quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

A INVASÃO DOS DESCONECTADOS

Comentei em uma postagem anterior como a Chapada, em que pese o seu passado violento, convida ao silêncio. No fundo de minha casa corre um rio em cujas águas me banho todas as manhãs, antes do sol nascer. Aquele lugar me dá calma, refresca, enfim, muito mais que o corpo. O mesmo acontece no poço da Cruzinha, na Cachoeira da Angélica, ou da Purificação, lugares enternecedores. Há um remanso logo no início da trilha que vai para Lençóis que é delicioso e o lugar chamado Águas Claras é delicado e aconchegante. Em cada um desses lugares e em outros, e, mesmo, sentado à porta de casa, descansando os olhos no Morro Branco e outras serras ao redor, posso ficar horas, apenas contemplando... Isso é o Vale do Capão. Assim é a Chapada Diamantina.

Então me impressionam os inúmeros jovens que estão chegando neste período por aqui. Em geral causam estranhamento nos moradores por seus modos pouco higiênicos, pelo barulho todas as noites, pelo excesso de bebidas e drogas, entre outras coisas. Parece-me que não vieram para este lugar e nele passam o tempo como se não o tocassem ou vissem. Vêm aqui e veem isso aqui apenas como mais um espaço onde podem fazer o que fazem em qualquer outro lugar: beber, fumar, cheirar, festejar. Durante a noite os moradores ficam incomodados porque seus passeios ficam transbordando de gente gritando, dançando, escutando música alta, bebendo... Ao amanhecer a frente da casa lastrada de copos plásticos, garrafas de bebidas. Então os comensais da noite dormem todo o dia, para novamente voltar à árdua obrigação de esvair-se. Isso se repetindo insanamente diuturnamente. Muitos procuram o posto de saúde em deplorável estado, em crises de garganta, asma, diarreias, dores desesperantes, desesperados pedindo a ajuda que negam a si mesmos. Atendidos, nem sempre gratos, voltam à rotina de raspar toda a energia vital jogando-a no lixo de um dia-a-dia ou noite-a-noite que se tornou uma obrigação de vício.

Estes dias, um sujeito (aparentemente com certa comiseração da mãe) derrubou as traves que são colocadas na praça São Sebastião para tolher a passagem nesses dias de festa do padroeiro local. Com seu carro invadiu o espaço reservado e fez cavalos de pau adoidado, para revolta da população. O povo a custo conseguiu conter o carro, esvaziou os pneus, houve briga e sopapos. Mas o grupo daqueles que queriam que a polícia viesse ganhou daqueles que desejavam fazer justiça com as próprias mãos, estimulados pelas tantas noites tentando dormir em vão para trabalhar no dia seguinte. Por sorte veio a polícia e levou o motorista à cadeia. Quem lê isso e não conhece o Capão não faz ideia do risco. Aqui as praças são das crianças que nelas sentem-se na extensão de suas casas. Há quatro dias outro rapaz estava fumando maconha dentro da farmácia. A balconista pediu-lhe que se retirasse e ele a tratou com muita grosseria por estar cerceando seus direitos. Um morador aqui da rua, teve que usar um cabo de telefone para às 2h da madrugada expulsar os notívagos barulhentos de sua porta. No dia anterior haviam saído, a instâncias do mesmo morador, da porta de um casal de idosos.

Tem sido terrível para a gente daqui que quando ouve falar que vai ter um show chamado Universo Paralelo já começa a se preocupar com o dia seguinte, pois esta tropa tresloucada sai dali para tentar continuar aqui, até que o povo os expulsa, como ocorreu no ano passado.

Não sou um moralista. Acho a farra algo bem legal – conquanto eu mesmo não seja dado a esta atividade salutar quando esporádica – mas o que ocorre pelos lugares aonde os egressos deste Universo Paralelo chegam não tem nada de salutar.
A comunidade aqui no Vale já está chegando ao nível do insuportável. Logo teremos expulsões, mas eu gostaria que a polícia viesse por aqui, afinal, não cabe ao cidadão comum fazer este papel.


Recebam um abraço de um Vale do Capão um pouco cansado de Aureo Augusto.

5 comentários:

  1. Meu caro, amigo

    Quando estive pela primeira vez, no vilarejo de Caeté Açu, eu me choquei, de princípio. Já postei aqui antes e eu acho que vc nem reparou.

    Mas o vilarejo fugiu de tudo que eu imaginava. Vi muita gente bebendo, fumando, som nas alturas, enfim.

    Aqui em Cações, graças a Deus, tem os surtos agudos mas não vira epidemia e nem croncifica a situação. Por ser um vilarejo dividido por nativos e moradores sazonais que abominam estas coisas, ainda se tem paz. Mas o que fazer que esta turma que só quer bagunçar hem?

    Abraços


    ResponderExcluir
  2. graças a Deus tb a coisa aqui é sazonal. Ocorrem mais estas coisas no final do ano e depois do tal do UNiverso Paralelo. Mas, regularmente aqui tem gente bebendo nos bares, mais do que eu gostaria.

    ResponderExcluir
  3. Este pessoal era do universo paralelo mesmo? Porque o álcool nem é a droga preferida das pessoas que frequentam este tipo de festival, eu nunca fui em um, mas tenho amigos que frequentam e nem usam álcool.É só um questionamento para entender de fato quem são estas pessoas e não propagar uma ideia errada de um festival de musica eletrônica que é valido. Moro em Lençóis e aqui teve o Ressonar e nele eu percebi que poderia levar minha filha de nove anos porque aquela não era uma festa onde estavam todos embriagados, pelo contrario, havia pessoas dançando fazendo malabares, muito colorido e nem uma briga, pelo menos foi o que eu vi. Então é complicado falar em nome do Universo Paralelo e colocar tudo no mesmo saco, dançar é saudável e o que eu mais vi estas pessoas fazerem foi dançar.Porém compreendo sua revolta e me solidarizo só não acho legal criar rótulos e generalizar em nome de um caso específico.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Agradeço sua solidariedade, e também não quero que pensem que todos que vão ao UP são do jeito desta turma que vem por aqui; mas foram eles mesmos que me disseram que vieram do dito festival. Uma jovem procurou o posto pq (nas palavras dela) vinha de usar droga por vários dias, sem dormir, só dançando e comendo mal. Estava em péssimo estado. Disseram ela e o namorado que estavam no festival.

      Excluir
  4. Estive no capão agora entre dias 09 e 10/01, é assim... a policia precisa ser pro-ativa! Precisa ser preventiva! É no Brasil todo. Em São Paulo, capital, vemos agora os bailes funk. No metrô bebados falando palavrões em voz alta. Titulo inédito agora conquistou, alarmado pela ONU nesta semana: recordista em trafego de cocaina! Esta um desmando este Brasil!

    ResponderExcluir