quarta-feira, 30 de setembro de 2009

CONGRESSO NACIONAL E DEMOCRACIA

Recentemente recebi um e-mail com este conteúdo:
"O Congresso Nacional é um local que: se gradear vira zoológico, se
murar vira presídio, se colocar uma lona em cima vira circo, se colocar lanternas vermelhas vira prostíbulo, e se der descarga não sobra ninguém”.
O triste é que há bastante verdade nisto. Mas há também existem riscos nesta avacalhação. Podemos confundir a qualidade das pessoas ali presentes com a democracia e, também podemos esquecer que naquela casa existem pessoas decentes, conquanto não sejam a maioria.
Notem que uma parte dos congressistas era aliada do regime militar que ditou as regras do jogo político em nosso país. Para eles, o nome do congresso pode ser jogado na lama, pois isso ativa naqueles que têm pouca memória o desejo de um regime forte, de direita, que teoricamente acabe com a lambança suposta ou realmente generalizada. Outra importante parcela dos congressistas tem pouca claridade quanto ao que é e como é democracia e, na realidade, não se sentiria constrangida no caso em que nosso país fosse acometido por um regime forte de esquerda. Uma ditadura dominada por um partido único, que não admitisse oposição, como na China ou na ex-União Soviética seria desejável para estas pessoas, desde que eles estivessem no partido dominante. Daí não se espere da maioria dos deputados e senadores uma postura em que a casa que eles freqüentam fique acima de qualquer suspeita.
Por isso, caro leitor, não espere que nossos representantes no Congresso Nacional (salvo algumas exceções honrosas) estejam real e efetivamente preocupados com isso ou aquilo que esse ou aquele dos seus membros pratica de imoral, ilegal, irregular. Enquanto nós, aqueles que acreditamos no regime democrático, queremos um congresso forte, capacitado a apoiar e a confrontar o poder executivo, preparado para legislar pelo bem comum, os deputados e senadores não entendem a necessidade disso. Importa, isso sim, que estejam no poder, pois, dessa maneira, arrancam nacos do erário público, ou locupletam-se com as benesses que o poder proporciona. Quando ficamos horrorizados com absurdos inadmissíveis como o Jetom, com combinações e maquinações secretas, eles apenas ficam constrangidos porque foram apanhados com a mão na massa. Tal qual o ladrão contumaz que foi apanhado roubando galinha. O problema para ele, não é a própria honra ou coisa parecida, é que a partir daquele momento ficou marcado e pode ser que os vizinhos fiquem de olho. Contará apenas com a memória falha dos observadores para poder aproveitar os descuidos. É muito triste ver as coisas deste modo, que é o mais realista. Os nossos representantes no poder legislativo, infelizmente são, na melhor das hipóteses, despreparados. Nos municípios, nos estados e no nível federal. As exceções existem, mas apenas confirmam a regra, segundo a qual, toda regra (menos esta) tem exceção.
Ainda não nos acostumamos com a democracia. Neste sistema a nação pertence a cada um de nós. Somos nós que legislamos pelo bem de todos. Como o país é muito grande (bem como sua população) não é possível que cada um de nós freqüente o Congresso. Por isso elegemos os nossos representantes. Estes deveriam postar-se ali não como defensores do próprio emprego e sim como arautos de soluções para nossas necessidades comuns. Porém, o próprio processo de eleição está sobrecarregado de ranço clientelista, tornando-se um toma-lá-dá-cá, onde a compra de votos ou a negociação de vantagens toma o lugar da discussão de princípios ou de programas. A atividade política em nosso país ainda é excessivamente conspurcada pelo jogo de interesses pessoais. Isso dá margem (entre cidadãos incautos) a desejos fantasiosos de que surja um personagem forte, bom e santo, que liderará as massas e as conduzirá ao paraíso. O paraíso não existe. Existe apenas a nossa responsabilidade pessoal. Hitler, Mussolini, Pol Pot, Lênin, Stálin, Perón, Napoleão Bonaparte, Napoleão III, Idi Amin… estes são alguns exemplos de nosso passado triste. O que eles têm em comum? Muitas promessas e milhares ou milhões de mortos. Justiça, talvez no início, em alguns casos, depois, o de sempre; os aliados do ditador dividem entre si o melhor, mas poucas vezes participam do sofrimento da grande maioria. O salvacionismo, como o sebastianismo, é sempre para as massas, e, como sabemos, as massas são para serem conduzidas. Gado, alcatéia, cardume. Seja para sair a matar, seja para correrem desesperados sem direção; a massa não pensa, e é fácil de dominar (e assustar); basta encontrar alguém em quem por a culpa (com justiça ou não) e em quem descarregar a raiva. O remédio para isso é educação e democracia.
Vivemos uma democracia. O dito acima mostra que não tenho fantasias quanto ao caráter daqueles que nos representam. Mas isso não me deprime. O processo é este. É assim que as coisas acontecem. Trata-se de uma educação. E educação é aos poucos. Devagar as pessoas vão aprender que quem compra voto quer de volta o que gastou com grande lucro, quem hoje rouba aproveitando-se das vantagens do poder, amanhã roubará muito mais. Aos poucos nós os brasileiros iremos tirando os votos daqueles que não os merecem.
Meu voto é caro demais para ser comprado. Tão caro que só pode ser dado, e escolherei com cuidado quem receberá este presente, que é uma procuração. Não votarei nos vereadores, deputados estaduais ou federais e senadores que não merecem minha confiança, que estão envolvidos com situações escusas. Eles são em grande parte os responsáveis pelas dificuldades que eu mesmo enfrento no dia-a-dia de estradas esburacadas, excesso de imposto, criminalidade etc.
Há uma campanha correndo a internet, solicitando que mudemos a cara do Congresso. Muito bem. Estou nessa. Não vou votar em quem não merece minha confiança. Não vote em quem você não confiaria sua carteira. Vamos mudar o Congresso!
Em 28/9/09

