Esta postagem é em muito uma continuação da anterior e nela complemento o assunto 'pele'. Escrevi ambas há bom tempo, mas acho que permanecem atuais:
Meu pai foi militar do exército – na verdade os militares tendem a nunca deixar de sê-lo, por isso é melhor recomeçar: Meu pai é militar reformado e serviu nas forças armadas na época em que nenhum soldado ficava sentado no ônibus se tivesse algum passageiro de pé. Não sei se hoje em dia ainda é assim, se mudou, trata-se de mais uma perda para a civilização. Ocorre que o significado de servidor perdeu muito do seu sentido nos dias de hoje. Servidor é o que serve, um servidor público aí está para servir ao público, não para servir-se daquilo que é público (Ah! Se os políticos se dessem conta disso). Meu pai tinha uma senhora biblioteca, talvez a única no bairro pobre em que morávamos. E eu era assíduo freqüentador de suas prateleiras e foi daquela época que adquiri o vício da leitura. Como ele era assinante da Biblioteca do Exército Editora, me deliciei com títulos como Logística da Invasão e Os Blindados Através dos Séculos, de modo que ainda criança sabia como portar-me no caso de um combate nas ruas ou no campo. Talvez por isso, por perceber as agruras em que me meteria, não optei por tornar-me militar e dado ao pacifismo. Mas além da leitura guerreira, havia O Homem Através da Ciência de Nelson S. Mitke, Viagem à Terra do Brasil de Jean de Léry (o autor veio com Villegagnon quando este comandou a invasão francesa no Rio de Janeiro) e o livro de Guilherme Piso, História Natural e Médica das Índias Ocidentais, escrito durante as invasões holandesas a Pernambuco, quando as Índias Ocidentais, ali citadas, eram governadas por Maurício de Nassau. Neste livro ele comenta que os brasileiros (isto é, os índios) viviam desnudos e não podiam ver água que logo iam tomar banho, e eram muito sadios; já os europeus, que andavam cheios de roupas e evitavam o banho, estavam sempre com problemas de saúde. Esta leitura da minha adolescência marcou-me, bem como Casa Grande e Senzala e Sobrados e Mocambos de Gilberto Freire. Em um destes o autor assinala que os índios do Brasil começaram a apresentar problemas pulmonares na medida em que foram vestidos pelos jesuítas. Estas interessantes observações mereciam mais cuidado, pois elas apontam para o fato de que assim como a saúde da pele depende do (e evidencia o) estado do corpo, a cútis tem algum papel na saúde deste mesmo corpo.
Outro livro nos traz mais o que pensar. É aquele em que Charles Darwin descreve a sua viagem no Beagle. Quando o navio passava pelo Estreito de Magalhães, no sul da América, na confluência entre o Atlântico e o Pacífico, ele descreve o encontro com um grupo de índios que se aproximaram do barco em que ia. Nota, penalizado, que uma mãe amamentava o seu filhinho e a neve que caía se dissolvia em contato com seus corpos nus. Não percebeu o ilustre cientista que a mãe (tampouco o filho) padecia de frio. Quando vivi no Chile, tive a oportunidade de conhecer gente que estudara aqueles mesmos índios que Darwin avistou, os Yamanas, além de outros moradores da Araucania. Contaram-me que as mães quando iam dar à luz, acocoravam-se e deixavam que seus filhos saíssem do ventre direto para as águas geladas de algum lago ou do mar. Dessa maneira, frio não era algo desacostumado para aquelas crianças. Não imagino as conseqüências psicológicas deste costume, mas que era ótimo para a circulação cutânea, lá isso era.
