Parei um pouco o que fazia, pois o sol oblíquo da tarde
chamou-me à janela.
As árvores, a luz parecia que saía delas (e saía), as folhas
tremulando ao passo dos raios que abençoavam a terra úmida pelas últimas
chuvas.
Sabem meus amigos? Tenho a impressão de que no mundo, digo
melhor, no Universo, há um algo, um Grande Mistério, um Quê que não conheço e
que é incognoscível, até porque para nós pode ser difícil conciliar a ideia de
um Algo tão vasto que, como tal, se basta a si, e ainda assim tem um quê de
pessoal com cada um de nós e toca a cada um dos seres existenciais como uma
Fonte de onde flui tudo e a si. Uma Grandeza infinita, impessoal, uma beleza
maculada de existir e de viver.
E quando o sol paira com sua luz tocando a mata de raspão,
tangenciando a nossa vida, nas tardes depois das chuvas e quando a noite me
presenteia com sua rajada de estrelas, olho pasmo e agradeço. Sei que sou
escutado ao tempo em que sei que estou só. Sei que sou o responsável por mim e
por tudo o que comigo acontece, mas de alguma forma habito a palma da mão do
Inominável.
Uma amiga minha, a quem amo muito e sei que é recíproco,
quando contei pra ela de onde vinham os elementos químicos que nos formam,
quando disse das estrelas moribundas que explodiam espalhando carbono,
hidrogênio, ferro, oxigênio etc. por todo lado ela me olhou surpresa dizendo
que pensava que esse papo de que somos feitos do pó das estrelas era mera
metáfora.
O legal é que a verdade pode ser uma metáfora!
Nesse instante dá-me de saber que todos nós, filhas e filhos
das estrelas, todos nós, somos filhos e filhas das estrelas, como estrelas,
iguais e diferentes, como estrelas destinados a brilhar (sem fantasias – pois
brilhar é apenas ser, seja como for).
Beijo no coração
Aureo Augusto