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

COSME DAMIÃO NO VALE

Ontem foi dia de Cosme e Damião aqui no Vale. É uma das festas mais bonitas daqui. Tenho certeza que se você visse ia ficar encantado. Na Bahia é um momento importante, porém no Vale do Capão não temos a tradição das comidas com dendê. Vatapá, Caruru, Acarajé até bem pouco tempo eram desconhecidos pela maioria do povo daqui. Por isso embora tenhamos a tradição das crianças sentadas comendo, das músicas e do batuque, da distribuição de comida, a comida é a do dia-a-dia, acrescido de mais algumas iguarias. Arroz, feijão, frango, salada, estas coisas... Agora, depois que as estradas estão melhores e que o Vale está tendo mais contato com Salvador, acrescenta-se ao habitual as comidas típicas da Bahia. Mas, o que impressiona é a fartura. É uma festa de fartura. Não importa quem chegue, local ou estrangeiro, rico ou pobre, todos recebem um prato de coculo, como se diz. Em dado momento, no Cosme de Beli, escutei uma fala hispânica dizendo para outro que não conseguiria comer tudo aquilo que estava no prato. A resposta do companheiro foi que realmente era muito rato para pouco gato. Achei a expressão interessante.
Neste dia a hospitalidade do Vale, que já é muita, se exacerba. É de uma beleza pouco comum.
Devo registrar que Beli tem uma revoada de belas filhas cujas vozes são maviosas. Ao final da cantoria elas começaram a cantar uma música dos Beatles cuja letra foi adaptada aos fins religiosos da festividade e no final fizeram um coro bem suave enquanto a comunidade presente rezava o Padre Nosso. Foi um momento muito especial de extasiante beleza, quando me vieram lágrimas aos olhos. Notei que várias pessoas choraram de emoção.
Partilho com vocês, pois quem sabe possam vir no próximo ano partilhar com esta gente tão boa do Vale o precioso momento.
Um abraço, Aureo Augusto

