Hoje conheci um lugarejo que participou bem ativamente da
história guerreira da Chapada Diamantina. Seu nome oficial é Afrânio Peixoto,
mas ninguém chama assim. Todos o conhecem como Estiva. Faz parte de Lençóis.
O lugar é bem bucólico, mas as ruínas dão mostra da pujança
antiga. Comparando estas ruínas com as casas atuais, mesmo o posto de saúde
novinho, vemos como no passado havia mais cuidado nas construções e como eram
maiores, mais imponentes. Pena que esta imponência foi resultado de muita dor,
luta, desastres (incluso ecológicos). O garimpo aqui na Chapada e a riqueza
subsequente trouxe milhares de pessoas para cá, conduzidas pela ganância, tão
natural em nós, seres humanos. Mas, a vista do brilhante fez com que muitos
perdessem o siso. Aqui neste pequeno e hoje quieto povoado, muitas pessoas
morreram nas correrias de coronéis e jagunços. Incêndios, estupros, vinganças,
vendetas, torturas, roubos, traições... Tudo que pior pode o ser humano criar
veio no rastro da beleza incorruptível da pedra preciosa. Impressiona o
paradoxo da beleza em presença da maldade mais abjeta.
A Chapada é um lugar que convida ao silêncio, à meditação,
ao recolhimento, embora o espírito de aventura marque as almas (e muitas vezes
os corpos) de muitos que aqui aportam em busca de suas belezas estonteantes. Então,
aventura e sossego em um mesmo lugar. É difícil para quem chega agora adivinhar
o quanto de violência maculou a calma destas montanhas e platôs.
Despedi-me da povoação pensando no quanto é bom que conseguimos
aqui no Brasil alcançar um estado onde o direito não é apenas do mais forte e
do mais rico. Os leitores poderão questionar estas palavras, pois sabemos do
tanto de injustiças que ainda maculam a justiça em nosso país. Realmente são
muitas, mas naquele passado em que Estiva era grande, não havia justiça. O senhor
de jagunços é quem definia o certo e o errado sem respeito por este ou aquele
que ousasse opor-se a qualquer de seus desejos. Aqui não havia paz, não havia
segurança de nenhuma espécie.
Agora as pessoas de boa vontade cultivam a terra enquanto o
sol alteia-se entre as nuvens.
Recebam um abraço estival de Aureo Augusto.
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