domingo, 22 de outubro de 2017

ABANDONO

                      ABANDONO
A água abandona a nascente
E faz o córrego, o rio, vive o oceano
Deve ser algo parecido com filhos e pais
Que não se fazem lago ou oceano, mar
Se a pais não dizem adeus inda que seja no pensar;
E assim abandonei a casa onde nasci
Que me viu crescer, o bairro, ninho de amigos
Lugar em que vivi a vida feita de ruas
Para pés descalços, molequeiras, arraias, pião
Fura-pé, guerrô, guiador, briga de turmas
E o tempo deu seu jeito de passar...

Recebi carta de minha mãe
Querendo notícias do filho que
Do jeitinho de água da nascente
Se foi, se foi longe, como água de nascente
Oceanizou-se como água de nascente
Recebi a carta naquela letra boa
Da gente de antigamente que escrevia com letra boa
Caneta tinteiro, mata-borrão, cuidada
Escrita no verso do papel que eu mesmo
Lhe havia regalado para que escrevesse
(Não pensei que seria para mim), dada a esmo
Papel com uma aguada em nanquim, cinza
Suave como minha mãe, sua letra frote,
Seu desejo de notícias, lenço ao ar, leve...
E a carta veio de novo anos depois ela morta
Coincidência no dia das mães, a mesma!

O arco lança a flecha e a ferida que causa
Não mais lhe pertence, ao arco, não mais
Meus pais em seu tempo abandonaram a vida
Deixaram-me como um dia os deixei e vivi.

Agora é a vez de meus filhos perto e distantes
Porque mesmo a meu lado eles são eles
E são deles os momentos novos como meus
Seguem os meus momentos e livre sinto eles
Livre como eu em suas prisões ou liberdades.
                      Em 21/10/17, recebam um abraço poético de Aureo Augusto


6 comentários:

  1. Que maravilha!
    Cada vez mais me surpreendo com essa pessoa incrível (filho, pai, amigo, mestre,) simples, plena de espiritualidade e saberes que nos emociona com sua capacidade e talento inatos, conduzindo-os aos caminhos do bem-estar de corpo e alma!
    Meu abraço de gratidão, sempre, Dr. Áureo!

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    1. Oh Solange! lembre que qualquer objeto artístico, poesia ou pintura, literatura ou escultura, só será completo depois que encontrar a sensibilidade de quem observa. Assim você é parte da poesia.

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  2. Ê Dr. Áureo, estava saudosista né? Sinto isso quando volto para o lugar onde vivi minha infância mas nem de longe sei escrever poema tão lindo . Fiquei com saudades de mim. Ai ai

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    1. Lidia! não esqueça que a arte é feita por quem faz e por quem sente em si.
      Abraço

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