sábado, 26 de setembro de 2009

O PEIXE-BOI, O MISTÉRIO E O MEDO

Queridos amigos,
estou de volta! Foram férias pequenas, mto pequenas, porém deliciosas.
Eis um texto que escrevi para partilhar uma das experiências:
Tive uns dias de férias e fui passear na beira do mar. Cybele e eu rumamos para uma praia ao norte de Maceió, Porto da Rua. Vou dizer uma coisa: Conheço um bocado de praia, da foz do Chuí a Fortaleza; também conheço algumas praias nas margens do pacífico, no Chile, mas não conheço cor de mar mais linda do que aquela no mar de Alagoas. Na praia da Penha (Ilha de Itaparica) ou em Guarajuba, na vazante, há equiparação, mas não dá pra ganhar. Antigamente quando viajava para aquele estado, ficava em uma linda localidade chamada Pontal do Coruripe, que infelizmente vem sendo dilapidado pelo turismo incoordenado. Ademais, em Alagoas o movimento por uma alimentação saudável é pouco vital, tanto é que se você agora chegar no shopping Maceió, que é grande, e procurar suco natural, não acha. Tudo é polpa. Muitas vezes, em Pontal procurei salada e terminei no tomate com cebola. Algumas vezes dei de cara com alfaces cujo aspecto era terrível. Só com muita coragem pra comer. Tudo mudou quando conhecemos uma pousada em Porto da Rua, a Amendoeira, sita em uma praia afastada da vila, sumamente bela, lastrada de peixinhos coloridos, onde mais do que tomar banho de mar, nadamos nas cores. O lugar é demais! Luz, tranqüilidade e, pra quem quer, comida natural, muito gostosa, com atendimento impecável: Excelência sem afetação ou distanciamento.
Mas o ponto alto de todo o passeio foi um encontro maravilhoso com um bicho muito simpático: O peixe-boi. Há uma família, mas só conhecemos um dos moradores de um rio próximo que são o foco do excelente trabalho de proteção que o IBAMA vem fazendo ali. O rio é cuidado inclusive pelos pescadores que antes adorariam detonar o bicho, mas agora ganham com os visitantes (as visitas são controladas) que querem dar uma olhada nele. São vários, mas só vimos um: Poti. Um jovem simpático e curioso. Quando chegamos perto com a jangada ele, que estava almoçando aproximou-se e fixou em nós seus pequenos olhos, para desespero do jangadeiro, que tinha que (por lei) manter-se a 10 metros de distância.
Sabem? Há um mistério em nossa relação com os demais seres. Há alguns dias encontrei um cajueiro cujo tronco era diferente dos demais. Fiquei algum tempo descansando minha alma na contemplação da luz distribuindo-se pelos seus ramos. Naquele momento contatei o mistério. Mas não sei dizer o que é. É uma alegria, mas também é um silêncio. Foi assim com o peixe-boi. Certas coisas na natureza nos aproximam de uma algo que só sei chamar de Mistério. Nós, seres humanos, em muitos momentos temos medo daquilo que não sabemos, em parte é essa a razão deste nosso insaciável desejo de conhecer. Apenas em parte. Em realidade, conhecer (mas não apenas analiticamente) é intrínseco a nossa natureza. Mas há o Mistério. A questão é que somos o Mistério e de vez em quando fenômenos externos a nós (se é que os há, ou, dito melhor, se é que há sentido em se definir interno e externo) anunciam-nos que existe algo que não podemos enquadrar nos nossos esquemas cognitivos. Na Inglaterra, quando a revolução industrial ofuscou as mentes com as suas maravilhosas conquistas, houve um momento em que era moda derrubar seculares árvores. Ali se optou pelos esquemas elaborados por uma cognição encantada consigo mesma. O medo do desconhecido prevaleceu.
Chaplin disse que “a vida pode ser bela quando não há medo”. Infelizmente a ciência se desenvolveu em um mundo onde o medo era a tônica (e a religião soube – e sabe – usar isso em proveito próprio). Como poderia escapar do medo? Como escaparemos do medo?
O peixe-boi naquele lugar e naquela situação é uma resposta. Uma de muitas.
Fico feliz de estar de volta “conversando” com vocês. Aureo Augusto.

Nenhum comentário:

Postar um comentário