Como pode o mundo ser tão
belo?
Tão delicioso este tao entre
a luz
E a noite povoada de silêncio
e estrelas?
O canto áspero das cigarras
Roçando-me a pele nos galhos
das árvores
Anuncia-me apenas as alegrias
do dia
Com suas tristezas feitas da
etérea
Matéria que constrói nuvens
floculares
Manifesta-se e se esvai logo
acima do céu
Na cúpula íngreme das
montanhas
Que cercam minha casa no vale
do mundo.
Por isso meu canto é feito de
todos os sentimentos
E sustenta-se no encanto que
é viver!
Não temo muitas coisas,
embora seja covarde
Corro os olhos nos lugares
escondidos e perigosos
Da alma humana e me divirto
aonde as lágrimas
Convidam-nos à reflexão
quanto à fantasia da seriedade.
Bebo a luz que o dia me traz
e a noite que do dia se faz
Enquanto recebo cada um dos
presentes que a vida comporta
Desde a cor iridescente no
corpo da mosca sobre a bosta
De gado, ao gado, assim como ao
gato e seu saltar caprichoso;
O brilho nas folhas após a
chuva ou as formas mutáveis
Do pó embalado pelo pneu dos
carros no solo ressecado;
O campo estendido qual
cobertor de retalhos
E a verticalidade da serra
contra o céu feito de asa de periquito.
Por isso meu canto é feito de
todos os sentimentos
E sustenta-se no encanto que
é viver!
E ainda tem a profusão de
sabedorias humanas
A peculiaridade de cada um em
suas manias
A dor que apenas sente o ser
humano por existir
O jeito único de cada
individualidade caminhando
Como se não fosse parte de um
todo que repete a unidade;
Banho-me todos os dias nas
águas abundantes dos sorrisos
Que me trazem os vizinhos,
seus abraços e exclamações fartas
Deixo-me levar pelo cuidado
que o mundo me tem
Pelo embalo que a existência
me obriga, me faz e me quer.
Vai daí que meu canto é feito
de todos os sentimentos
E sustenta-se no encanto que
é viver!
recebam um abraço de ano novo de Aureo Augusto.