quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

 

UM ANO PARA O AMOR!

Já o ano se vai. Já bilhões de pessoas jubilosas saúdam o novo ano e nele põem suas esperanças de que tudo vai estar melhor.

Tudo tem estado melhor, noto, em que pesem as pandemias, o aumento absurdo de eventos climáticos extremos, a violência urbana, a nossa incompetência em estabelecer relações igualitárias com os demais seres humanos... Muitas coisas têm pesado nos últimos tempos.

Como sempre estou cheio de esperança. Tenho essa tendência, para mim inevitável, de ter esperança. Aliás, apesar de estar informado das coisas que estão acontecendo, mantenho uma fé inabalável na humanidade. Não sou cego. Sei que estamos correndo riscos graves por nossas atitudes desrespeitosas (para dizer o mínimo) para com as outras pessoas, a natureza interna e externa. Sim, amigos, estamos bordejando o desastre.

Desta vez não é um império que arrisca cair. Não é um povo que pode desaparecer. Não é uma empresa que encontrou a falência ou a bolsa quebrou. Agora a ameaça é global, tal como a globalização. E ainda seguimos meio cegos, habitando uma névoa de fantasia quanto ao nosso poder de seguir adiante sem reavaliar caminhos.

Mas mesmo assim, mesmo sabendo dessas coisas, digo pra vocês de coração que sigo acreditando que conseguiremos.

Acredito que vamos passar por bastante sofrimento, até aprender, mais ainda, até compreender e ainda mais até viver a mudança necessária.

Acredito que seria mais fácil se apenas soubéssemos amar com o coração limpo.

Acredito, aliás sei, que muitos estão tentando abrir-se para o amor como farol para a caminhada. Eu estou tentando, quiçá por isso acredito.

Ocorre-me de repente que mais do que acredito, eu sei que algo está se fraguando no ventre da Terra, no íntimo da humanidade e que seja pelo amor ou pela dor, vai acontecer!

Nesse novo ano será? Quem sabe? Não creio que seja, mas sempre está aberta a possibilidade de ser. Mas sempre podemos, cada um de nós, dedicar o próximo ano a desenvolver cada vez mais em nós a nossa capacidade (habilidade, fluidez) para amar. Um ano para o Amor!

Recebam o meu amor!



quarta-feira, 24 de novembro de 2021

PENSANDO AQUI NA VIDA

 
Dizem que a vida é uma escola e estou inclinado a acreditar nesta afirmação. Porém, observando com cuidado, percebo que há diferença marcante entre a escola da vida e as outras. Vejo as crianças se formando felizes recebendo o título de conclusão do curso fundamental. A alegria do diploma!

A promessa é que quanto mais diploma, mais ascendemos social e economicamente. No entanto, nem todos acreditam nisso, e em parte porque é patente o fato de que tem é gente diplomada e desempregada ou que recebe salários irrisórios.

Não quero dizer que um diploma não serve pra nada, até porque é uma sensação muito agradável e mesmo emocionante ter nas mãos um papel que atesta uma conquista alcançada com esforço. Em certa medida o diploma é por si só um prêmio (ainda que nem sempre seja algo lucrativo) como podemos ver nos rostinhos sorridentes e expectantes das crianças do fundamental se formando.

Há uns anos recebi um título de Comendador da Ordem do Mérito Médico Nacional, do Ministério da Saúde. Quando recebi a comunicação de Brasília e o convite para ir lá receber o as medalhas e o diploma (isso foi importante), não fazia ideia do que era ser um comendador. Meu filho, que tende a ser iconoclasta, pesquisou para me dizer e me veio com a resposta:

                – Ah, pai! Isso não passa de um título honorífico – e completou com pragmatismo – não dá dinheiro nenhum.

E disso rimos bastante, mas para mim, isso poderia chamar a atenção da mídia e então aproveitar para defender o SUS, o que traria, como trouxe, validade ao título. Convém não deixar de lado o fato de que tive uma satisfação pessoal ao pensar que, não sei por quais vias, um médico que labora num povoado na zona rural de uma cidade pequena no centro da Bahia chamou a atenção, por seu trabalho às autoridades federais. A satisfação do diploma! A sensação de que algo fiz...

