O nome dela é Maria, posso dizer sem preocupações éticas,
mesmo sem pedir permissão, pois aqui no Vale do Capão é tanta gente com o nome
Maria que não é possível encontrar ninguém com apenas essa pista. Temos Maria
da Conceição, da Glória, do Amparo e da Paixão... pra não falar de Aparecida,
das Dores, Emília e tudo o mais. As Marias, nas fichas do posto de saúde ganham
longe pros Antônio, José, Raimundo e mesmo para os Sebastião que é o nome do
padroeiro do lugar. O nome Sebastiana não tem como contar já que os pais
homenageiam o santo, mas fico besta de ver Célia (que todos chamam assim, mas
na verdade é Sebastiana), ou Antônia, ou Emerenciana, ou Neuza (tudo
Sebastiana).... Fico pensando no porquê de botar um nome para fazer a homenagem
ao santo e depois desmerecer chamando por outro nome que nada tem a ver com o
original. Mas assim é, e se é, está feito e não vai ser eu a mudar o costume
que não é nenhuma ruindade demais.
Mas comecei a conversa por outra coisa e desandei por outro
assunto. Volto:
Pois bem, a Dona Maria em questão, uma senhorinha muito
deliciosa com sua carinha de passa de uva, terna no jeito de falar, ela me veio
pedir uma receita de Hidroclorotiazida, que já usa de um tanto de tempo porque
tem hipertensão e já de outras eras lhe foi receitado por um médico.
Mas ela me explicou que queria uma genérica, mas de uma
marca específica. Nem tentei dizer que todos são Hidroclorotiazida 25mg, que o
governo fornece, bastando ir na farmácia com os documentos e pronto. Não tentei
porque já havia tentado com outras Marias e outros José e João e Sebastião e
eles não querem acordo. Me dizem: “Sabe dotô, o qui é bom mermo pra mim é
aquele vermeinho”. Já tentei explicar que a cor depende da fábrica, mas a
substância é a mesma. Não adianta. Não tem o que discutir. Apenas tentar
descobrir onde encontrar o vermeinho, ou o da caixa pequena e gordinha...
Seguramente há algo por detrás disso, talvez alguma espécie
de efeito placebo (que não é algo desprezível, já que pode desencadear a
competência orgânica de resolver-se a si mesmo) ou de simpatia – tanto no
sentido comum, mágico, quanto no sentido de que desperta uma afinidade que pode
potencializar seu efeito.
Talvez algum dia alguém mais preparado do que eu se disponha
a estudar estas preferências e quiçá descubra algo bem interessante e útil
nessas escolhas. Por enquanto, já fiz a receita de D. Maria e acrescentei uma
observação para a balconista da farmácia, indicando que ela quer aquele
específico, pois me agrada vê-la feliz.
Abraço de receita certa pra vcs de Aureo Augusto.
Sorte minha se pudesse tê-lo como médico da minha família....., mas terei que me contentar com os seus belos textos, o que já é muito. Obrigado.
ResponderExcluirOh, Murilo! Grato. Mas é bom lembrar que embora existam vários médicos que não correspondem às expectativas, tem mta gente boa por aí, em silêncio, honrando a tarefa do cuidado.
ExcluirAbraço
Áureo, eu fico imaginando se efeito placebo é o termo q a ciência arranjou p nomear a nossa capacidade de plasmar uma cura, ajudando o organismo a se auto regular. Penso q a ciência se auto legítima e, portanto, não pode validar algo, uma vez q ainda não possui os instrumentos para tal. Abs, Jana
ResponderExcluirMto bem dito, no entanto a autolegitimação da ciência nos trouxe mtos benefícios, conquanto também alguns equívocos. Vamos em frente.
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