Não gosto de pediatria. As crianças demonstram gostar muito do meu consultório. Regra geral os pais têm alguma dificuldade para conseguir retira-las depois da consulta, mas não me agrada vê-las doentes. Além disso, falta-me aquela sensibilidade dos pediatras e dos professores, no interpretar aquilo que querem dizer, nem sempre com palavras, ou às vezes com o seu uso peculiar das palavras. Por último, o processo de crescimento por si só traz desafios para os pequenos e o conhecimento claro desses desafios, apanágio de bons professores e bons pediatras, tem seus mistérios que não alcanço. Quando os recebo, logo lhes apresento lápis de cor e papel. Assim ficam logo à vontade, principalmente depois que vêm na porta os desenhos que as crianças fazem durante as consultas. Alguns se concentram tanto que faço a ausculta pulmonar enquanto rabiscam os papéis. Assim, posso conversar tranqüilo com os pais e ademais, acontece uma proximidade maior com as crianças. Vai daí que ao final me dou bem com os cabritos. Aqui umas historinhas deles por aqui:
O pequeno chegou no posto para consulta. A mãe o trouxe porque estava com muita febre. Olhei para ele, que estava bem abatido e depois de me abaixar para alcançar-lhe a altura, perguntei: “Então, o que é que você está sentindo?”. Ele, com aquela carinha redonda de criança de 3 anos, olhou para mim e respondeu: “É, Dr. Aureo, meu coração ta com soluço”. Imagine a ternura que eu senti.
Eric, filho de Yvanete, também com 3 anos, é uma das crianças mais deliciosas que conheço. Ele é impressionante. Põe muita atenção no que se fala e faz perguntas pertinentes. Os pais são dedicados aos dois filhos que têm e talvez por isso ele tenha uma atitude bem franca e aberta para com o mundo. Gosto de apreciar sua postura no posto. Ele quando chega aqui, é como se viesse visitar seus amigos. Fala com todos e conta coisas. Há poucos dias Yvanete veio pra consulta e ele, segundo ela, fincou o pé que vinha me visitar e ninguém o demoveu do intento. Quando fui chamar sua mãe, ele se adiantou e me deu de presente um saco que cuidadosamente trazia consigo. Eram jambos deliciosos. Ele ficou muito feliz com a minha receptividade ao seu presente. E eu ao ver seu rosto orgulhoso, olhando para a mãe, como dizendo: “Viu que foi bom eu vir?”.
Há um outro com pouco mais de dois anos. O cabrito é bem danado e a mãe tem dificuldade em controlar-lhe a traquinagem durante as consultas. Notei que quando eu batia o carimbo nos papéis ele ficava interessado. Então o nomeei meu secretário encarregado de carimbar os papéis da sua consulta. Então no momento certo ele, todo compenetrado, carimbou a receita no lugar que indiquei. Foi aí que olhou para a mãe com uma cara de orgulho que quase me mata. Estaboquei de rir e é uma pena que não dispunha de um vídeo para registrar o seu indescritível “eu sou o bom”. Até agora quando me lembro sinto um calor no peito!
Mas teve uma que me deixou com o coração como se fosse uma passa. Laura, filha de Nininho e Catinha. Ela tem uma cara de traquina que encanta. E, além disso, é efetivamente muito traquina. Inteligente, observadora, os olhinhos negros penetram tudo para investigar. A mãe veio com ela pra consulta e quando fui chamá-la já havia se adiantado e vinha para a porta. Então, me abaixei para dizer alô. Nesse momento, com aquela carinha incrível, olhou-me nos olhos e disse: “Oi Doutor”. Foi como se uma flecha com 80 kg de ternura me atingisse o peito. Quase caí pra trás.
Esses pequenos são terríveis!
Recebam um abraço criança de Aureo Augusto
"Vinde a mim, as criancinhas..." Já dizia o Mestre Jesus.
ResponderExcluirQue lindo, Dr. Áureo.
Ah se muitos médicos fossem assim. E eu fico pensando, como são felizes e sortudos, os habitantes desse lindo vale, tendo você como "dotô", com este coração imenso, este saber imenso e esta alma tão pueril.
Que Deus lhe abençoe cada vez mais.
Abraços infantis....rsrrs
Jussiara
Grato pelas suas palavras, mas meu coração não é tão imenso assim. Na verdade sou uma pessoa bem irascível. E qdo perco a paciência, sai de baixo. Noto que com a idade estou ficando melhor, mas longa é a caminhada. Por outro lado, quem guenta criança?
