sábado, 2 de junho de 2012

VISITANDO ENFERMOS - VIDA

Ontem, sexta-feira, como de hábito foi dia de visita domiciliar, quando vou à casa das pessoas que não têm condições físicas ou psíquicas de frequentar o posto. Faz parte das atribuições de uma Unidade de Saúde da Família, atribuição que muito me agrada. Na minha área de trabalho o sofrimento é uma coisa frequente, a dor e a tristeza participam de minha vida diuturnamente, mas também há momentos de grande alegria, quando, por exemplo, (e isso aconteceu nesta semana) um homem que até recentemente nunca vinha ao posto (porque achava que seu problema – hipertensão – era pra ser tratado em médico particular), após anos com a pressão elevada, depois de dois meses sendo cuidado pela equipe (sim, porque a forma como foi recebido por Wanessa, na recepção, por Marilza, na pré-consulta, cuidado por Rozeli, a agente comunitária, que, preocupada com sua pressão sempre alta insistiu para que viesse ao posto), os níveis tensionais normalizaram. Aprendeu que não basta a medicação, há que caminhar todos os dias, parar de comer temperos artificiais, adotando o alho, a cebola, o manjericão, a salsinha etc. que além do sabor, nos beneficiam com vitaminas e minerais, fatores anticancerígenos e melhoram a circulação ou reduzem a pressão. Vibro e vibrei com isso, vibramos juntos felizes. Alegrias e tristezas no dia-a-dia. Ontem privei com as famílias que visitei de momentos completamente díspares entre si. Estive com duas pessoas em grave estado de saúde, situação terminal. Em um dos casos, particularmente doloroso pelo fato de que se trata de jovem de 35 anos, naturalmente passando por momentos de intensa revolta, tristeza, saudade, angústia, desalento, raiva, choro convulsivo, lembranças agradáveis, dor e dor mais uma vez, como me disse: “não é bem uma dor, é um vazio aqui” e apontava para o tórax à esquerda. Também estive com uma mulher que acaba de sofrer curetagem por abortamento espontâneo; situação onde fica um gosto amargo de coisa que não se completou, que não se começou. Outro vazio. E a mulher já madura, olhando para o vazio e pele murcha, úmida e fria, balbuciando silêncios, enquanto a família na sala aguarda o momento de uma despedida sem lenços acenando ou promessas de retorno; logo mais, um vazio sobre o leito simples. Ao mesmo tempo, poucos metros depois, ali próximo, a vida celebrando outra instância. Na paisagem do tempo, neste novelo que é o tempo, onde as coisas se alcançam de alguma maneira, crianças sorriem ao Universo encarnado. Outras famílias tomadas pela alegria, completamente submetidas à graça representada por coisinhas ressonando silêncios ternos. Bichinhos aninhados em peitos fartos e doces. Olhares presos a frágeis talos de vida alçando-se da superfície daquele vazio onde o sentido perde-se de si. Estive com jovens casais iluminados pelo rosto de suas criancinhas ronronantes. Segue a vida em muita medida alimentando-se da autofagia do tempo. Recebam um abraço grato de Aureo Augusto em 2 de junho de 2012.

7 comentários:

  1. Bom dia, amigo. Belo texto para o meu início de semana.

    A vida como ela é. Quase posso ver o amigo caminhando por este lindo vale, cheirando o vento perfumado pela mata perfumada, visitando, acolhendo, cuidando e por que não dizer, curando.

    Voltei ao tempo, quando eu estagiei como Técnica de Enfermagem na minha minha querida Nazaré das Farinhas. O secular hospital que recebia a todos da cidade e da região, aonde aprendíamos o que Florence sonhou para se tornar uma enfermeira em excelência em atendimento e acolhimento, entre tantos afazeres, o que mais deixava feliz, era atender àquelas pessoas enfermas que vinham da área rural da cidade. E como o senhor vivienciou e vivencia, a dor da partida, a alegria da chegada dos rebentos recem-nascidos e a cura de muitos, o sorriso vincado naqueles rostos experimentandos pela vida dura e gratidão, de coração, a nós pelo acolhimento.

    São cenas que vão me acompanhar e já estão carimbadas no meu Perispírito.

