quarta-feira, 22 de junho de 2011

SÃO JOÃO

Aí o povo é naquela azáfama. É pintar casa, capinar e roçar. Tem também que rachar lenha pra fazer a fogueira. Arranjar lenha seca, de árvore que há muito o vento ou a velhice matou. Troncos mesmo. Grossos. Depois o ramo comprido, verde, e os presentes que ficam lá em cima atiçando o desejo da gente. Fogueira de ramo é o que mais gosto. Quando cai todo mundo em cima, na maior confusão pegando laranja, merendas, abóbora, um coco, tanta coisa... Uma festa.
Há mais de mês que as pousadas já não têm mais vagas e o povo está alugando a própria casa e indo morar com os parentes nesses dias, somente porque a pressão do povo de fora pra vir para cá tem sido muito grande. O largo enfeitado e as comidas sendo acumuladas, varre-varre e beleza nos rostos. São João é ‘a’ festa. Desde criança é, para mim, a melhor. Naquela época fazia das minhas. Pegava uma bomba e prendia a ponta em uma bituca de cigarro que alguém houvesse descartado. Depois enterrava na lama. De longe, seguro, ficava olhando. Era um nervoso. - ´Tá demorando, pensava, será que o cigarro apagou? Não, que nada. Quando explodia era como sempre uma surpresa. Levava um susto porque era um esperado inesperado. Ria. Mas para quem passava na hora, a lameira voando em cima, ninguém ria! Uma vez um homem percebeu que eu tinha a ver. Ele me perseguiu por ruas e becos, suei, foi uma correria, sofri, “não foi eu, não foi eu”, mentia e corria. Menos mal que conhecia todas as vielas do bairro do Uruguai – ele não. Escapei. Ufa! Cresci e acrescentou-se o licor de jenipapo. Saiu a bomba com bituca de cigarro. Mas o São João continua sendo o lugar festivo mais legal. Forró e alegria.
Não sei bem quem se lembra do santo e porque a festa se faz. Não sei bem quem se lembra da fogueira que Ana acendeu. Não sei. Sei que a turma se esfalfa de quentão, licores vários, amendoim cozido, milho assado, cozido, amendoim torrado, canjica, mungunzá, sanfona, triângulo, zabumba... Frio e calor.
O povo do Vale está feliz!
Recebam um abraço junino de Aureo Augusto.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

