Seu Edilsinho é uma pessoa bem interessante. Muitas vezes me
surpreendo com a forma com a qual encara, explica e se relaciona com o mundo. É
como se fosse feito de uma matéria bem antiga, e sua pele idosa, marcada pelo
tempo, a casca de uma árvore já sofrida pela ação das intempéries. Uma árvore
ali, no meio dos caminhos que o povo estabeleceu secularmente para a facilidade
dos transportes.
Foi assim que na última consulta ele me explicou algo a
respeito de certa medicação anti-inflamatória que ele se automedicou,
referindo-se à Nimesulida.
“O remédio né pa sará não, é pra tanger. A dor do espinhaço
foi pras perna. Ela não sarou foi tangida pras perna”.
Para ele a dor ou a doença, ele se diagnosticou com
reumatismo, é como gado, tem uma percepção destes fenômenos como sendo eles
elementos vivos, materiais... Ele comenta coisas a respeito do seu suposto ou
real reumatismo como se estivesse dizendo de uma pessoa com suas características
de personalidade peculiares.
Indago e indago, pergunto várias vezes a ver se penetro o
sentido desta alma, feita de pedra e lodo, organizada de um modo ancestral
laborado em um tempo onde a chuva era mais frequente e as mães viam sua prole
desaparecer na névoa de um tempo muito duro, onde os mitos que organizavam a
existência, assim me parece, escapavam o comum dos demais lugares, tal o
isolamento em que nasceram.
Recebam um abraço mítico de Aureo
Augusto.