Durmo e acordo sobre uma linha e me perco cada dia. Nem
queria tão pouco e, mais ainda não queria viver assim tomado pela paixão de
cada coisa, não pelo querer, sim pelo desavisado não usar da vontade, pois as
coisas se põem e nem sempre nos pomos para elas com a nossa vontade. A vida
resvala tão mais rápida do que quer meu coração e tão sem que eu saiba como,
por que e onde...
Durmo e acordo sobre o plano do tempo enquanto doo meu tempo
para que o tempo passe, aí as pessoas brincam de meu coração ama-las, mas não
as amo todo o tanto nem tanto o quanto há de amor no meu coração, não que
falte, mas porque mais do que falta há aquela distância que nem sempre sei
traspassar. Às vezes de quando em vez acontece aquela senhora idosa, ou a
mocinha perdida, a criança de olhar sapeca, cada olhar de uma dada mulher ou
por um tempo beijos e abraços que se converteram em silêncio, o bebê me
beijando com seu olhar impossível, o homem bravo escondendo o medo, a árvore
anunciando-me o nada, a brisa me dizendo da carícia divina, os pássaros com o
cantar de bigorna que me saúda a manhã quando o frio da água do rio cedo faz de
pele à pele. Queria eu que esse acontece não desacontecesse na memória falsa
das coisas que não significam, mas fingem.
Todos os fins-de-semana noto que o tempo voltou. Aí me
encontro novamente sentado em cima da vida dentro da mão que sem existir criou
tudo e acaricia a mim com o todo, como ao Todo.
Pode que o sol lamba as faldas da serra assolando-a de calor
ou que a chuva brinque de saquear as margens dos rios de sua secura, o riso
quem sabe ostente-se em dentes claros à espreita de olhares coniventes ou
lágrimas brotem fecundando almas de compaixão. Pode que a vida interrompa-se no
arfar da dor ou não, que o arfar seja de um recém-nado que emergiu do canal
aveludado de sua mãe e todos sorriem acreditando que o tempo parou em
celebração da nascitura vida.
Tantas coisas ao meu redor dispostas apenas para que eu
possa ama-las, e, aprendiz, nada mais faço que abrir as pétalas da minha alma
em busca de um dia saber.
Recebam um abraço desacontecido de Aureo Augusto.