As rodas de conversa após a ginástica das idosas, nas
quartas, antes de começar o ambulatório do posto, são uma fonte inesgotável de
conhecimentos instigantes para mim. Quero partilhar com vocês algumas das
últimas coisas que aprendi.
Aqui na serra tem uma planta, chamada candombá. Tem um caule
rude, grosso e curto, mal chega a meio metro e suas folhas são ásperas,
ocupando o cimo do pequeno tronco. Suas flores são enormes, violetas com
pistilos amarelos, e por sua forma lembram o hibisco, por aqui conhecido como
graxa. Quando o mundo pega fogo lá nos gerais (os planaltos em cima das serras
que circundam o Vale do Capão) o candombá fica preservado. As folhas sofrem com
o fogo, mas seu caule fica apenas chamuscado. No entanto, se você pega o caule
e bate com um pau, para ficar um pouco esfarinhado, pega fogo com a maior
facilidade e não apaga mesmo sob chuva grossa. As mulheres comentaram que
antigamente o candombá era a lanterna do povo daqui. O povo se arrumava para ir
à feira em Palmeiras (sede do município) e saía com o candombá, cuja fumaça
negra acabava por pintar o rosto das pessoas e por isso “agente chegava com a
cara preta”.
A planta tem uma resina que muito afeita ao fogo e é
maravilhosa para acender fogueiras ou o fogão a lenha, ainda comum por essas
bandas.
Essa resina inflamável era extraída da planta da seguinte
forma: batia no caule com uma pedra até retirar um pó, o qual era posto em uma
lata e levado ao fogo, onde ficava “visguento”; este visgo era usado para tapar
buracos em latas ou bacias e para lubrificar as correias de couro das rodas
d’água usadas para o trato do café nos idos de antigamente.
Alguém já me disse que a resina também tinha uso medicinal,
mas as senhoras do grupo não souberam me dizer se sim ou se não dessa coisa.
Logo pode acontecer de os jovens esquecerem dessa planta.
Talvez admirem suas flores quando caminharem nos gerais, mas sinto que esse
conhecimento pode se perder. Essa resina de uma planta tão especial, que um dia
teve papel importante na vida e na economia local pode ser olvidada. Quero
registrar para que saibam e não esqueçam e quem sabe, quando recebam títulos
universitários pensem em estuda-la e descobrir novos usos para as coisas
antigas.
Recebam um abraço antiquado de Aureo Augusto.