Ganhar diplomas tem seu brilho... mas... voltando a tratar da escola da vida, devemos lembrar que o pior mesmo dessa escola é que quando chegamos ao final não rola diploma algum!!!

Tenho certeza que deste último parágrafo podemos exarar vários pensamentos profundos, mas destes fico com um (não tão profundo, convenhamos):

Já que é assim, e não recebemos um belo papel assinado pelo diretor da escola da vida, pelo menos aproveitemos o que há nela, como o recreio, a camaradagem com os colegas e a beleza do cenário (aqui no Vale do Capão então...), pois dessa estranha escola só escapamos com a morte.

Aureo Augusto

domingo, 31 de outubro de 2021

O VALE DO CAPÃO DE ANTES

 

Esta semana conversava com amigos que nasceram ou viveram o Vale do Capão antes dele se haver tornado o lugar cosmopolita que é hoje. Delícia lembrar!

Lembrar é reviver na alma. As águas corriam mais do que hoje, a lama impregnava o mundo muito mais tempo que o tempo da poeira agitava os pulmões. Jamais faltava a chuva das águas, tampouco a candombazeira ou o aguaceiro do período da quaresma. Os ventos uivavam como hoje e faziam das folhas barcos aéreos nos redemoinhos – mas isso não mudou – o povo acordava antes do sol e com ele ia dormir.

Uma coisa interessante é que os galos não cantavam fora de hora. Seu cacarejo era somente na hora de puxar o sol para o seu passeio diário. Hoje perdidos na luz das noites eletrificadas de repente divisam uma luzinha em um momento de sono mais leve e dão pra se esguelar sem que o sol corresponda.

Vai daí que o próprio correr da conversa nos trouxe para os tempos de agora.

Tempos fáceis, tempos luminosos, tempos internáuticos!

Fáceis pois não mais aquela labuta (às vezes insana) para conseguir arrancar da terra a batatinha, o aipim, café, cana, uva, marmelo, pêssego, banana etc. que iriam ser levados para Palmeiras às 3 da manhã, à luz das tochas de candombá, a pé no mais das vezes no comum do povo, chuva ou pó, rios roncando trilha variando texturas sob os pés descalços, sandálias grosseiras, sapatos surrados como as almas, mesmo aquelas jovens.

O retorno sob o sol, luz diurna em abundância, mais silêncio que conversa, mas conversa também bem como risos...

Sim, era outro Capão, como o rio era outro, como eu era outro, como todos nós mudamos com a mudança dos tempos... os tempos de outrora... bom saber que foram bons a sua maneira, bom saber que passaram... como passarão os tempos de hoje – bons a sua maneira – e amanhã uma criança vai acordar feliz porque acontece um novo dia e ela poderá (sem o saber) alimentar com sua vida o eterno passar.

Aureo Augusto

terça-feira, 12 de outubro de 2021

LIBERDADE

 

Desde há muito que o nosso povo humano tem se interessado por “liberdade’. O primeiro registro vem de um documento anônimo em escrita cuneiforme que foi elaborado na cidade de Lagash há 4500 anos.

Ali o autor conta de um momento difícil pelos quais passaram os cidadãos quando políticos e coletores de impostos corruptos exploraram o povo (não sei se você concorda, mas isso me parece tão atual!). E em dado momento aparece esta palavra que se refere a algo tão especial.

Quando era adolescente a liberdade, o ser livre, era um sonho, uma luta, um propósito. Foi muito depois que aprendi que não é possível ser livre aquele que é dependente de um pai, mãe ou outro parente. Para ser livre há que sustentar-se.

Nem me ocorre que a autonomia total seja algo possível. Como seres relacionais que somos, dependemos em alguma medida dos demais e não apenas dependemos de outros seres humanos como também de todos os outros seres existenciais. No entanto, há que dispor de algum grau de autonomia, cuidar de si, propiciar a si mesmo comida, abrigo, condições para ir e vir... Ou seja, devo responsabilizar-me por mim mesmo.

