quinta-feira, 29 de agosto de 2013

O BOM TRABALHO E A INJUSTIÇA (WANESSA)

Wanessa preocupou-se e veio me procurar entre uma consulta e outra. Ela é a agente administrativa do posto e também a recepcionista. Considero-a uma funcionária exemplar e o que vou relatar fará vocês, leitores, concordar.
Foi uma situação corriqueira. Uma das nossas clientes que apresentam um quadro de hipertensão e diabetes trouxe a receita para receber a medicação da farmácia básica. Ela vem regularmente às consultas e tem o quadro controlado, ou seja, está tudo bem. Mas Wanessa notou que na receita estava receitada determinada medicação. Ela se lembrou de que aquela mulher tinha se queixado de alguns sintomas desagradáveis com uma medicação para diabetes. Havia passado mal e sofreu bastante. Então me mostrou o nome e considerou se não era aquela medicação que fizera a cliente sofrer. Lembrei-me vagamente de que realmente havia acontecido aquilo, mas achei pertinente que lesse o seu prontuário. Enquanto eu ia atender outra pessoa Wanessa providenciou o documento e me trouxe no intervalo seguinte. Então li com cuidado e vi que a medicação havia sido mudada justo para aquela que ora ela pedia pelo fato de que uma outra lhe havia feito mal. Wanessa saiu, então, satisfeita e dispensou o remédio.

Quando ela saiu me deu uma sensação agradável por pertencer à equipe de saúde da família da qual faço parte. Wanessa poderia sem mais nem menos dispensar a medicação e pronto. Mas ela está sempre atenta aos possíveis problemas que possam surgir e trata de cuidar para que eles não aconteçam. É uma mão na roda.

O interessante é que nos arquivos do Ministério da Saúde a agente administrativa não faz parte da equipe de saúde da família. Aliás, a auxiliar de serviços gerais tampouco. Aqui em nosso posto, estas duas funcionárias jogam papel essencial. Elas estão presentes em todas as reuniões de equipe (que ocorrem invariavelmente às sextas) e participam efetivamente de todas as discussões, planejamentos e decisões. Sem elas nosso posto não teria o brilho que tem, tampouco a alegria de saber-se fazendo melhor dentro de nossas possibilidades. A Estratégia de Saúde da Família é uma das coisas mais notáveis que o Brasil criou na área da saúde, mas ainda tem alguns furos, como o de não notar que o não reconhecimento destes funcionários como potenciais (ou ativos) colaboradores na consecução de uma melhor saúde para a população. Uma pena.

Outra grande pena é pensar que Wanessa quando há poucos anos atrás passou no concurso e assumiu o seu posto ganhava 1 salário mínimo e meio; agora recebe 1 salário mínimo. É bonitinho ver os discursos dos políticos sobre a saúde... Reconheço que aqui estou sendo irônico.
Gosto de estar nesta equipe, que apesar das enormes dificuldades e injustiças que sofre, por conta da conjuntura sócio política e econômica de nosso país, assim como pela mendicância moral daqueles que controlam os postos de comando, dizia, gosto desta equipe, pois apesar de tudo, mantém-se firme na labuta e, ademais, com alegria.


Recebam um abraço em equipe de Aureo Augusto.

sábado, 17 de agosto de 2013

UNIDADE PSICO-FÍSICA e ÔMEGA 3

Nairania, jovem do Capão, disse que às vezes percebia que sua pele estava triste e me perguntou se isso era possível. Respondi que sim, pois que a tristeza não é algo fora do corpo. A tristeza pertence a todo o nosso ser. Achei de uma beleza triste aquela jovem com o olhar distante falar-me isso em uma consulta. Conversamos bastante sobre esta tristeza. Sobre suas tristezas e de como o corpo na tristeza perde a saúde.

