quarta-feira, 20 de março de 2019

REFRIGERANTES ZERO!



Será que você sabe o que é hemoglobina glicada (ou glicosilada)? Existe a possibilidade de seu médico já ter solicitado este exame, mas pode ter se esquecido de te explicar o que é.
O diabetes é uma doença bandida! Ela pode entrar em nossa vida de uma forma insidiosa, escondida, silenciosamente e, de repente somos surpreendidos. Aqui no Vale do Capão (na zona rural de Palmeiras-BA), onde resido, havia um senhor que jamais ia no posto de saúde. Ele tinha uma saúde de ferro, como dizia. Um dia passou mal e quando o examinei encontrei a glicemia (índice de glucose – um açúcar – no sangue) elevadíssimo. Estava a ponto de entrar em coma. O quadro era tão sério que fui obrigado a manda-lo ao hospital. Foi assim que ele conheceu o diabetes.

Mas muita gente vai no posto para verificar a glicemia e fica satisfeita porque o exame dá entre 95 e 105 mg/dL. Considera-se normal até 99. Até 129 é pré diabético, ou seja, ainda não está com a doença. No entanto, quando qualquer pessoa sabe que irá fazer o exame, inconscientemente tende a reduzir o consumo de açúcar no período anterior e assim “enganar” o médico e, mais ainda, a si mesmo. Esse engano não é intencional, mas pode ser problemático.
É por isso que costumamos solicitar a hemoglobina glicada. Ocorre que o excedente de açúcar no sangue se combina com a hemoglobina, uma molécula presente em certas células do sangue, as hemácias ou glóbulos vermelhos – ou seja, glicosila a hemoglobina. A hemoglobina tem o papel essencial de levar oxigênio para todas as células do corpo. Mas quando ocorre isso, a molécula perde a função. Aí você fica sem oxigênio em suas células. Por sorte isso não acontece com toda a hemoglobina, se isso acontecesse ia ser horrível. Ocorre que além disso este exame não depende do que você comeu nos últimos dias e sim pode lhe dar o valor aproximado médio da glicemia nos últimos 3 meses – não dá pra enganar, hehehe!

Considera-se que quem apresenta um índice de hemoglobina glicada acima de 7% é diabético e carece de cuidados imediatos. Entre 5 e 7% há que cuidar-se.
Alguém pode pensar que trata-se de um percentual baixo. Porém fique ligado, pois não é só 7% da hemoglobina que está glicosilada, mas também o mesmo percentual das proteínas presentes no cérebro, nos nervos periféricos, nos rins e assim estas estruturas começam a falir. Pode ver entre aqueles que padecem de diabetes como se queixam de dores nas pernas (por causa da glicosilação das proteínas dos nervos), e aumenta a possibilidade de ter problemas renais. Isso sem falar que pessoas diabéticas têm 50% mais possibilidade de desenvolver doença de Alzheimer. Percebem o perigo?
E sabe o que é pior? A maior parte das pessoas com diabetes apresentam o tipo II, que está intimamente relacionado à alimentação. Isso é algo terrível, pois nós não dos damos conta de que o diabetes, via de regra, não é uma condenação divina, mas isso sim, é resultado de nossos hábitos.

A Organização Mundial de Saúde divulgou há 2 anos que a maior causa de diabetes II no mundo são os refrigerantes. Isso me assusta. Hoje os pais compram refrigerantes a rodo. Vejo os carrinhos de supermercado até aqui mesmo no Vale do Capão, em que pesem as campanhas que fazemos no posto. Em outros povoados que visito a situação é muito mais grave. Mas o que fazer?
Não é muito... basta parar de tomar refrigerantes e preferir comer frutas. Ocorre que a fibra presente nas frutas (e nos cereais integrais – como o arroz vermelho que encontramos nas feiras aqui da Chapada – e nas hortaliças, feijões) impede que o açúcar nelas presente “invada” bruscamente o sangue, apresentando índice glicêmico elevado.

Hoje temos achocolatados (que tem mais açúcar do que cacau), refrigerantes, bolachas, biscoites, bolos industrializados repletos de açúcar a preços baixos. Mas depois fica caro a perda da saúde, e os custos sociais e econômicos da doença.

Então, meu amigo ou amiga, ponha atenção na sua glicemia, mas o melhor mesmo é basear sua alimentação em frutas, hortaliças (legumes e verduras), cereais integras, leguminosas (feijões), deixando de lado, ou comendo o mínimo possível, arroz branco, pão branco, quindins, doces, balas, achocolatados etc. Não compre refrigerante para seus filhos (e também pra você, claro!).
Sonho com uma campanha a se chamar: REFRIGERANTES ZERO! Mas quem vai pagar? A indústria? Não, pois cabe a nós, leitor e leitora, tomar a saúde em nossas mãos.

Recebam o meu abraço,
Aureo Augusto
Médico da USF de Caeté-Açu
Cidadão benemérito de Palmeiras-BA
Comendador da Ordem do Mérito Médico Nacional