Nas décadas 50 e 60 do século passado alcançamos um alto
grau de dicotomia bem/mal nas relações políticas no mundo. A experiência da
segunda guerra mundial, onde as democracias (associadas em uma estranha
combinação à URSS) venceram as potências do eixo defensoras do fascismo em
diversas versões, onde havia claramente aqueles que de ambos os lados se
julgavam certos contra os outros, os errados, contaminou a política e a
sociedade. Daí os comunistas odiavam os capitalistas que por sua vez
demonizavam os comunistas. Esquerda e Direita não podiam se ver...
O tempo e o século passaram e a humanidade se deu conta de
que aqueles à direita tinham defeitos e qualidades, e quem estava à esquerda
passava pela mesma situação. Hoje os heróis já não são tão heroicos aos olhos
do tempo e seus exemplos perderam parte do brilho ideológico. Hoje podemos ser
menos maniqueístas.
Infelizmente o velho hábito rapidamente recrudesce quando bulimos
em alguns temas polêmicos como é o caso do parto domiciliar, do parto
humanizado e do parto hospitalar. Desgraçadamente com demasiada frequência não
defendemos um ponto de vista apenas por ele ser algo positivo. Costumamos
contaminar nossa argumentação com nossas dores, traumas, usamo-lo como material
identitário de modo que se está errado nós mesmos que o defendemos passamos a
ser moralmente inadequados ou perdemos valor...
Mas todos nós queremos o bem para a mulher e para a criança.
Queremos a alegria do pai e dos demais parentes e vizinhos, pois o nascimento
de um bebê é um momento precioso para todos. Por isso convém passarmos a
entender que não há (e não deveria haver) conflito entre parto domiciliar e
parto hospitalar. Ambos são seguros desde que sejam observadas determinadas
condições. Outrossim faço o registro que parto humanizado é uma característica
aplicável tanto para o parto domiciliar quanto para o parto hospitalar.
As maternidades públicas (e mesmo uma boa parte das
particulares) não estão dando conta da demanda. O noticiário nos informa isso
com frequência. Em grande medida isso ocorre porque mulheres que poderiam ter
seus filhos em suas residências ou em casas de parto acabam por ocupar um
espaço muito necessário às mulheres que apresentam situações de risco.
Uma condição primordial para que o parto possa ser realizado
em domicílio é que não haja risco. Se a mulher tem hipertensão, se a criança
apresenta certas alterações em seus batimentos cardíacos ou se é prematura,
entre outras condições, não há porque parir em casa, devendo procurar um
hospital.
Se a mulher estiver parindo em casa e ocorrer, por exemplo,
aceleração ou redução acentuada e demorada da frequência dos batimentos
cardíacos da criança, nesse caso deve-se manda-la ao hospital mesmo que o
parto venha a ser normal. Aqui, a finalidade é aumentar o cuidado. Sendo
assim, não devemos ver o parto hospitalar após tentativa de parto em casa como
um fracasso, e sim, como a colaboração da tecnologia com o direito ao desejo de
ser protagonista de seu próprio processo. Algo, enfim, maravilhoso.
A Holanda é o país da Europa com maior quantidade de parto
domiciliar, qualquer pessoa pode comprar o material necessário em uma farmácia,
e é o que tem menos infecção puerperal. Os hospitais e os médicos não estão
sobrecarregados com uma infinidade de partos normais, guardando seus
conhecimentos da patologia para quando as coisas se complicam.
Usando os termos da guerra fria, aqui não se trata de uma
luta entre os “porcos capitalistas” contra os “comunistas ateus comedores de
criancinhas” e sim de duas possibilidades complementares dialogando pela saúde
da criança, da mãe e pela alegria das famílias envolvidas.
recebam um abraço nascituro de Aureo Augusto
Com você comentando, Áureo, tudo parece muito
ResponderExcluirsimples e fazem "tempestade em copo d'água'.
Mas não é tão simples como parece.
Primeiro tem que haver gente capacitada para avaliar
as condições variantes durante o parto.
Depois os meios de transporte adequados e rápidos.
Mesmo que existam parteiras habilitadas, tem-se que
verificar as condições econômicas das parturientes,
não somente para a remuneração das parteiras
como para aqusição do material necessário.
E, resolvidas essas questões, restará ficar de olho
aberto, pois fatalmente surgirão as "máfias do parto".
Infelizmente!
Abraço recém nascido.
grato por seu comentário, Tesco, para não escrever demais deixo de por mtas coisas. Vc está certo.
ExcluirAbração