sábado, 14 de novembro de 2015

INCÊNDIOS

O Vale com sua forma uterina sempre me dá (e não apenas a mim) a sensação de que o mundo lá fora está efetivamente lá fora. Guerras, crises econômicas, atentados terroristas... O mundo parece uma coisa distante, conquanto na realidade experimentemos, eu e os demais moradores, o de bom e o de problemático que estes nossos tempos nos entrega.

Agora olho pela minha janela e vejo o fogo descer entre o Morro Branco e a Serra da Larguinha, coisa que nunca havia visto antes. Força a passagem, insinua-se, insere-se entre as brechas que a montanha criou, agiganta-se por sobre o mundo e vence o denodo dos brigadistas do ICM-Bio, os voluntários, enfim, todos aqueles que ousam afronta-lo.

O incêndio alastra-se e de uma forma estranha e, mesmo, mágica, gera em mim uma sensação de proximidade com tantas mazelas que incineram o bom senso neste mundo, como a tragédia em Paris nesses últimos dias, ou o desastre em Minhas Gerais. Um incêndio na porta da minha casa me mostra que o mundo está na porta da minha casa!

Grato pelas tantas pessoas que me têm enviado mensagens, e solidarizo-me com tantas outras que agora estão à deriva no Mar Mediterrâneo, choram seus mortos em uma Cidade Luz, sofrem as mazelas de um derrame de dejetos de mineração, ou são sacrificados à mão inumana do fanatismo. Tão pequena a minha mazela ou dor, se não fosse de alguma maneira a continuação aqui de algo maior e estranho que vem de muito longe. O fogo no Morro Branco veio por detrás, de muito longe, me disseram, sei disso... inda assim grato pela solidariedade, não só aqui como alhures. Essa é uma resposta, e das melhores!


Aureo Augusto