quinta-feira, 15 de setembro de 2011

KENNEDY SE FOI

Seu nome completo: Kennedy Tavares de Almeida. Penso que o exemplo de Sunna, minha filha, será um bom testemunho do que Kennedy representa: Conversávamos sobre a morte do meu amigo e ela me disse que o havia encontrado pouco na vida, algumas vezes e, principalmente quando, todavia era criança. No entanto sentia Kennedy como uma pessoa muito próxima, como uma pessoa da família, íntima. Manifestou então aquela espécie de sofrimento que temos quando descobrimos que nunca mais poderemos encontrar um ser particular e particularmente especial. Kennedy agora passou para o domínio dos sonhos, para o espaço do eterno, embora em nossos corações continue habitando da mesma forma que antes.
Uma vez consultando um colega médico, dei risada de um determinado sintoma que eu apresentava. Então ele me disse que enquanto eu risse de mim eu tinha cura. Kennedy foi um dos meus mestres nesta capacidade de rir de si e do próprio sofrimento. Homem dotado de integridade, não podia senão sofrer em um mundo desintegrado e muito sofreu, mas, paradoxalmente, era uma luz de alegria. Foi o Roberto Cunha quem me deu o aviso, com a voz embargada. Eu estava no meio de uma plenária da VIII Conferência Estadual da Bahia e no meio daquela confusão de vozes, votos e opiniões, lágrimas brincaram em meu rosto. No meio daquela vibração de decisões, algumas inadiáveis, mais uma vez o meu amigo veio honrar a minha existência com aquele seu jeito, sua voz aveludada, suas expressões faciais acompanhando cada palavra, dando-lhes ênfase, sublinhando verdades.
Quero contar uma coisa linda que se passou com ele. Teve um neto e por diversas razões foi levado a estar cuidando deste neto por largo tempo. A criança tinha-o como a referência mater, e chamava-o de pai. Um dia Kennedy (que ficava muito incomodado com ser chamado de pai pelo neto), sentou-se com o pequeno e fez-lhe uma longa preleção explicando que não era seu pai e sim seu avô, detalhando cuidadosamente (como bom advogado) o que é ser pai e o que é ser avô. E falou, falou, falou. A criança olhava-o com atenção focalizada e nem piscava. Ao final, satisfeito, Kennedy olhou para ele com aqueles olhos feitos de bondade e, certo de que sua arenga havia atingido o objetivo desejado, perguntou:
- Você entendeu?
Ao que a criança, plena de entendimento, respondeu:
- Sim papai.
Eu ri tanto disso, e ainda rio. Pena que vocês não testemunharam a cena, pena que não viram o rosto de Kennedy em cada uma destas etapas.
Amo Kennedy e não sou o único. Creio que tantos quantos lhe cruzaram o caminho morderam a isca da sua simpatia. Foi-se o meu amigo e seguramente repousa em plagas distantes. Ali, deve haver uma área gramada e uma horta, talvez umas búfalas vagando, pessoas conversando sobre as questões imprescindíveis às quais frequentemente deixamos de dar atenção, como a cor do céu, o ar doce aromatizado pelas flores, a mentalidade dos políticos amorfos, a textura do chão, o arfar suave do mar, as soluções inadiáveis para significar o mundo... Sei lá. Nunca há pouco o que falar com Kennedy, jamais esgotar-se-ão os seus assuntos. Roberto Cunha, Cybele e eu, Sunna, os seus filhos que ele amava desarvoradamente, a turma que fez parte dos velhos tempos de Lothlorien, os contatados durante o tempo em que foi o cuidador da revista Vivências, tanta gente. Aqui ficamos nós saboreando um silêncio impertinente.
Um abraço para todos, e um complemento: aqueles que não o conheceram saibam que perderam oportunidade áurea. Porém, o saber que gente assim esteve aqui, é lenitivo para os medos e as dores. Aureo Augusto.

7 comentários:

  1. Impressionante !

    Hoje cedo eu li que a filha de Ted Kennedy tinha morrido. Seu nome era Kara Ann.

    Meu olhar voltou-se para os fins dos anos 60, aonde eu me interessei de verdade por um Kennedy ou melhor, pela família Kennedy.

    Era fins dos anos 60 e eu lendo a revista Fatos e Fotos, vi a notícia que o filho de Ted, um lindo garoto que estampava a capa da revista, tinha amputada a perna devido a uma doença séria.