ResponderExcluirLindas histórias, Áureo.
ResponderExcluirSou louca por crianças. E velhos.
um beijo
Dr. Áureo eu não acredito que vc não seja assim, tão imenso. Claro que é.
ResponderExcluirMas vc é humano e sujeito a todo o tipo de fatores que nos tira do centro.
Eu gosto muito de crianças e idosos mas não tenho paciencia para meninos dengosos e de birra e mal educados. Tenho horror mesmo.
E o pior é ver uma criança dando birra, esperneando, batendo na mãe e ela toda calminha, achando que é coisa de criança.
Dou logo umas palmadas...rsrsrssr
Abraços
Tem coisas na vida que não tem preço.
ResponderExcluirAmo crianças e velhos e bichos e plantas!
Eu, de cá, me tranquilizo: os pequenos do Capão estão em boas mãos!
Beleza não ter sensibilidade e tratar as crianças assim, com o respeito que elas acham que merecem (e merecem). Espero que todos os pediatras sejam insensíveis desse modo.
ResponderExcluirNunca vi pediatra não tratar bem a uma criança, mas já vi médico tratar o paciente como se este fosse a própria doença. Isso é desagradável para todos: Para o paciente, pra quem assiste o fato e, possivelmente, para o próprió médico. Seria legal que todos se conscientizassem de que o atendimento já faz parte da terapia.
_Abraço de garoto.
Legal o abraço de garoto de Tesco! Ser médico tem suas dificuldades. Por experiência própria digo que não é fácil passar uma noite atendendo a um parto difícil ou atendendo a alguém enfermo e no dia seguinte estar no batente na hora devida e com um sorriso nos lábios para atender àqueles que buscam o serviço da forma que, como ser humano, merece. Penso que algumas situações em que o médico atende mal tem a ver com isso. Porém há às vezes um acostumamento com o jeito brusco. Alguns médicos tornaram-se uma casca grossa impermeável à dor do outro. Nada mais triste.
ResponderExcluirSAbe Mariana? eu adoraria que por aqui aparecesse um pediatra, pelo menos para me tirar algumas dúvidas. Vc, Jussiara, Mudiaê, todo mundo enfim gosta de crianças e de velhos. Engraçado que quem gosta de criança tende a gostar de velhos.
Aliás, me lembrei agora que mtas das crianças birrentas e terríveis como as citadas por Jussiara, assim o são por causa dos pais. Ufa! Tem umas que são durambeta!
Beijos no coração de todos vcs
Andei por estes dias responsabilizando a criança que existe em mim pelos meus atos mais “primitivos” ... mas como bem disse vc a infância também nos conecta com um sentimento muito bonito ... a ternura.
ResponderExcluirUm abraço terno, Luciana.
Áureo, veja essa: Uma amiga que trabalha em uma escola, levou um grupo de crianças para o Museu Rodin.
ResponderExcluirBruna: Liris, essa é a sala que Rodin brincava de arte, né?
Liris: É sim, Bruna.
Bruna: A mãe dele não mandava ele arrumar a bagunça depois não?
Demais! Eles vêem de um jeito tão fresco como fruta madura no amanhecer.
ResponderExcluirCrianças vêm os simples...
ResponderExcluirLendo o seu artigo,lembrei de algo que me aconteceu há duas semanas...
Eu levei a meckinha para assistir uma animação, fui com uma amiga. Sou louca por animações desde criança, algo que herdei do meu pai.
O Filme em questão chamava-se RANGO, uma história de um camaleão com crise de identidade. A animação é incrível, traz vários aspectos do adolescer, da auto- afirmação, da inserção social. Ao final da animação minha amiga me perguntou:
- Vc não achou o filme adulto demais, não? Será que as crianças entenderam?
Ao mesmo tempo, do nosso lado passava uma mãe com seu pequeno, e o garotinho disse, que bacana não é mamãe o Rango ( o camaleão) venceu!
- Olhei então para minha amiga e sorri, não precisava dizer mais nada...
E só para não assassinar o português...cruz-credo!
ResponderExcluirCrianças vêem o simples...
Eu diria: Crianças vêem!
ResponderExcluiroye Aúreo, métete la resolución nº41 por la raja.
ResponderExcluirbesitos :)
Não sei o que é esta resolução número 41.
ResponderExcluirLa de la cámara de vereadores de Palmeiras. xD
ResponderExcluirMas besitos.
PD: Leí en otro posteo tuyo sobre la muerte de tu padre. Mi sentido pésame.
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