domingo, 2 de outubro de 2011

O PARTO DE TERINHA

Foi logo depois do aniversário de Laura, que é uma menina impressionantemente sabida, filha de Cátia e Nininho aqui do Vale. A criança fez questão que eu fosse ao seu aniversário coisa que me deu orgulho e prazer. Na ida e na volta partilhei o prazer de dar carona a Dinha e a Terinha. Depois da festa, voltando pra casa, conversa vai conversa vem, elas me contaram um dos partos de Terinha.

D. Antônia estava adoentada e mandou Maria, sua filha para o parto. Maria não nega a tradição familiar de boas parteiras e procurou cuidar de Terinha como pôde, porém o parto se arrastou, demorou e então a parteira teve que lançar mão daquilo que conhecia para permitir que o processo chegasse a bom termo. O procedimento de passar azeite na vagina da mulher é bem conhecido e já tradicional, mas Dinha, que como toda a gente do Capão tem o dom de tornar as coisas engraçadas quando contadas, lembrou que acabou que Terinha ficou toda lambuzada de óleo, de modo que quando alguém ia sustenta-la para facilitar-lhe o trabalho, ela escorregava. Assim Dinha tentou muitas vezes, em vão, segurar Terinha para mantê-la agachada e assim facilitar a saída da criança. E Dinha me mostrava no carro como fazia e como não dava certo e Terinha, entre gargalhadas, ia confirmando e demonstrando também. Logo depois a parteira pediu a uma outra mulher presente que metesse o dedo na garganta de Terinha para que ela vomitasse, segundo ela forma infalível de expulsar a criança. Vai daí que Terinha tinha nojo da mulher, que para ela não era muito higiênica, e quando viu “aquelas unhas pretas entrando em minha boca” foi aí que o nojo bateu mesmo e ela vomitou de verdade, e então Dinha a parturiente se pendurasse em seu pescoço até que o cabrito pulou fora do cercado. Eu ri tanto que o carro interrompeu e fiquei alguns minutos só gargalhando, junto com minhas amigas.

O interessante é que o vômito pode vir a ajudar mesmo, na medida em que as contrações do diafragma aumentam a pressão intra-abdominal complementando a força das contrações, porém, exaure a mulher, sendo, portanto, melhor não usar este meio. Aliás, aqui no Vale antigamente, quando a coisa demorava um pouco se botava os mais variados temperos na vagina, em alguns casos até pimenta. Com isso o útero se contraía furiosamente. Em realidade a estimulação da parede posterior da vagina desencadeia contrações uterinas. Então o tempero, além de aumentar o apetite de quantos participem da coisa, pode contribuir com o parto, mas, por outro lado há que tomar cuidado porque o excesso (a pimenta por exemplo) de estímulo pode provocar edema de vagina o que prejudica o parto.
As práticas populares de saúde muitas vezes têm base fisiológica real, porque são fruto da observação. Uma vez, em conversa com a filha de W. Reich, Eva, obstetra que certa feita visitou a Bahia e quis conhecer parteiros daqui, ela me comentou que havia estudado e verificado o efeito positivo do uso de laxantes fortes para desencadear trabalho de parto nos casos em que a criança estava passando da época (gravidez serotínia). Ela confirmou a tradição de usar purgantes, como o óleo Jonas. Seu uso dá forte diarreia na mulher que logo depois entra em trabalho de parto, provavelmente porque os intensos movimentos dos intestinos acabam por estimular o útero.

Mas o melhor mesmo dessa gente boa do Vale do Capão, não é nem o que aprendemos com eles, e sim as gargalhadas que damos!
Em 2/10/11, recebam no nascedouro um abraço de Aureo Augusto.