    Eu estava indo para Cações, ainda muito menina, no navio João da Botas e ao ler esta revista que minha madrinha levava para se distrair no vilarejo, eu a guardei por muitos e muitos anos.

    Depois dessa reportagem, eu passei a estudar a vida dos Kennedys intensamente, como se fossem da minha família. Foi uma busca intensa e emocional. Passei a conhecer todos eles, a saber detalhes da vida deles e amá-los e admirá-los. Minha fama pegou na cidade de Nazaré e eu virei uma referência em se tratando dessa famosa família americana.

    Os anos se passaram e tempos depois, descobrindo a Nova Era e sendo ajudada por esse movimento, eis que eu me vejo buscando terapias alternativas.

    Foi uma introjeção desse movimento atráves de músicas, especialmente Yanni e Enya, consulta com um certo médico naturalista....rsrsr, uma busca maior pela espiritualidade e a revista Vivências.

    Eu não passava sem elas e tenho todas bem guardadas.

    E claro, sempre que eu comprava a revista eu via o nome KENNEDY e sentia uma doçura, uma emoção que eu não consigo explicar. Amei este nome, não sei dizer a razão. E sofri com a desgraça de alguns deles, especialmente com a morte de John John.

    Meus sentimentos, caro doutor. Você deve estar triste, é natural mas sabe que certamente, ele está em algum plano bem melhor que esse.

    Receba um abraço reconfortante.

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  2. Verdade, Jussiara, estou bem triste com a morte de meu amigo Kennedy e com aquela sensação de que aproveitei pouco sua presença entre nós.
    bjs

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  3. Quando temos notícia de fslecimento de alguém que gostamos ou admiramos (nem precisa ser próximo: Senti muito o falecimento de Sergio Endrigo), somos tomados por um intenso sentimento de perda. É justo, a humanidade é assim mesmo, muito solidária mesmo que ache que não. Mas essa perda é irreal. Como diz a ciência: Nada se perde, tudo se transforma.
    A separação não é para sempre, é apenas uma pausa. Pode perdurar algum tempo a mais do que gostaríamos, é verdade, mas é inevitável que nos reunamos. O materialista pensa numa massa comum, de moléculas anônimas, mas o espiritualista visualiza cenas mais confortantes. E com razão: Se tudo se resumisse ao que se vê, qual seria o sentido de existir?
    Abraço solidário.

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  4. Grato, Tesco, por suas palavras que se harmonizam com meus sentimentos verdadeiros apesar da saudade.
    abração

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  5. Querido Áureo, hoje Edu (o pai de Kayan, o menino que chamava Sr. Kennedy de pai) e eu recebemos a triste notícia da morte desta pessoa tao especial que é/foi Sr. Kennedy. Estamos abalados e sem saber como tudo aconteceu. Estamos na Europa e falamos com ele por telefone qdo Kayan fez 18 anos, faz um mês. Agora, buscando por internet alguma informaçao, encontrei seu blog com este texto tao emocionante. Tive o prazer de conviver uma temporada com ele e aprendi muito, tínhamos largas conversaçoes, todas muito interessantes, nas quais alguma que outra vez saía seu nome. Sempre com carinho.
    Um grande abraço, que Ele descanse em paz e nós nos reconfortemos com a idéia de nao ter mais a sua presença física aqui neste plano.
    Tai

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  6. Puxa Aureo. Soube agora por Mary e fiquei muito triste com a morte do meu cumpadre. Sim! Batizou o pequeno Daniyel numa bela fogueira lá na fazenda Mirim, quando ainda não se tornara a comunidade Terramirim, fruto da doação e do desapego desse homem brilhante...
    Tanta coisa para falar. Coisas que "vivenciamos" juntos e que só uma fogueira para reunir e lembrar. Lembrar de Lothlorien, das Vivências, da Mirim e seus bufalos, do meu primeiro emprego na URBIS (foi ele quem me colocou lá!)... Haja fogueira!
    Mas, Mary acaba de chegar, olho para ela e a goela engole seco a lágrima sentida por um Ser que amamos. Mesmo que distante, sabia que ele estava lá. Vai continuar estando!
    Beijos cumpade! Beijos a meus queridos amigos!

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  7. queridos, tenho certeza que todos que conheceram Kennedy reconheceram nele esta beleza, ou melhor, estas belezas que vcs estão dizendo dele. O seu rosto se desenha em minha memória e é sempre com um sorriso terno.

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