Finda um ano difícil. Para o mundo, para o Brasil, para a
cidade de Palmeiras.
Aqui no Vale do Capão tivemos, do ponto de vista climático,
uma amenização da seca que afeta o Nordeste há quase 10 anos. Foi um ano em que
choveu com frequência, mas ainda não há sinais de que La Niña venha a
substituir El Niño. Mesmo assim, esta presença maior de chuvas nos dá uma
alegria em um ano onde “a política” foi terrível. O ano finda com a saída do
atual prefeito que será substituído pelo eleito no último pleito.
Em sua saída, o atual prefeito nos brinda com um incremento
das faltas que marcaram a gestão. Nestes quatro anos tivemos dois secretários
que mostraram serviço, Aruanã e Andréa, respectivamente no turismo e na saúde.
A última secretária de educação, Rosa, apesar de ser comprometida padeceu dos
mesmos problemas que os demais: ausência de autonomia e de uma gestão bem
orquestrada, e talvez, de excessiva filiação ao grupo governante – e os
professores e estudantes sofreram; aqui no Vale do Capão os problemas variaram
do transporte escolar, que obrigou a fechamento das aulas antecipadamente à
degradação física da escola municipal e a falta de apoio à escola comunitária.
O gestor não conseguiu organizar uma agenda de realizações e
tampouco nos brindou com uma governança coerente e consistente (com a pobreza,
com as necessidades reais, com a continuidade, com a informação clara etc. do
município). Difícil entender o que sucedeu, considerando-se sua formação e
experiência. Eu, particularmente, não acredito em pura e simples corrupção,
como querem alguns, uma imputação fácil, talvez demais. Alguns me falaram que
deixou-se levar pelo senso de poder e não escutou conselhos pertinentes e
perdeu de vista a realidade; outros comentam de seu dom especial para deixar-se
levar pelo puxa-saquismo, dando atenção a quem não merecia, deixando de lado os
colaboradores reais. Senti falta de diálogos sólidos, escuta; conversar com ele
era uma luta, labuta vã, pois falava e falava, argumentava e deixava de perceber
o que o interlocutor realmente queria. Gente do povo confirmou-me essa
impressão. Essas coisas contam, indubitavelmente, mas não dizem tudo.
O fato é que finalizamos o ano sendo obrigados a, no posto
de saúde, fazer uma campanha para arrecadar fundos com a finalidade de
manter-se funcionando, o que é algo, para dizer o mínimo, triste. Contamos com
amplo apoio e conseguimos os recursos de modo que funcionários exonerados
puderam retornar e o material do dentista pôde ser comprado o que manteve o
profissional em ação até o final deste dezembro cansativo.
Para nós, que trabalhamos na saúde, a vida não é realmente a
coisa mais fácil do mundo. Em nosso posto há grande alegria todo o tempo. Muito
riso, sorrisos nas faces e entusiasmo pelas atividades (que são muitas e que
para serem realizadas frequentemente trabalhamos fora do horário pelo qual
somos pagos). Mas detecto em mim e nos colegas um grande cansaço, um
esgotamento e vejo que isso vem não apenas de um ano cheio (dia da criança; muitas
palestras em sala de espera; dia do homem; consultas a mais do que o esperado
em parte pelo aumento da população e dos visitantes sofrendo picadas de
insetos, quedas, ferimentos...; grupos variados com rodas de conversa, tais
como: idosos, se liga no peso, de pessoas com ansiedade e/ou sofrimento
psíquico; atividades com estagiários de medicina, enfermagem, odontologia,
assistência social entre outras atividades), mas também, dizia, o que nos
esgota é não saber direito o que vai acontecer. Atrasos de pagamento, falta
crônica de material e medicações, expulsão de colegas, esta sensação de que as
coisas não estão minimamente seguras, e estar criando estratégias para
preencher falhas e faltas que não são nossas... sinto-me cansado, exausto,
desejando férias para repor as energias. Do mesmo jeito, todos.
É vero que nem tudo foi ruim, pois contamos com uma
secretária de saúde (Andréa) accessível, dedicada, lutadora, mas que a nós,
funcionários, parecia que atuava como se fosse uma “estranha no ninho” da
governança, não tendo pleno conhecimento sequer do total dos recursos da sua
pasta. O Conselho de Saúde funcionou marcantemente o que levou a alguns
problemas com a gestão e, pasmem, com a direção da agremiação que congrega os
funcionários, o qual não percebia o seu papel enquanto conselheiro dedicando-se
a fazer oposição (coisa boa a oposição, mas tem o seu lugar) sem atentar para
as normas.
Temos funcionários competentes em todas as áreas da saúde
(parte deles expulsos no final da desta gestão) e contamos com nada menos que 4
médicos do programa Mais Médicos, todos originários de Cuba e muito bem
capacitados. Mas não soubemos aproveitar isso adequadamente.
Aliás não conseguimos aproveitar programas do governo
federal, além de promissores contatos com a secretaria estadual da saúde (um
convênio não foi firmado porque um gestor anterior não prestou conta de
R$70000,00 que havia recebido e, apesar do trabalho minucioso do Conselho de
Saúde, o gestor atual não deu prosseguimento às disposições legais que
permitiriam resolver o impedimento).
Esta é uma avaliação incompleta porque não se propõe a ser
algo mais que um desabafo triste. Mais triste ainda por outra tristeza: nada
disso é novo. Mais do mesmo de outros prefeitos que já aqui estiveram, uns
melhores outros piores, mas...
Resta a esperança, não completamente passiva, um esperançar
no dizer Freiriano, que é uma esperança ativa de gente que sabe lutar. Pelo
menos aqui no Capão a comunidade assim se mostra e, portanto, vamos aguardar o
próximo gestor e ver dele e nele o que nos trará de sua parte, pois da nossa, de
trabalho não fugimos.
Em 28 de dezembro de 2016, recebam um abraço triste de Aureo
Augusto.