Esta constatação de Nairania é bem interessante uma vez que desde que o saber científico nos iluminou a existência, o mundo se partiu em pedaços materiais e não materiais. Dicotomizamos universo, construindo frações discretas e muitas vezes incomunicantes. Vai daí que certa feita um rapaz estava no leito sofrendo uma afecção e ao percebê-lo tenso e buscando acalma-lo, lhe disse que ficasse tranquilo. Ele me respondeu que ele estava tranquilo, seu corpo é que estava tenso. Esta resposta é fruto da enorme penetração que o pensamento científico alcançou na maneira de entender o e viver no mundo.

Tal fato resultou em enorme bem para a humanidade. Não fossem os iluministas estaríamos presos a teorias obscurantistas e ainda acreditaríamos que algumas pessoas são melhores do que as demais, podendo mandar, tripudiar, ter poder de vida e morte sobre as outras, porque fazem parte desta ou daquela família aristocrática divinamente escolhida. Hoje em praticamente todo o planeta qualquer pessoa exige ser respeitado enquanto ser humano, reconhece-se como individualidade, quer justiça igual para todos. Não foi a religião, nem a bondade dos governantes que fizeram isso, foi o desenvolvimento do pensamento independente propiciado por pessoas com a mente livre que, muitas vezes, foram perseguidas por suas ideias.

Mas como somos seres falíveis, com os acertos apreendemos erros. Vai daí que um jovem acredita que está tranquilo quando o seu corpo está tenso. Pensa que o corpo é um algo lá fora de si. Fora de si esse jovem vive. De outra parte, uma jovem, em uma pequena localidade do interior da Bahia, redescobriu que seu corpo sente tanto como sente sua parte emocional. Mais um pouco e ela se dará conta de que não há separação e que somos uma unidade. O mundo está dando mais uma de suas voltas e podemos novamente nos ver como seres íntegros e não partidos, sem deixar de lado as conquistas que a mente científica propiciou.

E a ciência nos tem trazido marcos de como há uma união entre nossos aspectos físicos e psíquicos. Sabemos que quando estamos felizes ficamos mais resistentes às enfermidades infecciosas. Também a glicemia e a resistência da pele melhoram. A circulação mostra-se mais efetiva... As vantagens corporais decorrentes de um estado psíquico são inúmeras. Recentes estudos descobrem que a depressão (que é um estado psíquico) pode estar relacionada com a deficiência de ômega 3 (w3), uma substância química.

Um exemplo disso é o caso da depressão pós-parto. No fim da gestação e na amamentação a criança tira muito w3 de sua genitora que assim pode ter deficiência da substância. As mulheres que têm deficiência de w3 têm mais possibilidade de ter depressão. Pensar que uma coisa física pode contribuir tão diretamente para uma doença psíquica nos remete à unidade somato-psíquica.

Aliás, a depressão é um problema sério no mundo e alguns estudiosos acreditam que pode ser uma inflamação crônica dos neurônios, talvez por queda do w3, já que a nossa dieta está pobre neste insumo.

Alguns estudos sugerem que depressão pode ser uma forma de doença autoimune, como o reumatismo. Sendo confirmada esta teoria vou achar bem interessante porque na iridologia há um sinal que corresponde à tendência a reumatismo e ao mesmo tempo a tendência à melancolia. Outro sinal de que somos unos. E o w3 é antirreumático.

Tá bom, você leitor, deve estar querendo saber fontes de w3; aí vai: sementes de linhaça, óleo de linhaça (mais de 50% dele é w3), óleo de canola, de cânhamo, todas as verduras, principalmente beldroega e agrião, algas marinhas, espirulina etc. Aqueles que não são vegetarianos o encontram em óleo de peixe e em peixes pequenos.

Os óleos vegetais em geral são ricos em w6 que é útil, mas em menor quantidade, já que é oposto ao w3. Azeite de Oliva não tem nem um nem outro.

Legal saber que somos uma unidade, não é? Recebam um abraço unitário de Aureo Augusto.