BRISA
LEVE DO TEMPO
Talvez uma brisa leve
Isso são os anos passando...
Dessa perspectiva
As tempestades absorveram-se a si
Desde o passar do tempo
O tempo desfaz como faz.
Reconheço-me: bobo como uma noz
Infinito como a redondez de um côco
Desse lugar alto que o tempo me pôs
Descubro-me além do tempo
E não sei bem o quão anacrônico
Pode configurar-se o configurado
Como esperado, feito, conforme.
Toca-me saber que não tenho tempo
Não
há tempo
Não
falta tempo
Sou
o tempo e,
Sou parte do que falta no tempo
E de alguma forma não tenho idade
Nesse espaço em que uma antiga serpe
Dobrou-se sobre si, mordeu a cauda
Engole-se a si desde o princípio.
Sou o coração dos jovens, seus desejos e
sonhos
Isso sou, com aquela alegria das cirandas
E o cerne dos idosos fortalece-me, pois que
Sou a alma dos idosos em seus desejos e
achaques
As estrelas brilham sobre a minha cabeça
A noite me remete aos prazeres da noite
E quanto nasce o dia os pássaros
Me contam suas lendas...
Sou e nada, danço com a dor e a morte
Todos os dias e algumas noites;
Assim também sou a alegria das crianças
Alegria que faz de mim o que sou
Mais que as dores, mais que a morte
Ou a História, mais que tudo aquilo que
aprendi
Mesmo aquilo que aprendi com o olhar de meu
pai
E a placidez de sua mão forte ou a palavra de
minha mãe
E a prolixidade de sua rica cozinha
Enquanto instrumento de carinho.
Enfim... constato:
O tempo passou, vivi
Mas a rigor nada de tanto assim
Ou mais eu aprendi.
Vivi, e?
Viver é a única resposta
Para a pergunta que não merece ser formulada.
Aqui estou
Que venha a mim o Universo!
Aureo
Augusto, Vale do Capão, 17/1/18.