Muitas pessoas do meu conhecimento ficaram chocadas com a
insensibilidade do Congresso Nacional frente ao acidente aeronáutico que levou
à morte de esportistas do Chapecoense. A Colômbia fez uma bela cerimônia por
conta do luto e até o serviço diplomático de outros países enviou pêsames ao
governo brasileiro, o qual manteve-se praticamente como se nada acontecesse.
No entanto, se bem notamos, o Congresso e o Executivo
nacionais demonstram bem pouca preocupação pelo povo, ou pelos acontecimentos
que afligem à nação. Não há apreço pelo ser humano que vive na lide diária
buscando o “pão nosso de cada dia”. O povo é lembrado em época de eleição ou
faz-se um teatro de baixa qualidade no cotidiano político, onde os atores
(deputados, senadores, presidentes...) executam uma pantomima tentando
convencer às pessoas da veracidade de suas preocupações, induzindo-nos a crer
que estas preocupações dizem respeito à pátria ou ao povo que mantém a pátria.
Na realidade a preocupação resume-se a manter-se no cargo e ampliar as benesses
que este pode trazer.
Parodiando Oscar Wilde in “O Retrato de Dorian Gray”, eu
diria que a classe política, de regra, é
como se fosse os produtos de uma loja de quinquilharias com todos os preços
acima da tabela – ou do seu real valor. Sérios presidentes da república se
sucedem, vetustos presidentes da câmara e do senado, nobres deputados e
senadores, vereança – um bando de mendigos morais pavoneando-se qual cardeais
da alta cúpula de uma opulenta igreja.
E a nós? Cabe-nos o silêncio mormacento dos dias de labuta
tentando construir uma vida decente sob tributação indecente que mantém
quadrilhas que se alternam no poder.
Não estranhemos a displicência para com parentes e amigos
dos mortos, afinal, em alguma medida todos nós, gente comum, não passamos de
mortos para a sanha dos abutres que se locupletam da nossa impotência.
Porém, não creio que os mortos serão sempre mortos. Em que
pese o formol que conserva o cadáver político em nosso país, como no livro
Incidente em Antares de Érico Veríssimo, os mortos sairão a caminhar.
Caminhamos, enquanto o tempo passa, nós, as pessoas comuns
aprendemos. Aos poucos vamos olhando com olhar crítico o que nos diz a
imprensa, os discursos dos políticos e seus atos, a lógica de uma economia
centrada no lucro e nos que auferem os lucros.... Devagar, evolutivamente,
aprenderemos a dizer não.
Os abutres políticos desdenham do tempo porque creem que
vivem da morte (o silêncio das consciências), desprezam os ciclos da vida
porque alimentam-se daquilo que aparentemente não muda (a desmemoria de nossa
gente), desconhecem a evolução porque apoiam-se na estabilidade da ignorância que
eles fomentam em segredo (a educação que produz disfuncionais).
E apesar de suas verdades elaboradas na mentira, os
políticos verão o mudar dos tempos. E verão que eles são os cadáveres de sua
própria imoralidade.
Sei que nem todos são bandidos, mas a maioria é, e, mesmo assim,
com essa maioria, não conseguem conter a mudança que se frágua em segredo e a
maioria um dia será minoria. Aguardemos.
Recebam um abraço revoltado de Aureo Augusto
A lógica deles diz: "Mortos não votam, e é isso que interessa".
ResponderExcluir(Alguns votam, mas são minoria).
Sim, o cipó de aroeira ainda vai voltar ao lombo de quem mandou dar! (Vandré).
Abraço indignado.
Pois é, meu amigo, estamos em uma situação indignante.
Excluirabraço