sábado, 3 de dezembro de 2016

CUIDADO DOS MORTOS

Muitas pessoas do meu conhecimento ficaram chocadas com a insensibilidade do Congresso Nacional frente ao acidente aeronáutico que levou à morte de esportistas do Chapecoense. A Colômbia fez uma bela cerimônia por conta do luto e até o serviço diplomático de outros países enviou pêsames ao governo brasileiro, o qual manteve-se praticamente como se nada acontecesse.

No entanto, se bem notamos, o Congresso e o Executivo nacionais demonstram bem pouca preocupação pelo povo, ou pelos acontecimentos que afligem à nação. Não há apreço pelo ser humano que vive na lide diária buscando o “pão nosso de cada dia”. O povo é lembrado em época de eleição ou faz-se um teatro de baixa qualidade no cotidiano político, onde os atores (deputados, senadores, presidentes...) executam uma pantomima tentando convencer às pessoas da veracidade de suas preocupações, induzindo-nos a crer que estas preocupações dizem respeito à pátria ou ao povo que mantém a pátria. Na realidade a preocupação resume-se a manter-se no cargo e ampliar as benesses que este pode trazer.
Parodiando Oscar Wilde in “O Retrato de Dorian Gray”, eu diria que a classe política, de regra, é como se fosse os produtos de uma loja de quinquilharias com todos os preços acima da tabela – ou do seu real valor. Sérios presidentes da república se sucedem, vetustos presidentes da câmara e do senado, nobres deputados e senadores, vereança – um bando de mendigos morais pavoneando-se qual cardeais da alta cúpula de uma opulenta igreja.

E a nós? Cabe-nos o silêncio mormacento dos dias de labuta tentando construir uma vida decente sob tributação indecente que mantém quadrilhas que se alternam no poder.
Não estranhemos a displicência para com parentes e amigos dos mortos, afinal, em alguma medida todos nós, gente comum, não passamos de mortos para a sanha dos abutres que se locupletam da nossa impotência.
Porém, não creio que os mortos serão sempre mortos. Em que pese o formol que conserva o cadáver político em nosso país, como no livro Incidente em Antares de Érico Veríssimo, os mortos sairão a caminhar.

Caminhamos, enquanto o tempo passa, nós, as pessoas comuns aprendemos. Aos poucos vamos olhando com olhar crítico o que nos diz a imprensa, os discursos dos políticos e seus atos, a lógica de uma economia centrada no lucro e nos que auferem os lucros.... Devagar, evolutivamente, aprenderemos a dizer não.

Os abutres políticos desdenham do tempo porque creem que vivem da morte (o silêncio das consciências), desprezam os ciclos da vida porque alimentam-se daquilo que aparentemente não muda (a desmemoria de nossa gente), desconhecem a evolução porque apoiam-se na estabilidade da ignorância que eles fomentam em segredo (a educação que produz disfuncionais).

E apesar de suas verdades elaboradas na mentira, os políticos verão o mudar dos tempos. E verão que eles são os cadáveres de sua própria imoralidade.
Sei que nem todos são bandidos, mas a maioria é, e, mesmo assim, com essa maioria, não conseguem conter a mudança que se frágua em segredo e a maioria um dia será minoria. Aguardemos.


Recebam um abraço revoltado de Aureo Augusto

2 comentários:

  1. A lógica deles diz: "Mortos não votam, e é isso que interessa".
    (Alguns votam, mas são minoria).
    Sim, o cipó de aroeira ainda vai voltar ao lombo de quem mandou dar! (Vandré).
    Abraço indignado.

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    1. Pois é, meu amigo, estamos em uma situação indignante.
      abraço

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