sábado, 26 de setembro de 2009

O PEIXE-BOI, O MISTÉRIO E O MEDO

Queridos amigos,
estou de volta! Foram férias pequenas, mto pequenas, porém deliciosas.
Eis um texto que escrevi para partilhar uma das experiências:
Tive uns dias de férias e fui passear na beira do mar. Cybele e eu rumamos para uma praia ao norte de Maceió, Porto da Rua. Vou dizer uma coisa: Conheço um bocado de praia, da foz do Chuí a Fortaleza; também conheço algumas praias nas margens do pacífico, no Chile, mas não conheço cor de mar mais linda do que aquela no mar de Alagoas. Na praia da Penha (Ilha de Itaparica) ou em Guarajuba, na vazante, há equiparação, mas não dá pra ganhar. Antigamente quando viajava para aquele estado, ficava em uma linda localidade chamada Pontal do Coruripe, que infelizmente vem sendo dilapidado pelo turismo incoordenado. Ademais, em Alagoas o movimento por uma alimentação saudável é pouco vital, tanto é que se você agora chegar no shopping Maceió, que é grande, e procurar suco natural, não acha. Tudo é polpa. Muitas vezes, em Pontal procurei salada e terminei no tomate com cebola. Algumas vezes dei de cara com alfaces cujo aspecto era terrível. Só com muita coragem pra comer. Tudo mudou quando conhecemos uma pousada em Porto da Rua, a Amendoeira, sita em uma praia afastada da vila, sumamente bela, lastrada de peixinhos coloridos, onde mais do que tomar banho de mar, nadamos nas cores. O lugar é demais! Luz, tranqüilidade e, pra quem quer, comida natural, muito gostosa, com atendimento impecável: Excelência sem afetação ou distanciamento.
Mas o ponto alto de todo o passeio foi um encontro maravilhoso com um bicho muito simpático: O peixe-boi. Há uma família, mas só conhecemos um dos moradores de um rio próximo que são o foco do excelente trabalho de proteção que o IBAMA vem fazendo ali. O rio é cuidado inclusive pelos pescadores que antes adorariam detonar o bicho, mas agora ganham com os visitantes (as visitas são controladas) que querem dar uma olhada nele. São vários, mas só vimos um: Poti. Um jovem simpático e curioso. Quando chegamos perto com a jangada ele, que estava almoçando aproximou-se e fixou em nós seus pequenos olhos, para desespero do jangadeiro, que tinha que (por lei) manter-se a 10 metros de distância.
Sabem? Há um mistério em nossa relação com os demais seres. Há alguns dias encontrei um cajueiro cujo tronco era diferente dos demais. Fiquei algum tempo descansando minha alma na contemplação da luz distribuindo-se pelos seus ramos. Naquele momento contatei o mistério. Mas não sei dizer o que é. É uma alegria, mas também é um silêncio. Foi assim com o peixe-boi. Certas coisas na natureza nos aproximam de uma algo que só sei chamar de Mistério. Nós, seres humanos, em muitos momentos temos medo daquilo que não sabemos, em parte é essa a razão deste nosso insaciável desejo de conhecer. Apenas em parte. Em realidade, conhecer (mas não apenas analiticamente) é intrínseco a nossa natureza. Mas há o Mistério. A questão é que somos o Mistério e de vez em quando fenômenos externos a nós (se é que os há, ou, dito melhor, se é que há sentido em se definir interno e externo) anunciam-nos que existe algo que não podemos enquadrar nos nossos esquemas cognitivos. Na Inglaterra, quando a revolução industrial ofuscou as mentes com as suas maravilhosas conquistas, houve um momento em que era moda derrubar seculares árvores. Ali se optou pelos esquemas elaborados por uma cognição encantada consigo mesma. O medo do desconhecido prevaleceu.
Chaplin disse que “a vida pode ser bela quando não há medo”. Infelizmente a ciência se desenvolveu em um mundo onde o medo era a tônica (e a religião soube – e sabe – usar isso em proveito próprio). Como poderia escapar do medo? Como escaparemos do medo?
O peixe-boi naquele lugar e naquela situação é uma resposta. Uma de muitas.
Fico feliz de estar de volta “conversando” com vocês. Aureo Augusto.