domingo, 21 de agosto de 2016

MULHER É UM PROBLEMA

Nasci no Bairro do Uruguai, em Salvador, à época parte dos Alagados, que logo depois foi aterrado com o lixo produzido na cidade. Sou grato por ter estado ali boa parte de minha vida, lugar onde aprendi mais do que a ler e escrever. As brincadeiras infantis foram povoadas de notícias da vida dura de um bairro bem pobre com seu cheiro de mangue e chocolate (a fábrica de Chocolates Chadler derramava sua chaminé sobre o bairro).

Por isso aprendi também a ver um outro lado das coisas que os livros me ensinaram e vi que nem sempre o linguajar pulcro traduz a crueza rude do existir doce.

Talvez por isso também me sinto tão bem conversando com as pessoas ditas “do povo” e foi assim que um amigo se aproximou para papear (desabafar): “Mulher é um pobrema” e desandou a comentar os jeitos de sua amada esposa (amada sim, pois o amor, como alguém disse, é “apesar de” e não “porque isso ou aquilo”). Ri e perguntei-lhe se quando chegava em casa guardava cuidadosamente a roupa suja ou se deixava em qualquer lugar, e os arreios do cavalo, as botas... Claro que largava tudo à toa! Comentei que ele é um problema. Como a conversa se adiantava sob o signo do riso leve, a coisa seguiu em alegria e tranquilidade com comentários jocosos de parte a parte; lembrei de várias outras conversas que mantive em rodas com amigos. Reproduzo aqui como se fosse um único papo e como se fosse com aquele mesmo amigo do qual acabo de contar e incluo algumas reações dos interlocutores.

Disse: Pois sim, mulher é um problema, mas você está sempre atrás delas, parece que você é maluco e gosta de problema. Se mulher é problema, porque não vai viver com homem? Todo mundo ri com esse comentário – é uma graça!

Provoco: Eu, em particular, gosto muito de mulher, é muito legal encontrar seios fartos e não uma tábua, ou apalpando mais embaixo dar de sentir um vazio delicioso e morno, já quem apalpa um homem encontrará o cheio; não que eu desaprove a quem sendo homem goste de homem – risos pra todo lado, alguns um pouco nervosos – continuo: Isso é algo que merece todo o nosso respeito, pois o prazer é uma coisa que não depende de regra e se alguém tem prazer no semelhante, pra que o obrigaremos a manter o prazer no diferente contra o próprio senso? (cenhos franzidos, risos baixos, cabeças balançando para os lados, cabeças balançando acenando com um sim, dúvidas se manifestam em alguns semblantes...).

Sigo: Mas a verdade é que mulher é um problema... e uma solução; homem igual. Todo problema traz em si sua resposta certa. David Kahane nos ensina que quem não é parte do problema não será também parte da solução, e está coberto de razão.
Acrescento: Continue dizendo que o problema está nela e viverá atrás da fantasia da mulher perfeita decepcionando-se todo o sempre e sempre perseguindo fantasmas lá fora quando eles moram cá dentro. Pode ser até que encontre uma mulher que apenas silencie, curve a cabeça, não se queixe, então ou é depressiva ou dissimulada. E em ambos os casos vai rolar merda – sorrisos de aprovação, rostos preocupados, olhares postos no horizonte.

Vai daí que vale olhar para si e olhar para ela com o amor que nós temos. Dizer o que sentimos e não diagnosticar nela a doença que pode até estar nela, mas seguramente está em nós. E isso vale também para as mulheres que falam mal dos seus maridos (expressivos “sim” com a cabeça, rostos falando silenciosamente de decisões, bocas fechadas dizendo que nada disso pode ser aplicado, olhares decididos para um lado ou outro – cada um no seu processo).


Recebam um abraço gilânico de Aureo Augusto.

Um comentário:

  1. Amei! afinal, após quase 40 anos com o mesmo homem, namorado e marido, pai dos meus filhos, que me conheceu menina e hoje ainda me ama como uma (jovem) senhora....que passou por doenças, mastectomias, e ainda assim me enxerga não por fora , mas por dentro como a 40 anos atrás!

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