Tenho tido alguma experiência com ensinar e graças a um
projeto de educação pública que se espalhou por várias cidades da Chapada
Diamantina e mais além (do qual participei, não como educador, e sim principalmente
como mobilizador) contatei uma infinidade de professores e estudantes, convivi
com eles e também com coordenadores pedagógicos e seus formadores, o que me foi
bastante educativo tendo influenciado sobremaneira a forma como atuo em
medicina.
Recentemente, além dos cursos que profiro periodicamente
estou atuando como preceptor de estudantes de medicina, odontologia, enfermagem
e mesmo mestrandos em saúde da família, que estagiam na Unidade de Saúde da
Família de Caeté-Açu, no Vale do Capão, zona rural de Palmeiras-BA, unidade de
saúde da qual sou parte da equipe. Aqui, os estagiários vivenciam uma equipe e
uma comunidade, proporcionando experiências únicas, para a equipe e para os
estudantes.
Estas experiências me colocam em uma peculiar posição de
permanente reavaliação do meu próprio trabalho.
Questiono-me.
Ensinar, percebo, é algo íntimo. Pessoal. E ambas as coisas,
ensinar e aprender, são completamente imbricadas.
Sinto-me tremendamente permeável ao escrutínio desses jovens
e essa permeabilidade, noto, é o que me permite aprender deles, talvez mais até
do que eles aprendem de mim. Eles, por sua vez, tanto mais colocam-se
permeáveis tanto mais captam um algo além das palavras, das notícias de
tratamentos e seus resultados. Pondo-se aquém da distância, somos juntos,
justos aprendizes, completos em nossas metades.
Pergunto a mim mesmo como é possível ensinar sem me expor.
Como é possível que um professor não mostre a própria alma quando diz do si que
é seu conhecimento e experiência, como é possível ensinar se o professor não se
põe como alguém que está exposto, aberto qual livro, um dos livros prescritos.
Sento-me diante desses jovens que me guiam pelos meandros da
internet na busca dos protocolos estabelecidos e dos mais recentes trabalhos
dizendo o que é isso ou aquilo dos sintomas e sinais que nos regala a gente que
nos diz de si e de suas dores. Esses jovens às portas de se formar (em sua
maioria) com seus olhos brilhantes e corações apertados, tanto quanto eu, com
tanto a aprender e tanta responsabilidade a assumir.
Sinto-me nu. Eles me olham como o livro que sou e querem
algo que nem sempre dou, não porque não queira oferecer, mas porque nem sempre
alcanço o tamanho do que eles desejam. Mas também no ato de me oferecer pleno e
nu, expondo as páginas de minha vida e os tesouros do que aprendi, respostas
brotam como desafios.
E esta via tem duas mãos e é assim que a nudez nem sempre
tão explícita deles, expostos com esta exposição (nem sempre consciente) dos
jovens (de todas as idades) me alcança trazendo respostas até para perguntas
que eu mesmo não fiz, respostas que brotam como desafios.
Recebam um abraço estudantil de Aureo Augusto
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