domingo, 25 de outubro de 2015

UMA PLANTA INCRÍVEL: CANDOMBÁ

As rodas de conversa após a ginástica das idosas, nas quartas, antes de começar o ambulatório do posto, são uma fonte inesgotável de conhecimentos instigantes para mim. Quero partilhar com vocês algumas das últimas coisas que aprendi.

Aqui na serra tem uma planta, chamada candombá. Tem um caule rude, grosso e curto, mal chega a meio metro e suas folhas são ásperas, ocupando o cimo do pequeno tronco. Suas flores são enormes, violetas com pistilos amarelos, e por sua forma lembram o hibisco, por aqui conhecido como graxa. Quando o mundo pega fogo lá nos gerais (os planaltos em cima das serras que circundam o Vale do Capão) o candombá fica preservado. As folhas sofrem com o fogo, mas seu caule fica apenas chamuscado. No entanto, se você pega o caule e bate com um pau, para ficar um pouco esfarinhado, pega fogo com a maior facilidade e não apaga mesmo sob chuva grossa. As mulheres comentaram que antigamente o candombá era a lanterna do povo daqui. O povo se arrumava para ir à feira em Palmeiras (sede do município) e saía com o candombá, cuja fumaça negra acabava por pintar o rosto das pessoas e por isso “agente chegava com a cara preta”.

A planta tem uma resina que muito afeita ao fogo e é maravilhosa para acender fogueiras ou o fogão a lenha, ainda comum por essas bandas.
Essa resina inflamável era extraída da planta da seguinte forma: batia no caule com uma pedra até retirar um pó, o qual era posto em uma lata e levado ao fogo, onde ficava “visguento”; este visgo era usado para tapar buracos em latas ou bacias e para lubrificar as correias de couro das rodas d’água usadas para o trato do café nos idos de antigamente.
Alguém já me disse que a resina também tinha uso medicinal, mas as senhoras do grupo não souberam me dizer se sim ou se não dessa coisa.

Logo pode acontecer de os jovens esquecerem dessa planta. Talvez admirem suas flores quando caminharem nos gerais, mas sinto que esse conhecimento pode se perder. Essa resina de uma planta tão especial, que um dia teve papel importante na vida e na economia local pode ser olvidada. Quero registrar para que saibam e não esqueçam e quem sabe, quando recebam títulos universitários pensem em estuda-la e descobrir novos usos para as coisas antigas.


Recebam um abraço antiquado de Aureo Augusto.