“Essa merda de SUS!”. Foi com essa frase dura que um turista
se referiu ao Sistema Único de Saúde quando veio ao posto. No entanto, aqui,
nesse lugar tão ruim em seu julgamento, ele foi recebido com o devido respeito e
cuidado. Embora estivéssemos em um posto de saúde da família, que se dedica ao
cuidado da comunidade, das famílias que compõe esse pequeno universo retido
entre as montanhas e o céu estrelado nas noites feitas de grilos e corujas,
pois bem, em que pesem os insultos, foi atendido por mim, medicado e saiu bem.
Ele nem se deu conta que a Unidade de Saúde da Família de Caeté-Açu,
é parte do SUS.
Muita gente detesta o SUS, apenas porque não precisa dele,
ou não conhece. Ou, e isso é muito sério, não conhece o povo brasileiro que não
vive nos condomínios cercados de muros e arame farpado, protegidos por
seguranças (que moram em lugares desprotegidos).
O povo do Vale do Capão, espera para ser atendido. Mas é
atendido, de regra, no mesmo turno em que procura o serviço. Dirão vocês que
isso aqui é uma ilha fora do mundo. Não é não. Em Baixão Velho, povoado em Seabra,
bem distante da sede ocorre o mesmo. Assim também em Água de Rega, outro
povoado, desta vez em Iraquara. Ali também as pessoas são atendidas sem esperas
absurdas. Na mesma Iraquara, temos Iraporanga, cujo posto é lindo, com jardim
interno e horto de plantas medicinais...
Destes postos, alguns têm medicações, outros não, o
equipamento nem sempre está em bom estado, e os funcionários não estão
satisfeitos com seus proventos. Mas cumprem seu papel. O que seria da gente vizinha
a estes postos sem o SUS?
Um vizinho meu teve um câncer no joelho esquerdo. Foi o SUS
quem garantiu cirurgia e prótese. Esse rapaz jamais teria condições de se
recuperar sem o SUS. Uma senhora da Lagoa (bem perto do povoado onde vivo)
acaba de ser submetida a uma histerectomia que lhe salvou a vida. O SUS lhe
salvou a vida. Um homem que desprezou a Agente Comunitária de Saúde que foi
cadastra-lo em sua residência, porque não precisava do SUS, veio ao posto, pois
carecia de uma cirurgia e os recursos de que dispunha não eram suficientes.
Fará a cirurgia, e se bem o conheço depois da alta irá se queixar com os amigos
dos defeitos que encontrará em sua internação e provavelmente esquecerá que dos
males que possa ter sofrido nenhum deles superará o bem que receberá. Tomara
ele mude e veja que o problema não é o SUS.
O SUS é solução. Mas esta solução maravilhosa carece de
aperfeiçoamento, precisa de melhoras, de mais recursos. Escutemos a queixa dos
usuários!
Penso que poderíamos diminuir salários, verbas de gabinete,
jetons e tantas outras benesses que os deputados e senadores auferem e empregar
tudo isso para, no âmbito do SUS, fomentar, incentivar, propagandear o
autocuidado, mudanças de hábitos alimentares, atividade física etc. Ah! Se isso
acontecesse teríamos menos hospitais, pois não haveria tanta necessidade de
filas. Menos doentes, menos doença, mais alegria e saúde.
Porém em um ambiente onde a publicidade praticamente nos
impõe beber e comer o que há de pior e onde esquecemos a atenção básica
fixando-nos na propaganda que a inauguração de um hospital possibilita, o SUS
terá sérias dificuldades. Em um país
onde a politicagem mesquinha é mais importante que as pessoas, o SUS continuará
sendo o bode expiatório atrás do qual se esconderão os ignorantes, os
negligentes, os políticos e empresários ricos em má fé.
Recebam um abraço SUSico de Aureo Augusto
Muito oportuno seu texto, Áureo, no momento em que o ministro da saúde do governo provisório de Temer, está ameaçando acabar o SUS, querendo abraçar a sanha ao grande capital que sempre jogou contra o povo e não está nem aí com os agentes comunitários e toda a equipe que dá suporte ao Sistema Único de Saúde. Como vc bem disse, o que o governo precisa é sair da politicagem mesquinharia e acolher uma política decente que incentive qualidade de vida de modo holistico! Testemunhos como o seu são essenciais nesse contexto insano que vivemos. Veio em muito boa hora e deveria ser postado na grande imprensa para o mundo ler!
ResponderExcluirGrato querida, tomara possamos (gnt como eu e você) contribuir para que certos interesses (escusos) não sobrepujem o bom senso e o senso de dever.
ExcluirMuito bom querido! A generalização da desqualificação é uma mal hábito!
ResponderExcluirInda bem que existe gnt como tu e ttos outros, que infelizmente não têm o poder político nas mãos, mas que (quiçá por isso não têm o poder político) olham com o coração esse mundo nem sempre justo.
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