    Receba um abraço curador. Abraços

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  2. Querida Jussiara,
    nós que trabalhamos com a saúde temos ótimas oportunidades para meditar sobre a vida. Há, ademais, prêmios, mtos prêmios psicológicos durante nosso labor.
    Para mim a coisa é melhor ainda, pois trabalho aqui, neste paraíso.
    bjs

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    1. Viver neste paraíso, no seu paraíso que lhe foi concedida a Graça de poder morar aí com a sua família. Amigo, ajoelhe-se e agradeça a cada minuto aí.

      Tenho pensado muito, a todos os instantes, de uns tempos para cá, de ir passar uma lonnnggaa temporada em Cações.

      Tão perto, tão longe de mim. Sou provinciana, sou interiorana, sou intimista. Não nasci para ficar em grandes capitais, especialmente a nossa, que a cada dia me assombra.

      Anos atrás,você me disse que minha personalidade era de um arroio, não um rio grande mas um riachinho que apesar de pequeno, nunca ficaria parado mas também nunca seria grande. Vc me disse isso na minha primeira consulta e eu nunca esqueci este seu olhar sobre a minha personalidade pois você acertou em cheio...rsrs

      Ainda penso em pegar algum viés do meu antigo curso de Téc. Enfermagem e sei lá, de repente, buscar alguma formação em Qualidade de Vida e Bem-Estar, ligados às questões de Saúde Pública ou então, virar Contadora de Histórias, estimulando leituras. Já pensei também em ensinar Danças mas ainda preciso aprender...rsrrr formalmente.

      Para qualquer caminhada, é preciso dar o primeiro passo. E eu já estou dando (o passo..rsrr).

      Disponibilizei uma parte do meu tempo livre para ajudar uma Ong em uma comunidade super, mega, hiper carente, nos arredores de Cações, que vem atuando na área de Educação Ambiental e engloba vários projetos sociais.

      Enfim....Estou ou melhor, estamos, eu e marido, com muito mas muita vontade mesmo de já começarmos a vivenciar estes projetos que á anooosss acalentamos em nossos corações.

      Sei que Cações é um vilarejo, um lugarejo com problemas e também com soluções à vista.

      E com as Graças Divinas Espirituais da Luz Celestial, vamos sim, colocar os nossos desejos na pauta dos Realizados. Assim esperamos.

      E começar logo pois como escreveu Amir Klink: "o meu maior medo foi o de não partir" quando ele resolveu fazer a a travessia do Atlântico, rumo ao Brasil, em seu livro Cem Dias Entre o Céu e o Mar.

      Então, o que achas disso, caro amigo Áureo?

      Abraços

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  3. O momento chega. Nos últimos dias tive que dizer a mesma frase a duas pessoas que amo. Ambas se queixaram de que "perderam o bonde". Deixaram passar uma oportunidade, deixaram de tomar a decisão certa no momento certo. Disse pra elas: O bonde passa de novo. Sei disso pq já perdi o bonde inúmeras vezes!
    Fico feliz com a vontade de vcs dois. Tomara sigam o coração e assumam uma vida que o ser de vcs e que vcs são está pedindo.
    bjs

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  4. Oh....que belas e encorajadoras palavras, amigo Áureo. Estamos sim, seguindo os nossos corações e o bonde passa sim, inúmeras vezes. As vezes, não o perdemos mas sim, optamos em não tomar o bonde porque ainda não estamos prontos.

    Abraços..Tenha um dia abençoado de bençãos.

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  5. Caro Dr. observe... tá faltando um membro na sua equipe da USF!!! esqueceu de mim, homemde Deus? seu motorista Ze Alfredo!!! Estou aguardando sua convocação. Quero aprender mais da suas Licões de vida. Seus passaporte já está carimbado... Lembro-me o quanto é humilde... aquele milagre da Lavrinha, qdo aquela sra. foi visitada mas, seu passaporte não tinha ainda recebido o carimbo, para viajar!!! Lembra do que você Dr. fez??? Você é um dos ESCOLHIDOS do grande MESTRE... sinto saudades... Ass.: seu motorista, Zé Alfredo/Barreiras.

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