Estávamos, eu e Natália (enfermeira do posto – minha chefa)
indo para Conceição dos Gatos, com um motorista contratado pela prefeitura
quando notamos que saía fumaça do capô. O motorista saltou para ver. Falei: é a
ventoinha.
Natália me perguntou o que era isso. Disse-lhe que não sabia, mas que sempre
que carro sai fumaça por aqui é essa tal de ventoinha. Rimos os dois com a
minha sapiência ignorante. Aí o motorista voltou e confirmou: É a ventoinha.
Aliás, este carro já me veio buscar 4 vezes e em todas
quebrou. O motorista labuta bastante no processo de manutenção do sujeito, mas
parece que os resultados não condizem com o esforço. E quando está bom, dentro
da cabine tem um fedor de descarga de automóvel que me faz sentir dentro do
túnel Américo Simas em Salvador. Talvez seja para eu não ficar excessivamente
viciado no ar puro daqui.
Às terças ausento-me do Vale do Capão para atender os
povoados de Rio Grande, Conceição dos Gatos e Lavrinha. Regra geral, vamos eu,
a enfermeira e a agente comunitária de saúde que acompanha estas localidades. É
um trabalho bastante agradável com um povo bom e feliz por ter a oportunidade
de atendimento. Sempre tem alegrias, risos, às vezes aborrecimentos, muito pó e
raramente lama. O tipo da coisa que estimula o ser humano a viver.
Habitualmente me mandam carro e motorista da própria
prefeitura. Porém às vezes todos estão ocupados (época de vacinação, por
exemplo) e vem alguém contratado. Cada motorista tem seu jeito – de dirigir, de
se relacionar etc. – mas todos são loucos por direção. Parece algo como um
brinquedo para uma criança. Como eu mesmo não curto dirigir, fico admirado. Tem
uns que além da direção são apaixonados também pela parte mecânica, outros me
decepcionam quando o carro quebra porque não sabem nada. Tinha um que fedia
tanto que Natália ria de mim, pois eu ficava com a cabeça pra fora da janela.
Outro, o carro atolou (porque caiu na vala em minha casa) e não sabia o que
fazer. Tirei a roupa, peguei a enxada, cavei abaixo da roda, pus um macaco,
levantei o carro e fui jogando pedras embaixo até que deu pra tira-lo dali. O
homem ficava se admirando de minha experiência no assunto. Mas também tantos
anos de Capão! Fiquei admirado que ele, sendo motorista, fosse tão inexperiente
na coisa. Há um sumamente simpático, João, que fala o tempo inteiro de tecnologia
de antenas parabólicas. Zé Alfredo era muito legal, mas ele se mudou para
Barreiras. Uma pena, eu gostava demais quando ele vinha, pois sendo ele pastor
evangélico conversávamos horas sobre as mensagens bíblicas. E ele é daqueles
que seguem o pregam – começa que não é rico – e ademais é muito tolerante com
outras religiões, coisa nem sempre comum. Além de falar de Deus, Zé Alfredo
gostava muito e gastava bastante do seu tempo pescando. E quando nos encontrávamos
se alegrava em contar as aventuras. Deduzo que, em oposição à regra dos
pescadores, não mentia, já que é pastor.
Algumas vezes é cansativo viajar pelos ermos destas estradas
esburacadas e empoeiradas, mas o mais do tempo é gostoso. Palmeiras é um
planeta bem especial, tem áreas altas como o Capão, semiárido, zonas de gado,
outras de garimpo, enfim, um lugar rico e belo. Vejo, aprendo, saboreio.
Recebam um abraço palmeirense de Aureo Augusto.