HERMENGARDA e a OSTEOPOROSE

Creio que vocês já conhecem D. Hermengarda. Gente boa! Ela voltou para a consulta preocupada com “essa tar de ostoporós”. Com seus “quase quase” tocando os setenta janeiros, chegou à conclusão de que tem que tomar algum chá de erva para se livrar desta “doença maleitosa”. Por isso o assunto foi esta doença:
Como diz o nome, o osso fica mais poroso quando atingido pelo mal. Perde densidade. Comparando pedaços de madeira e giz, vemos que um é mais maciço (ou mais denso) do que o outro. Quanto mais denso, mais forte (pelo menos no caso do osso). Os ossos estão sempre mudando embora pareçam quietinhos. Temos dois tipos de células ósseas (osteócitos) que se revezam no afã de renovar o osso. Os osteoclastos saem de um lado do osso e vão destruindo-o, mas são seguidos de perto por osteoblastos que reconstroem o órgão. Quando alcançam a outra extremidade o osteoblasto vira osteoclasto e passa a destruir, enquanto a outra célula também muda e vira osteoblasto passando a refazer o que o outro destruiu. Dessa forma o tempo inteiro o que parece invariável se transforma sem parar. Nas pessoas jovens, há preponderância dos osteoblastos e o osso vai se fortalecendo, mas com a idade os clastos começam a tornar-se mais fortes e ocorre perda de densidade. Para as mulheres ainda temos a agravante que é a redução da produção de estrogênios nas proximidades da menopausa (75% dos doentes são mulheres). Estes hormônios estimulam a calcificação; faltando, o osso fica fraco, quebra com facilidade e pode levar a morte (no Brasil são mais de 200 mil mortes por ano por causa deste mal).
Porém pelo que pude ver, D. Hermengarda não tem o problema. Embora já no período de pós-menopausa, que, registre-se, para ela foi sem sintomatologia desagradável – “só foi simbora e pronto” – ela mantém uma atividade física invejável. Este é um bom segredo para proteger-se. A pressão do músculo sobre o osso, que recebe o nome de stress strain, estimula o osteoblasto, isto é, a calcificação óssea, impedindo o estabelecimento da osteoporose. Esta senhora, desde criança, racha lenha, carrega, capina, cavuca, semeia, colhe, caminha quilômetros por dia. O que não lhe falta é stress strain. Não mencionei estes nomes para não confundi-la, porque hoje em dia, ninguém, nem mesmo ela, fica nervosa ou tensa. Por aqui o povo já vem para a consulta referindo-se estressada(o). Então não quis me meter na labiríntica tarefa de mostrar que stress pode ser desejável, conforme o tipo. Mas voltando ao tema: A filha dela é candidata a ter osteoporose, porque tem vida sedentária (inclusive está um pouco acima do peso), e gosta de refrigerantes e outros produtos alimentícios pouco recomendáveis. Pelo menos, no início da vida consumiu coalhada porque tinham uma vaquinha leiteira. Os laticínios são ricos em cálcio e, como o cálcio prefere ambiente levemente ácido para ser absorvido, a coalhada e o iogurte são melhores do que o leite in natura. Outra fonte de cálcio são as folhas verdes (quanto mais verde, mais cálcio). Estas também contêm magnésio, elemento essencial para o aproveitamento do cálcio e por isso as verduras são melhores que o leite neste aspecto. Uma desgraça para as novas gerações é que há 20 anos, os jovens consumiam 1000 a 3000mg de cálcio por dia, hoje apenas 600 a 700. O consumo de leite caiu em 30% e o de refrigerantes cresceu 65% (estudo da USP, São Paulo). Ingerir pouco cálcio na juventude aumenta em 20% o risco de osteoporose na vida adulta.
Exercitar-se e comer verduras e laticínios é a proteção. A soja, por conter isoflavona, tem sido considerada uma proteção contra a osteoporose. No entanto os estudos comprovam que o melhor é consumir antes de a doença instalar-se. Devemos preferir o tofu (queijo de soja), pois é rico em proteínas e pobre em ácido fítico que dificulta a absorção de minerais. Vale consumir leite de soja desde cedo, seja puro ou em receitas (substitui com vantagens o leite de gado). Recentemente se divulgou que a isoflavona da soja é perigosa, porém os estudos mostram que apenas o seu uso medicamentoso pode trazer risco. O consumo na alimentação é recomendável. Evitemos a PVT (proteína texturizada da soja) que é de difícil digestão.
Uma vez instalada a osteoporose, pode ser necessário o uso de medicações, porém isso não é imperativo para todas as pessoas. Algumas recomendações:
-Suco de couve/limão/melaço (2 ou 3 folhas de couve+melaço de cana+água; bate no liquidificador, côa e acrescenta suco de 1 limão – não bater o limão); tomar em jejum todos os dias.
-Chá de mil-folhas (Aquileia milefolium) – 3 xícaras por dia. Faz o chá com 2 colheres de sopa da folha picada e 5 sementes do anis estrelado. Quem ainda tem menstruação usa do 12º ao 26º dia. Quem já está na menopausa toma 3 semanas e descansa uma.
-Linhaça, gergelim e feijão soja em partes iguais. Tosta e pulveriza. Usa como farinha nas refeições.
-Caminhar 1 hora por dia. E acrescentar outras atividades físicas como Pilates, Capoeira etc. naturalmente com acompanhamento por pessoa habilitada.
-Coma brócoles com freqüência, cozido no vapor, pois aumenta o estradiol, hormônio que estimula a calcificação óssea.
- Maiores fontes de cálcio (por ordem do que tem mais par ao que tem menos): farinha de soja, couve, agrião, grão de bico, feijões, melado, tofu, mostarda, brócolis.
- A vitamina C é importante para a preparação do terreno onde vai se inserir o cálcio. Por isso mulheres que chupam uma laranja por dia têm menos osteoporose.
- A vitamina D é essencial para a calcificação óssea, por isso tome sol nos horários recomendáveis.
ALERTA:
-Consumo de açúcar, aumenta o ácido carbônico o que abaixa o pH e há precipitação de Ca e Mg levando a menor aproveitamento destes nutrientes.
-1g de carne consome 2g de Ca para ser digerida. Ou seja, quanto mais você gosta de carnes, mais precisa de comer cálcio.
-Nunca tome refrigerantes, principalmente do tipo cola, eles contêm ácido fosfórico que interfere no metabolismo do cálcio. As meninas com hábito de tomá-los têm 3 vezes mais risco de fraturas.
D. Hermengarda ficou feliz com o fato de que dificilmente terá a doença, mas seria muito legal se ela pudesse fazer uma densitometria óssea. Sua vida foi dura, esta área no passado foi zona de guerra de jagunços e a pobreza era a norma. Consequentemente nem sempre a alimentação era razoável. O problema agora é o preço do exame!
Recebam um abraço agradavelmente denso de Aureo Augusto.