Com alguma frequência sou procurado por adolescentes ou adultos jovens que se queixam da ingerência de seus pais em suas vidas. Depois de reconhecer que realmente é bem chato que não disponhamos do nosso querer, que tenhamos que pedir permissão para fazer certas coisas e por aí vai, dizia, depois de reconhecer o fato tenho o hábito de perguntar como ele ou ela faz para sobreviver. E até mais que isso, como faz para viver, que implica em subsistência, e algo mais, como fazer ou apreciar coisas que não tem papel imediato na resolução de necessidades básicas impostas pela fisiologia.

Pois, como muito bem nos ensinou Victor Frankl, Liberdade exige Responsabilidade.

Não sendo responsáveis por nós mesmos, não somos, não podemos (e será que queremos?) ser livres. Esse grande psicólogo nos diz em seu belo livro “Em Busca de Sentido” que, como nos EUA há a estátua da liberdade na costa leste, deveria construir uma estátua da responsabilidade na costa oeste.

Recebam o meu carinho.

Aureo Augusto.


sábado, 25 de setembro de 2021

 


RECONCILIAÇÃO

Chegou o momento da reconciliação!

Nós seres humanos estamos diante de momentos dramáticos que nos levam (ou pelo menos a mim) a pensar seriamente na reconciliação.

Com a natureza, com a nossa natureza interna, com as demais pessoas, com a paisagem, a floresta, a vida enfim...

Temos vivido em guerra e isso é cansativo! É-nos fácil apontar erros em todos os lugares, menos em nós mesmos. E aquelas pessoas mais bondosas, dedicadas aos que carecem de ajuda, são com demasiada frequência capazes de julgar e condenar aos que não são tocados pela clemência, pela solidariedade. Não me refiro aqui apenas aos que são obviamente bandidos. Muitos são julgados e condenados pela opinião dos “bons” simplesmente porque sendo pessoas de boa índole não são combativas, ou ativas, ou militantes nas ações que se destinem ao bem comum.

Não estou mais tão interessado em que todos sejam militantes... Hoje quero que todos sejam de boa índole, que não queiram o mal, e se aceitem em paz, queiram o prazer de viver sem dívidas morais (aliás, materiais também), que cuidem de suas crianças e não maltratem quem não merece ser maltratado (todos os seres existenciais), e que busquem a benevolência.

E que não digam por aí que advogo contra a ativa ação social, ambiental etc. Admiro profundamente às pessoas que se dedicam a causas por um mundo melhor, admiro tanto que quando assisto um filme sobre um alguém que se dedicou com afinco a algo que acredita beneficiará a todos, choro de pura emoção.

Pois é... Precisamos olhar os demais com benevolência, Aprendamos. Quero muito aprender e peço ajuda. Sei que nós estamos indelevelmente ligados uns aos outros, sei em meu coração que quando um alcança um estado melhor no grau de alegria límpida, todos são beneficiados, toda a vida é beneficiada. Carecemos de um Mundo com benevolência, e, também de fazer da nossa vida um momento de reconciliação.

Um beijo no coração de vocês

Aureo Augusto

sexta-feira, 10 de setembro de 2021

 

RAZÃO E CONFLITO

Estamos vivendo momentos difíceis no nosso planetinha e no Brasil, não é diferente. Tal como em outros lugares, estamos frequentemente divididos em grupos irreconciliáveis, incapazes de sequer ouvir o que o grupo oposto tem a dizer. Todos têm razão.

E esse é o problema!

Quando era bem jovem, ainda na adolescência, li um livro que marcou a minha vida e minhas escolhas desde então: “Anatomia da Paz” de Emery Reves.  Neste livro, o autor nos mostra os argumentos dos franceses, dos alemães, dos ingleses sobre suas motivações para ir à monstruosidade que ficou conhecida como Segunda Guerra Mundial. Todos tinham razão por isso a guerra.

Todos estavam com a verdade... e esse é o problema!

Nos ensina Anna Arendt que a pior forma de totalitarismo é o governo da verdade. Sim. Quando um determinado grupo político assume o poder, considerando-se único dono da verdade, todo o que discordar estará cometendo um crime de “lesa verdade”. Afinal a verdade é indiscutível. Mas quem em sã consciência se considera dono da verdade?

