Acredito que por imperativo biológico, nós os seres humanos
somos uma gente dada a querer intervir no ambiente, modifica-lo, faze-lo algo
nosso. Como se não fossemos seres biológicos. Da mesma forma, os pássaros fazem
ninhos e neles se acomodam, os castores criam barragens inundando áreas mais ou
menos extensas, as formigas criam estruturas subterrâneas às vezes de grande
tamanho e complexidade, enquanto as térmites constroem suas casas
impressionantes, onde arranjam de tal forma o ordenamento dos corredores de uso
e de ventilação que a temperatura e a umidade dentro do ninho é, para elas,
agradável, a despeito das condições climáticas adjacentes. Os seres vivos
procuram condições mais satisfatórias e, inclusive, atuam de modo a tornar o
mundo mais adaptado a si, da mesma forma como, as espécies se adaptam às
condições do mundo. Ou seja, além de se adaptar às condições ambientais, os
seres vivos, e dentre eles os humanos, mudam o mundo para que este atenda aos
próprios interesses orgânicos.
Bato novamente na mesma tecla: Como seres biológicos os
humanos compartem esta característica – mudar o mundo. Vai daí que (ocorre-me)
que toda a ação humana é biológica, ou, dito de outra maneira, natural.
Naturalmente construímos as cidades, os automóveis, os livros, e tantas outras
coisas que fazem parte de nossas vidas, quase que como extensões de nossos
sentidos e competências.
Às vezes vou mais além e me ocorre que tudo isso que fazemos
faz parte de um imperativo biológico, natural. Somos, provavelmente, os únicos
seres naturais dotados de autoconsciência. Ou seja, além de estarmos cientes de
que estamos vivendo aqui no mundo, de que participamos de relações com o
entorno, somos capacitados a perceber-nos em nossas relações conosco mesmo.
Possivelmente, mas não certamente, outros seres que partilham conosco a vida
nesta Terra, não são capazes disso, ou, pelo menos, não são tão capazes disso.
Mas se temos esta capacidade, foi o processo evolutivo do planeta que levou a
isso.
Ocorre-me que a manifestação da individualidade, apanágio da
espécie humana, é uma necessidade da biologia do nosso planeta. Mas, para que?
Não tenho a mais mínima ideia.
Seja como for, nos sentimos bem superiores aos demais seres
por conta dessa nossa competência, quando frequentemente esta consciência da
individualidade facilmente degenera em um individualismo que pode revelar-se
perigoso para a espécie e para o planeta. Esta crença em uma superioridade é
frágil se consideramos que a posição que ocupamos entre as demais espécies foi
o resultado natural do processo evolutivo, não apenas da humanidade, mas, da
humanidade enquanto parte de um contexto planetário. Podemos imaginar que se a
humanidade falhar na manifestação de uma individualidade que acabe por
adicionar qualidade à evolução do planeta, naturalmente, cedo ou tarde,
encontrará seu fim, podendo, em tempo hábil, acontecer o desenvolvimento de outra
espécie para ser veículo dessa (suponho) necessidade evolutiva do planeta.
É interessante constatar (ou apenas elucubrar) que ao mesmo
tempo em que somos algo assim como um ápice em relação às demais espécies,
somos nada mais que o fruto natural da evolução com o fim de manifestar algo da
evolução, da mesma forma como as bactérias manifestam a competência de ser a
base de todas as demais vidas, ou as jaguatiricas têm lá suas competências e as
manifestam competentemente. Uma a mais!
Uma vez pensado isso, vou lá fora dar uma olhada nas serras
que estão embebidas de nuvens.
Recebam um abraço consciente de Aureo Augusto.