Lembro-me de Zezéu ainda criança. Creio que nunca houve mais
barulhenta no mundo. Parecia não caber nem em si nem em nada. Sua agitação
chamava a atenção de quantos a viam. Estava sempre molhada de suor, mesmo no
rigor do inverno, olhava as coisas quase comendo-as e nunca falava, apenas
gritava. Pudera, seu pai, o finado Delfino, eu o chamava de Trovão, porque, dizia eu, quando
sussurrava um segredo, seu sussurro era tão alto que todo o vale sabia. Éramos
muito amigos, ou somos, que a morte não reduziu meu amor por ele. Nunca me
chamava de Aureo, para ele eu era Chuva,
até o dia da sua morte. Depois disso ninguém mais me chamou assim, nem chamará.
Delfino era troncudo e forte, não era de fazer grande alarde das coisas, mas
quando se aborrecia, “sai de baixo”. Zezéu só herdou dele a voz alta (e mais
esganiçada).
Ela cresceu como era de se esperar e, hoje, tive a
oportunidade de assistir ao seu segundo parto. Natália acompanhou. Muito bom
para mim ver Natália fazendo o parto; tranquila, amorosa, presente; realmente
uma parteira como poucas! Mas dizia de Zezéu: O tempo passa, mas nós (eu pelo
menos) nunca deixamos de nos surpreender pela forma e pelo fato de que ele
passa. Zezéu hoje é uma mulher tendo o seu segundo filho. Fiz o primeiro parto
quando nasceu um rapazinho que, não sei porque, só chamava de bananinha. O povo
presente se lembrou que quando eu esperava dizia: “Eh! Bananinha, vem logo”.
Acabou que a mãe durante muito tempo só chamava de Bananinha, pelo menos
comigo. Agora na casa cheia de gente, pessoas muito gratas ao meu coração,
muito riso, muita alegria enquanto o parto corria. Zezéu desta vez estava mais
queixosa do que no primeiro, mas com a mesma força, e vocês precisavam ver a
criancinha saindo. Natália indicando que não fizesse força, que apenas a força
do útero era suficiente, lindo, foi saindo devagar até que se desprendeu e
respirou. Ela de cócoras nos braços do marido que deu uma grande força, apoiou
muito durante todo o processo de dilatação e expulsão. Lindo!
Néa, a irmã, já foi logo me dizendo que era menina e que
tinha nome, Chiara. Foi aí que me dei conta de que a recém-nascida, com sua
pele corada era como uma maçãzinha. Chamei-a assim, agora Zezéu tem duas frutas
em casa. Tomara queira ter outros filhos e tenhamos em breve uma salada de
frutas.
Recebam um abraço parteiro em 30/1/13 de Aureo Augusto.