segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

ESTIVA

Hoje conheci um lugarejo que participou bem ativamente da história guerreira da Chapada Diamantina. Seu nome oficial é Afrânio Peixoto, mas ninguém chama assim. Todos o conhecem como Estiva. Faz parte de Lençóis.
O lugar é bem bucólico, mas as ruínas dão mostra da pujança antiga. Comparando estas ruínas com as casas atuais, mesmo o posto de saúde novinho, vemos como no passado havia mais cuidado nas construções e como eram maiores, mais imponentes. Pena que esta imponência foi resultado de muita dor, luta, desastres (incluso ecológicos). O garimpo aqui na Chapada e a riqueza subsequente trouxe milhares de pessoas para cá, conduzidas pela ganância, tão natural em nós, seres humanos. Mas, a vista do brilhante fez com que muitos perdessem o siso. Aqui neste pequeno e hoje quieto povoado, muitas pessoas morreram nas correrias de coronéis e jagunços. Incêndios, estupros, vinganças, vendetas, torturas, roubos, traições... Tudo que pior pode o ser humano criar veio no rastro da beleza incorruptível da pedra preciosa. Impressiona o paradoxo da beleza em presença da maldade mais abjeta.

A Chapada é um lugar que convida ao silêncio, à meditação, ao recolhimento, embora o espírito de aventura marque as almas (e muitas vezes os corpos) de muitos que aqui aportam em busca de suas belezas estonteantes. Então, aventura e sossego em um mesmo lugar. É difícil para quem chega agora adivinhar o quanto de violência maculou a calma destas montanhas e platôs.

Despedi-me da povoação pensando no quanto é bom que conseguimos aqui no Brasil alcançar um estado onde o direito não é apenas do mais forte e do mais rico. Os leitores poderão questionar estas palavras, pois sabemos do tanto de injustiças que ainda maculam a justiça em nosso país. Realmente são muitas, mas naquele passado em que Estiva era grande, não havia justiça. O senhor de jagunços é quem definia o certo e o errado sem respeito por este ou aquele que ousasse opor-se a qualquer de seus desejos. Aqui não havia paz, não havia segurança de nenhuma espécie.

Agora as pessoas de boa vontade cultivam a terra enquanto o sol alteia-se entre as nuvens.


Recebam um abraço estival de Aureo Augusto.

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