Religiões, partidos, grupos políticos, organizações sociais – muitos foram aqueles que se apossaram da verdade sem se dar conta de que esta suposta verdade não passava de opinião, ou seja, de ideologia. Uma ideologia é uma guia, jamais a palavra final (será que há palavra final?).

No fatídico século XX, as pessoas que queriam melhorar a vida dos seres humanos brigavam com palavras e atos – os mais escabrosos, às vezes – porque haviam aprendido que havia 2 grupos, o meu, que estava coberto de razão e o dos inimigos. Assim, a gente de esquerda chamava os outros de porcos chauvinistas enquanto a turma da direita dizia dos esquerdistas que eram criminosos que queriam o fim da pátria, da família etc.

No presente século, me pareceu que havíamos abandonado tais dicotomias, mas elas renasceram com força. Continuamos infantilmente acreditando nos contos nos quais havia um mocinho ‘só mocinho’ e um bandido ‘só bandido’.

Não nego que existem pessoas bem ruins, enquanto a maioria de nós somos seres mais voltados para o bem (embora o mal seja parte de todos). Mas continuamos escondendo a nossa sombra para poder, sem querer, vê-la no outro.

Lembro na década de 1970 quando estava na rua lá em Salvador, encontrei um amigo muito querido, bem mais velho do que eu. Ele estava de paletó e gravata pois trabalhava na IBM – e era exigência da empresa – eu usando uma roupa bem hippie. Conversamos animadamente e nos despedimos. Estávamos diante de um restaurante bem frequentado pelos universitários naquela época, o Avalanches. Fui em seguida ao restaurante e lá estavam amigos meus, que logo me questionaram por eu andar aos abraços e conversação animada com um burguês de paletó e gravata. Fiquei chocado, pois tinha amigos de tudo quanto era jeito, desde minha gente do bairro do Uruguai, onde nasci, até o povo rico o bastante para não saber o que era bairro do Uruguai.

Não via nada mais do que amizade! Não contemplava a ideologia; o amor, incluso o amor amizade não conhece ideologias. Por sorte segui com meus amigos e não me filiei a ideologias – o que não me impediu de julgar outras pessoas em outras situações coisa que mais tarde vi como era uma bobagem sem tamanho (o que não significa que não continue fazendo essa bobagem).

Ninguém tem só um lado em seu corpo. Temos um lado esquerdo e um lado direito, e é isso que nos forma! Escutemos ambos os lados, escutemos ao que está à frente e atrás, em cima e embaixo, ou seja, escutemos com o coração.

Aureo Augusto, em 07ago21

 

segunda-feira, 19 de julho de 2021

 

UMA MINHA DECLARAÇÃO DE AMOR

Gosto do cheiro dos livros! Amo os livros que sempre me contam de tudo o que não sei e me fazem pensar no como é bom o tempo que faço na minha vida para estar sempre pronto a aprender mais e mais de novo e sempre mais.

Os livros me ensinam que ainda não raspei a superfície, não aprofundei mais do que um nada do que há a saber do tanto desse mundão. Os livros me dizem que até o último dia de minha vida não vai haver aquela coisa de achar um porre viver, simplesmente porque sempre há novidades a saber. Sempre nunca vai faltar mais coisa e mais pra saber!

Os livros me atraem e me dou conta de que todo estudioso, curioso, cientista, seja quem for que queira aprender é uma espécie de fofoqueiro. Sou um fofoqueiro que vive futricando a vida, perscrutando os silêncios do Universo, tentando entender os vazios do conhecimento.

E o legal é que não há pressa, o melhor é que não há que correr nem decorar, há apenas que entender pois que, no final, não vou ter que fazer uma prova final... isso é o melhor!

No final só me será perguntado – ou, dito melhor, só me perguntarei – se vivi. Entenda, a pergunta não se refere a sobreviver, não trata de comer e ter uma casa, não apenas pagar as contas e coisas assim que são importantes e necessárias. Enfim, a pergunta trata de se eu vivi, experimentei, sofri e me alegrei. Os livros me falam...

Trato de escutar!