quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

MAESTRIA

            MAESTRIA
Você me ensinou nada mais
Do que eu já sabia.
Não desvendou caminhos desconhecidos
Sabendo no coração que locais
Absolutamente ermos do saber
Não existem, são quiméricos sonhos.

Fez com que recordasse do poder latente
Em minhas células
Nelas e na alma, lembrou-me do prazer crescente
Que a vida pode impor, dispor
Se o coração se abre e investe em ser
Algo a mais que apenas raiz.

Lembrou-me de raiz e fez flores, folhas e frutos
Ensinando-me do poder embutido em mim
Trouxe-me a humildade do amor
Árvores seculares e relva úmida curvando-se ao orvalho.

Uma vez que saboreei apenas a migalha
E com ela me satisfiz da sua beleza
Acometeu-me de renúncia;
Quando lançou-me em toda a luz
Acolheu-me nas trevas e no silêncio
Enquanto de mim fazia senhor dos pássaros chilreantes.

Se construiu o sabor dos corpos amantes
Ausentou-se;
Se ensoberbeceu-me de seu olhar bondoso
Construiu obscuridades;
Se alimentou-me a alegria contagiante
Experimentou em mim saudades;
Se despertou-me todos os dias na esperança
Tornou-me íntimo da morte;
Se ampliou-me a percepção do universo
Fez-me ver o pequeno que sou
Acolheu-me terna no pequeno que sou
E grande como o oceano onde as estrelas se banham.

Dess’arte estendo minha mão ao infinito
E beijo os pés do mendigo
Assim de mim foi feito o silêncio
Que sustenta o meu discurso atroante
Caminho pelas margens dos povos
Enquanto lhes guio os passos
E ouço o canto da vida universal
Surdo que sou, surdo que sou.

Grato, meu coração dispara raivas
E aprende humilde que nada pode exigir
Expandindo-me aos confins do prazer
Estóico e ascético às bordas da fortuna
Estou aguardando o que não virá
Louco da esperança pelo que não será
Feliz na plena alegria que não despreza a dor. 

                                   recebam um beijo poético de Aureo Augusto


4 comentários:

  1. Extremamente hermético quando não explicitado o objeto do poema.
    Por todas as características atribuídas ao "você", este me parece coincidir com o papel
    da maioria das 'mães'.
    É ela quem protege o ser, mas o apresenta diante do universo, ressaltando suas (do ser)
    possibilidades.
    Seria um tributo mais do que justo, perante as dificuldades que uma mãe enfrenta pelos filhos.
    Abraço sob a batuta de uma mãe.

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    1. Vc deu no cravo, quase. A resposta seria: todas as mulheres. Legal!

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  2. Cada um recebe a arte como o seu ser está afinado. Faz tempo que ñ leio um poema teu täo bonito; antes te disse que prefiria a tua prosa, mas agora silencio e saboreio as lúcidas palabras de quem descobre no amor humano um amor mais grande em sí mesmo que até se pode compartilhar com transcendencia. Se me permite, vou tomar uns versos e traducir para meus amigos, posso?

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