segunda-feira, 11 de abril de 2016

DOS NOMES DAS PESSOAS NO VALE E DOS REMÉDIOS E SUAS CORES E JEITOS

O nome dela é Maria, posso dizer sem preocupações éticas, mesmo sem pedir permissão, pois aqui no Vale do Capão é tanta gente com o nome Maria que não é possível encontrar ninguém com apenas essa pista. Temos Maria da Conceição, da Glória, do Amparo e da Paixão... pra não falar de Aparecida, das Dores, Emília e tudo o mais. As Marias, nas fichas do posto de saúde ganham longe pros Antônio, José, Raimundo e mesmo para os Sebastião que é o nome do padroeiro do lugar. O nome Sebastiana não tem como contar já que os pais homenageiam o santo, mas fico besta de ver Célia (que todos chamam assim, mas na verdade é Sebastiana), ou Antônia, ou Emerenciana, ou Neuza (tudo Sebastiana).... Fico pensando no porquê de botar um nome para fazer a homenagem ao santo e depois desmerecer chamando por outro nome que nada tem a ver com o original. Mas assim é, e se é, está feito e não vai ser eu a mudar o costume que não é nenhuma ruindade demais.

Mas comecei a conversa por outra coisa e desandei por outro assunto. Volto:

Pois bem, a Dona Maria em questão, uma senhorinha muito deliciosa com sua carinha de passa de uva, terna no jeito de falar, ela me veio pedir uma receita de Hidroclorotiazida, que já usa de um tanto de tempo porque tem hipertensão e já de outras eras lhe foi receitado por um médico.

Mas ela me explicou que queria uma genérica, mas de uma marca específica. Nem tentei dizer que todos são Hidroclorotiazida 25mg, que o governo fornece, bastando ir na farmácia com os documentos e pronto. Não tentei porque já havia tentado com outras Marias e outros José e João e Sebastião e eles não querem acordo. Me dizem: “Sabe dotô, o qui é bom mermo pra mim é aquele vermeinho”. Já tentei explicar que a cor depende da fábrica, mas a substância é a mesma. Não adianta. Não tem o que discutir. Apenas tentar descobrir onde encontrar o vermeinho, ou o da caixa pequena e gordinha...

Seguramente há algo por detrás disso, talvez alguma espécie de efeito placebo (que não é algo desprezível, já que pode desencadear a competência orgânica de resolver-se a si mesmo) ou de simpatia – tanto no sentido comum, mágico, quanto no sentido de que desperta uma afinidade que pode potencializar seu efeito.

Talvez algum dia alguém mais preparado do que eu se disponha a estudar estas preferências e quiçá descubra algo bem interessante e útil nessas escolhas. Por enquanto, já fiz a receita de D. Maria e acrescentei uma observação para a balconista da farmácia, indicando que ela quer aquele específico, pois me agrada vê-la feliz.


Abraço de receita certa pra vcs de Aureo Augusto.

segunda-feira, 4 de abril de 2016

LUZ

Uma casa no meio do mato, uma luz acesa na varanda apesar de todos já ressonarem em seu interior silencioso. Tudo breu, escuridão total e a casa, uma ilha de luz.

Um dia olhei o mapa do mundo, uma foto feita lá do espaço, era noite e o mundo estava repleto de lugares luminosos, faíscas e rios, caminhos feitos de vagalumes elétricos bordejando o mar, imiscuindo-se pelas imensas áreas interioranas dos lugares aonde fazia-se isso possível.

Mas em vastas áreas ainda imperava a noite. Fundas áreas vazias das estrelas minúsculas criadas pelos seres humanos. Pensei comigo mesmo em quando não houver mais áreas vazias de luz. Perguntei-me se naquele então seremos todos iluminados.

Será que nosso afã de iluminar a noite não passa pelo nosso desejo de iluminar-nos a nós mesmos?

Mas será que quando o mundo esteja completamente tomado pela luz elétrica nós um dia apagaremos todas as luzes no são desejo de encontrar a nossa escuridão e o nosso silêncio?

Sim, porque como seremos nós mesmos, inteiros, sem a escuridão que nos habita? Buscamos, mesmo sem o perceber, a inteireza. Talvez naquele dia em que a Terra resplandeça no Universo a humanidade queira voltar a ser inteira, se é que algum dia fomos íntegros.

Os olhos se cerrarão permitindo que o dia durma fazendo a noite dos seres sem forma que habitam a nossa alma ditosa de si quando plena.


Em 3/4/16 recebam um abraço luminoso de Aureo Augusto