Seu Edilsinho é uma pessoa bem interessante. Muitas vezes me
surpreendo com a forma com a qual encara, explica e se relaciona com o mundo. É
como se fosse feito de uma matéria bem antiga, e sua pele idosa, marcada pelo
tempo, a casca de uma árvore já sofrida pela ação das intempéries. Uma árvore
ali, no meio dos caminhos que o povo estabeleceu secularmente para a facilidade
dos transportes.
Foi assim que na última consulta ele me explicou algo a
respeito de certa medicação anti-inflamatória que ele se automedicou,
referindo-se à Nimesulida.
“O remédio né pa sará não, é pra tanger. A dor do espinhaço
foi pras perna. Ela não sarou foi tangida pras perna”.
Para ele a dor ou a doença, ele se diagnosticou com
reumatismo, é como gado, tem uma percepção destes fenômenos como sendo eles
elementos vivos, materiais... Ele comenta coisas a respeito do seu suposto ou
real reumatismo como se estivesse dizendo de uma pessoa com suas características
de personalidade peculiares.
Indago e indago, pergunto várias vezes a ver se penetro o
sentido desta alma, feita de pedra e lodo, organizada de um modo ancestral
laborado em um tempo onde a chuva era mais frequente e as mães viam sua prole
desaparecer na névoa de um tempo muito duro, onde os mitos que organizavam a
existência, assim me parece, escapavam o comum dos demais lugares, tal o
isolamento em que nasceram.
Recebam um abraço mítico de Aureo
Augusto.
Cabe até meditar, pra descobrir até que ponto seu Edilsinho tem razão.
ResponderExcluirAfinal, a dor é parceira da humanidade desde sua origem, já é cidadã e
tem carteira de identidade e CPF. Por que a exclusão?
E, realmente, não é incomum a dor migrar após uma medicação,
mesmo ministrada por um profissional.
Ela parece ter vontade própria.
Abraço ancestral.
Razão não lhe falta em seu comentário.
ExcluirE, mtas vezes a verdade se mostra com uma linguagem não científica, mas real.
Grato e abraço.
Oi, Áureo,
ResponderExcluirPeço licença e vou entrando nesta casa, com as minhas palavras, hoje (até então só meus olhos passearam pelos textos). Preciso muito agradecer a você, pois seus textos têm me ajudado bastante e de diversas formas.
Sobre o tema do texto, lembro tive dores que sumiram, outras que diminuíram e também tive dores que mudaram de lugar, tal qual Seu Edilsinho. Algumas começaram quando eu era bem jovem e outras parecem que são até mais antigas que eu mesma. No entanto, descobri alegrias enormes e pessoas especiais também me descobriram, como num carrossel, girando e trazendo a novidade: boa ou ruim, revelando que o desafio não é somente superar a dor ou temer perder a a alegria, mas lidar com a impermanência.
Obrigada pelo exercício de reflexão propiciado pelos seus escritos,
J.
Eu é que fico grato com sua reflexão.
ExcluirParece que nesta vida a regra é que mais vale a nossa resposta aos desafios do que os desafios em si.
Receba um abraço