sábado, 2 de abril de 2011

QUARESMEIRAS EM FLOR

Estou inclinado a pensar que este é o mais bonito período do ano aqui no Vale do Capão. O tempo que nos encontra desde o final de março, entrando por abril e até parte de maio (e às vezes maio inteiro) é o período da floração da quaresmeira. É inacreditável a quantidade destas flores espalhadas por todo o campo de visão. Olhando do alto, na chegada ao vale, vemos milhares de manchas que variam do rosa ao violeta puro, assaltando o verde onipresente. Elas ainda não abriram todas, mas já tomam conta deste pequeno mundo. Como se não bastasse, logo após a aparição das quaresmeiras vem outra flor, de uma planta chamada São João, que é amarela, de um amarelo vívido, luminoso que faz um contraste intenso com as flores anteriormente citadas. E, em menor quantidade, outras flores, estas sarapintadas de amarelo escuro, vermelho, violeta claro, rosa, azul, entre outras cores. E, ao entardecer, as quaresmeiras são tomadas por um discreto, mas notável, fulgor, como se tivessem uma fosforescência que introduz um brilho fosco.
Para mim esta é uma época para visitar este lugar. E fazer expedições, não para aventurar-se nas matas intumescidas de ruídos secretos e seres silenciosos e discretos. Sim, estes são passeios maravilhosos, como também é certeiro o prazer anímico de contemplar os amplos gerais. Mas agora é para buscar os lugares onde ver o espraiar-se do violeta, ou buscar esta ou aquela quaresmeira em especial que brilha em seu fulgor, em seu incêndio de cor. Como aquela que está por trás da casa de Reizinha. Ou aqueloutra do lado do terreno de Medinho e umas duas em Neneu... O visitante poderá também sentar-se a observar, só olhar, embeber-se de qualquer uma das árvores que beiram os caminhos. Ou, e isso é quase lisérgico, caminhar na terra escura, olhando obliquamente sem fixar nada, e entrar em estado alterado de consciência por causa da miríade de pétalas (que caíram das árvores) rebrilhando sobre o fundo escuro da terra. Sem nada mais que a ímpar beleza, sem nada mais que o contraste e a repetição aleatória das pétalas, o visitante atento, desabitua-se do comum e adentra um reino feérico.
E como se não bastasse, neste período temos o Festival das Quaresmeiras, quando acontecem apresentações de música, exposições, comidas especiais, principalmente nos feriados, mas também durante o mês de abril. É um período bem especial. Penso nos europeus do quinto século sedentos de especiarias porque elas lhes acrescentaram paladares. Este é um momento em que o Vale do Capão se reveste de especiarias em cor para ampliar nossa gama de belezas.
Venha e comprove.
Recebam um abraço quaresmeiral de Aureo Augusto.

9 comentários:

  1. Não vai se arrepender!

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  2. E há quem não acredite em milagres, mesmo vendo a beleza incomparável de campos floridos. Estes são, realmente, 'os piores cegos'.
    A sua descrição já é apetitosa para os olhos, imagine-se ao vivo!
    Abraço florido.

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  3. Aí ó! Aguçando a minha vontade de voltar! rsrsr!! Adoro o Capão! Mas, adianto. Estarei por aí no São João. Abraços! e... até lá!

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  4. Tanto lirismo me faz pensar o quanto vc está embriagado por tanta beleza, por tanta tranquilidade. Seria o ápice do estado zen.

    São precisos olhos para se enxergar tantas nuances. Olhos da alma, diga-se de passagem.

    E quando eu lembro que se cortam árvores pq as folhas estão sujando o terreiro ou porque os passarinhos fazem muita zoeira, meu coração se espreme.

    Mes passado, cortaram uma frondosa árovre, bem aqui embaixo da minha janela. A segunda árvore. Da primeira vez, berrei do alto da janela do meuq quarto, no 7o. andar e fui ameaçada pelo maldito cortador.

    Dessa vez, fiquei inerte. A cada cravada da motossera, minha cabeça estalava já da forte enxaqueca. Era domingo e cedo eles começaram o assassinato da bela árvore.

    E quem se atreve a defender a mata? Quem? O Ibama? ha ha ha ha ha ha... E ontem, na janela do meu quarto, 4 passarinhos se engalfinhavam tentando não sei o que, ou melhor, tentando um abrigo pois a casinha deles, a árvore, o bicho-homem derrubou.

    Em Cações eu tenho essa preocupação e já observo áreas desmatantes. E quando eu questiono, a mesma resposta: "tá tirando a visão do mar, por isso nois corta" É F*****.

    Parabens, amigo. Tanta sensibilidade me faz acreditar que ainda resta muita esperança e que os visitantes tambem tenham a mesma sintonia que muito de nós temos.

    Receba uma abraço em floração.

    Jussiara

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  5. Deixa eu te contar uma coisa Tesco: Uma senhora idosa aqui do Vale me disse que vinha andando e um carro parou ao lado dela. O motorista perguntou: "Ei, é esse o Vale do Capão? O que é que tem aqui pra se falar tanto?" A velha senhora me contou que o único que fez foi abrir os braços e com a mão espalmada mostrar o mundo pra ele, que infelizmente não entendeu. Cego!
    Tenho a sorte aqui no Vale de ver meus vizinhos interessados em conservar a natureza. Talvez não seja o ideal, mas não tenho o dissabor de Jussiara, de ver cortarem árvores pq atrapalha a vista.
    Thiago, é uma pena que em São João já passou a fase das quaresmeiras, mas se preoucupa não, tem outras belezas!
    Abraços,
    Aureo Augusto

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  6. Concordo totalmente com você. É o período mais bonito no Vale do Capão. Sempre digo aos amigos que vão visitar o Vale e chegam dizendo que acharam muito bonito, que eles devem voltar qdo. as quaresmeiras estão floridas, pois nesta época é especialmente deslumbrante.
    Já tive a sorte de ver (por 2 x) o Vale todinho florido lá do alto da Cachoeira da Fumaça. É muito lindo!!!
    Um abraço também "quaresmeiral" saudoso de Angela

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  7. Este comentário foi removido pelo autor.

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  8. Nossa! Esse blog é mesmo apaixonante. Você já era detentor de minha profunda admiração por seu trabalho no Vale, mas somente agora tive conhecimento do poeta que há em ti.
    Eu estava pelo Capão passeando quando resolvi ficar um pouco mais. Ainda bem que fiquei e hoje posso ver a beleza dessas quaresmeiras. Não há lugar igual. Não há como não ‘poetar’. Você assim faz perfeitamente. Eis que me apresento como mais uma seguidora de suas palavras. E que venha ouro das flores da São João para deixar o Capão ainda mais belo (se é que não caracterizaria um exagero).

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