Muito me impressiona é o quanto conseguimos na criação de
mal-entendidos e complicações e o como nos esforçamos para mantê-los. Sempre
escuto pessoas dizendo que tudo seria melhor se fôssemos mais simples. Dizem o
quanto complicamos tudo, apenas porque não amamos o suficiente e cobramos,
queremos, mandamos, controlamos, dominamos.
Aí, às vezes me dá uma sensação de cansaço quando penso o
quanto eu mesmo me complico embora realmente e em sã consciência tento olhar o
mundo com o olhar simples e amoroso, sabendo que (isso me ensinou meu filho) a
complexidade absurda do Universo é o mais simples possível para que fosse
possível o existir.
Inventamos regras e essas nos ajudam na convivência, mas
existem regras embutidas nas relações, implícitas, terríveis em sua ascendência
sobre as demais instâncias do ser. Ser então torna-se um exercício de
desviar-se de si. Sendo assim deixamos de lado o nosso Ser... Pois é. Sei, mas
não escapo.
Existem tantas pessoas construídas de beleza (quase todas na
realidade), organizadas como angelicais iniciativas de deuses gozosos, mas caem
nas malhas desta estranha mediocridade que nos faz guardar distância da
alegria, obedecendo a cegueira das leis trançadas de tal forma que parecem
esclarecimentos divinos, justas e corretas, quando não passam de instrumentos
de dominação, controle, medo e dor. O pior é que descobrimos isso, desvendamos
esse abismo, revelamos a conspiração impositiva destas regras, então criamos
novas regras em oposição àquelas e as usamos como justas e corretas quando não
passam de instrumentos de dominação, controle, medo e dor. E, olhando para
estas pessoas e me identificando com elas sinto uma espécie de tristeza que por
sorte passa logo...
Passa logo porque em que pese minhas interpretações
equivocadas do que podem os outros estar sentindo ou pensando, ou minhas
deduções apressadas do que é a vida e do significado das coisas, aprendi a
surpreender-me com a beleza das pequenas coisas e o sabor a novidade que pode
me trazer o dia-a-dia. Sim, em que pese o fato de eu ser bem bocó, e, apesar
dessa minha paradoxal competência para a dor, acabo por cair nas armadilhas que
me estende o tempo e a vida, armadilhas de alegria reveladas pela reverberação
da brisa nas folhas ou o resvalar da luz sobre as superfícies úmidas, corpos
desenhados de lua, campos gerais sob as estrelas, caminhos como galhos
retorcidos de árvores nas serras, olhares bondosos, sorrisos e gargalhadas
saídas quase que do nada, os desenhos detalhados das folhas do filodendro ou o
jogo das nuvens entre as serras e os raios do sol matinal...
Recebam um abraço entre o bem e o mal (risos) de Aureo Augusto.