comentários:

  1. Grande Dr. Áureo.

    Estou sensibilizada com a sua sensibilidade (desculpe-me a redundância).

    Certamente o espírito de dona LIcinha já captou esta sua emoção. Estou escrevendo agora e ouvindo Era, um cântico Gregoriano e acabei me inspirando mais um pouco.

    Lindo de ler como vc carrega o Capão junto ao seu coração. Eu sou exatamente assim, com Cações. Uma ligação inexplicável e certamente espiritual.

    Este seu texto está carregado de uma densa neblina de saudades e até de uma certa tristeza pela partida de sua grande amiga, dona Licinha.

    Mas respire fundo, ore para ela e pense que logo, logo vc voltará para o Capão, para o lugar aonde vc certamente é muito mais feliz porque viajar é maravilhoso mas a melhor parte de uma viagem, é voltar para casa. A nossa casa, o nosso lar, seja ele aonde for e se for no Capão ou em Cações, melhor ainda...........rsrsrsrrs

    Receba um grande abraço de sua fan e leitora, daqui de Salvador.

    Jussiara

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  2. Estimado Dr. Aureo,

    Há um bocado de tempo fiz uma consulta com o sr. aqui em Salvador, na verdade,relapso que sou, não continuei o tratamento, mas quando o sr. voltar a Salvador irei vê-lo. Neste mundo tão materialista e imediato é sempre bom se ter alguma refrência de sabedoria, sensibilidade e competência.
    Felicidades do Dr. Aureo e um bom passeio.

    Alex Pereira
    Salvador

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  3. Olá Alex,
    Não esquente mto e não se veja como relapso. O mundo tem mtas atrações e pressões. É fácil sair daquilo que se considera o melhor, mas é possível retornar.
    Um abraço,

    Eh! Jussiara,
    Realmente a saudade tem sido forte. No momento em que estou escrevendo esta resposta ao seu comentário, já cheguei no Vale do Capão. Fiquei uns dias sem poder postar por problemas no computador. Gostei mto da viagem, mas estar de volta é uma alegria. Fui acordado com o canto das aranquãns, e o friozinho que tto me agrada está no ar. A vida é boa!

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