O Vale com sua forma uterina sempre me dá (e não apenas a
mim) a sensação de que o mundo lá fora está efetivamente lá fora. Guerras,
crises econômicas, atentados terroristas... O mundo parece uma coisa distante,
conquanto na realidade experimentemos, eu e os demais moradores, o de bom e o
de problemático que estes nossos tempos nos entrega.
Agora olho pela minha janela e vejo o fogo descer entre o
Morro Branco e a Serra da Larguinha, coisa que nunca havia visto antes. Força a
passagem, insinua-se, insere-se entre as brechas que a montanha criou,
agiganta-se por sobre o mundo e vence o denodo dos brigadistas do ICM-Bio, os
voluntários, enfim, todos aqueles que ousam afronta-lo.
O incêndio alastra-se e de uma forma estranha e, mesmo,
mágica, gera em mim uma sensação de proximidade com tantas mazelas que
incineram o bom senso neste mundo, como a tragédia em Paris nesses últimos dias,
ou o desastre em Minhas Gerais. Um incêndio na porta da minha casa me mostra
que o mundo está na porta da minha casa!
Grato pelas tantas pessoas que me têm enviado mensagens, e
solidarizo-me com tantas outras que agora estão à deriva no Mar Mediterrâneo,
choram seus mortos em uma Cidade Luz, sofrem as mazelas de um derrame de
dejetos de mineração, ou são sacrificados à mão inumana do fanatismo. Tão
pequena a minha mazela ou dor, se não fosse de alguma maneira a continuação
aqui de algo maior e estranho que vem de muito longe. O fogo no Morro Branco
veio por detrás, de muito longe, me disseram, sei disso... inda assim grato
pela solidariedade, não só aqui como alhures. Essa é uma resposta, e das
melhores!
Aureo Augusto