É preciso privar-se da agitação
desregrada, à qual se entrega a maioria dos homens, que vemos precipitarem-se
alternativamente nas casas particulares, nos teatros e nos lugares públicos:
sua mania de se intrometer nos negócios dos outros lhes dá uma r de grande
atividade. Pergunta a algum deles, quando sai de casa: “Aonde vais? Qual é teu
destino?” Ele responderá: “Por Hércules! Não sei nada, mas eu verei gente e
encontrarei qualquer coisa para fazer”. Eles vagam assim ao acaso mendigando
ocupações ... Quantas pessoas levam uma existência semelhante, que se chamaria
muito justamente preguiça agitada.
Este parágrafo foi escrita por Lúcio Aneu Sêneca, filósofo
latino, há mais de 1500 anos atrás. Ao lê-la em seu agradável texto intitulado
“Da Tranquilidade da Alma”, não pude deixar de associa-la a um número razoável
de pessoas que vejo presas ao Facebook. Na época de Sêneca o correspondente às
redes sociais e aos e-mails era o sair de casa em visitas e mais visitas,
correr atrás de conversas apenas em aparência interessadas e interessantes, falsamente
resolutivas e decisivas, nas praças, nas residências particulares, nos banhos
públicos.
Hoje testemunho a incomunicação dos meios de comunicação a
serviço da superficialidade das relações numa reprodução moderna de um mundo
que afundou com as invasões bárbaras, mas capaz de manter suas características
apesar da passagem do tempo. Uma pena porque o Facebook, o Twiter, os e-mails,
são uma grande oportunidade de democratizar relações e gerar informação
formativa. Mas temos o dom de nos perder.
Penso que é maravilhoso enternecer-me com o primeiro sorriso
de um bebê que sua mãe postou com a emoção dos que amam. Gosto disso e não
deixo de pingar o meu “curtir”. Mas também olho com preocupação a desocupação
das conversas ou a maquinização com que pessoas encaminham e-mails ou postam
informações em suas linhas do tempo sem nenhum interesse maior do que
satisfazer aos imperativos da preguiça agitada, mencionada por
Sêneca. Sem nenhuma tentativa de senso crítico, de verificação, ou de cuidado
quanto à verdade, à veracidade, à consequência, ao significado do posto nas
letras da virtualidade.
“Preguiça Agitada”: Que conceito precioso este daquele autor
antigo. Vejo um sem número de pessoas agitando os dedos sobre pequenos
teclados, frenética e preguiçosamente agitadas na busca de nada saber sobre
todas as coisas, ou melhor, sobre todo o mundo. Uma verdadeira doença e
finalizo com o mesmo Sêneca: “A esta doença se prende um vício horrível: Este
de se informar de tudo, de estar à espreita de todas as novidades, tanto
secretas como públicas, e de possuir uma quantidade de histórias perigosas para
contar e igualmente perigosas para ouvir”.
Recebam um abraço admirado do Facebook e outras tecnologias (sem
ironia) de Aureo Augusto.
Caro Áureo!
ResponderExcluirLi, hoje, um testo de Paramahansa Yogananda, que focava o grande enigma do se humano: De onde viemos, onde estamos, para onde vamos. Continuava afirmando que as técnicas yogues de meditação são as ferramentas que nos capacitam a entender ser e curar essa tal Preguiça Agitada!
Paramahansa Yoganada é um Mestre Espiritual fundador da Self-Realization Fellowship, Organização que difunde Kriya Yoga (www.yogananda.com.br)
Grato Carlos, por suas palavras, já li a Autobiografia de um Yogue e simpatizo com Yogananda conquanto conheça pouco. Tb creio que o yoga é uma resposta.
Excluirabraço
ResponderExcluirComo pode ver, Áureo, o problema não são as tecnologias, mas as pessoas.
Estas evoluem lentamente e, frequentemente, são ultrapassadas pelo
avanço tecnológico, que lhes abre possibilidades de expandir o conhecimento,
mas preferem ficar com as superficiais informações.
O que fazem com a informação? Transformam-na em bem duradouro?
Não! Passam-na adiante e continuam flutuando na superfície dos fatos.
O que vemos é que pensadores que discorrem sobre atitudes da humanidade.
sejam 600, 100, ou a500 anos atrás, continuam atuais.
Abraço internético.
E pensemos tb que as tecnologias podem potencializar nossas incompetências.
Excluiroutro ciberabraço procê