A festa de São Sebastião é para o Vale do Capão um dos momentos
mais fortes das celebrações religiosas. O São João e os festejos de Cosme e
Damião são os concorrentes. Este último tem se fortalecido nos últimos tempos.
Mesmo nos momentos mais difíceis da comunidade, quando a maior parte das
pessoas se haviam ido para Goiás, Mato Grosso e, principalmente, São Paulo, e as
dificuldades financeiras alcançaram o ponto alto, mesmo naqueles duros momentos,
a festa acontecia com a concorrência de muita gente. Era o momento em que
muitos emigrantes retornavam para rever familiares e trazer novidades de outras
plagas.
Agora, noto que há certo esmorecimento. Antes era um orgulho
para qualquer morador ser escolhido “festeiro”,
hoje muitos fogem da honraria. Alguns, como Fafá e sua esposa Bibia, desejaram
e assumiram com alegria, outros se esquivam. Mesmo assim, nos últimos anos a
festa vem num crescendo de beleza. Neste ano, os festeiros brilharam. O casal
Neide e Robertinho, e também Fabiana e Dió (agora não me lembro do outro casal
quem é) estão cuidando de cada detalhe com um carinho que só podia dar no que deu:
Uma festa linda. Tivemos muito forró, muita procissão, muita comilança, fogos,
tudo bem organizado e saboroso. Hoje termina com a última procissão, teatro com
a história do santo etc. e, a grande expectativa, quais serão os próximos
festeiros?
Mas dizia que noto um esmorecimento. Este, assim me parece,
tende a atingir os rituais oficiais da igreja católica. Aqui não temos padre. Este
atende a diversas localidades e se divide para atender às necessidades de seu
rebanho. Já outras atividades religiosas que tendem a ser menos dependentes de
uma autoridade remota, como os festejos de Cosme, sincréticos e autônomos,
crescem exponencialmente. A Congregação Cristã no Brasil, que é o grupo
evangélico mais antigo por aqui, mantém-se firme, com um regular aumento de adictos.
Todos notam que aqueles rapazes que, por um ou outro motivo, não conseguem uma
noiva, entram para a congregação e logo estão casados. Esta é uma das causas do
crescimento, mas também, há uma atividade constante, um ir e vir entre as
casas, encontros frequentes, onde se reforça mutuamente a fé e a decisão de
dela participar. Esta igreja evangélica também tem a vantagem de não ser
codiciosa e não explora economicamente seus fiéis, o que é grande virtude,
neste mundo onde os milagres são fonte de renda para líderes religiosos.
Do ponto de vista religioso, os jovens frequentam o face
book com ardor dos novos conversos, da mesma forma como na minha juventude ser
marxista era a religião da moda. Os rapazes e as moças parecem que entendem
automaticamente o funcionamento de tablets, smartphones, laptops, net e coisas
assim. Seus caminhos agora tendem a ser menos os caminhos do garimpo na serra,
ou as trilhas para Palmeiras e Lençóis com vistas à feira, e muito mais, as
navegações virtuais.
Velhos e jovens se misturam nas festas e nos cultos, mas
seus caminhos já não são os mesmos. Onde será que tudo isso vai dar?
Recebam um abraço observador de Aureo Augusto