Primeiro o vento derrotou todas as possibilidades de o dia
surgir em silêncio. Depois ele mesmo, ruidosamente, permitiu um frio, ou
melhor, ajudou o frio a penetrar os ossos dos seres viventes, fundir em tremor
árvores e pássaros que quedaram mudos ante o assombroso do tempo cinza.
Já alto é o dia, mas os pássaros, ao contrário dos seres
humanos, recusam-se o pipilar e o trinado. Ajustam-se aos limites dos ninhos.
Inquieta a humanidade parte ao labor, enxadas, pás, ancinhos
e machados tornando frio em suor, nuvens chumbo em verde horta.
Assim somos nós, os humanos, um povo dotado do dom da
construção de novos modos. E este dia frio e ventoso, quando as pontas de meus
dedos pedem o calor dos cobertores, me faz estar aqui, matinalmente a escrever
esta pequena ode à atividade desta raça inquieta.
Enquanto avançava através da neblina, divisava o caminhar
dos meus vizinhos encolhidos por entre as nuvens, mas caminhando à labuta,
suaves, sem pressa, mas certos do próprio destino. E admirei-os. E a mim.
Vai daí que escrevi esta ode ao que somos, e somos, entre
outras coisas, nem sempre tão boas, mas somos iniciadores de possibilidades,
construtores de futuros, aliciadores de sonhos.
Recebam um abraço de Aureo Augusto