Aqui, no Vale do Capão, onde moro, muitas pessoas andam em mangas de camisa, mesmo no inverno. O que para mim é frio, para elas é um fresquinho agradável. É que a minha pele careceu de exposição às intempéries como uma forma de educar a circulação sangüínea nela. Pessoas que se protegem demais (e as mães fazem isso com seus filhos, por amor e falta de conhecimento) acabam se tornando friorentas. Já aquelas que tomam banho frio todos os dias, que caminham com a pele exposta, tornam-na mais vigorosa. Que ninguém saia por aí dizendo que sugiro que as mães banhem seus recém nascidos em gelo. Porém insisto em que não protejam demais seus rebentos. Isso lhes beneficiará a pele e, como inferimos dos textos citados, trará também saúde ao restante do corpo.
Recebam um abraço profundamente cutâneo.
Sabe uma coisa que me irrita? Quando eu estou no meu vilarejo, no inverno, toda agasalhada, com meias, debaixo do cobertor e vejo os nativos nús, literalmente, nús.
ResponderExcluirA maioria das mulheres quase despidas, em pleno inverno e eu toda encolhida..srsrs e elas danam a rir de mim.....kkkk
Mas porque eu me irrito? Por que eu gostaria que todos compactuassem o mesmo frio, tivessem a mesma sensação friorenta que eu sinto e que as vestes fossem iguais a mim para eu ter certeza que o inverno bateu firme.
Eu amo o inverno e já peguei frio abaixo de zero mas o que me chama atenção é que, todos lá se agasalham e ficamos todos charmosos.
Mas aqui............especialmente estes nativos...
Em junho eu estava com tanto frio no vilarejo que marido fez uma fogueira. Me sentei diante dela, toda encapotada e coloquei até gorro. Eu estava tremendo de frio mesmo. Daí............chega uma acolhida minha, neta de marisqueira arretad,a de short ...........e camiseta.
COVARDIAAAAAAAAAAA....rsrsrr
Receba um abraço quentão.
Jussiara
É complicado pras mães entenderem isto, mas uma superproteção pode ser mais prejudicial que a exposição da criança aos 'fatores de risco'.
ResponderExcluirEsse caso de frio ambiental é um, mas o mais aterrador para as mães, acredito que seja a febre. Antigamente, mesmo nas cidades, havia o preparo e administração de chas, até aí não era tão ruim. Mas hoje, a qualquer variação de temperatura, apelam para os comprimidos. É uma paranóia. Não permitem que o organismo exponha o seu problema e mostre que está lutando contra algum agente (físico ou não) nocivo.
Que triste!
Mas, Áureo, eu errei uma teclada ao digitar o endereço do blog no comentário do post anterior, então você deve ter caído no 'blocpot' também.
Isso acontece ao acessar pelo perfil, mas na indicação do blog e na do arquivo, tá tudo correto. Querendo aparecer por lá, fique à vontade.
Abraço tropical.
Engraçado isso da maternidade. Acho que assim como os bebês, nós mães, acreditamos também que somos uma coisa só... pelo menos por um tempo. Eu sempre fui muito calorenta e por isso sempre vesti minha filha com roupas bem leves - além de viver em Salvador é claro.
ResponderExcluirEla vai fazer 11 meses amanhã e como eu, não é nada friorenta. Depois de ler seu post acho que acabei fazendo bem a ela. Contudo, na rua, as pessoas olham e até reclamam que a criança está "sem um casaquinho". A noite em Salvador City é de 23, 24 graus... nada que, na minha cabeça, peça um casaco. Saudações, Mel Adún
Engraçado,
ResponderExcluirMel Adún é o oposto de Jussiara. Enquanto Tesco propõe uma intervenção mais consciente das mães. Achei que ficou interessante esta combinação das três. Vejam só, a Jussiara deveria vir morar no Capão, pra sentir frio de verdade. E Mel tem razão em não exceder-se no abrigar sua criança. Tesco, vou visita-la.
abraços reconfortantes para o frio e o calor
Eu deveria morar sim, no Capão..rsrsr e ainda bem que Deus me deu permissão para que eu conhecesse e posteriormente, adqurisse uma casinha em Cações que tem um clima muito atípico para o litorial baiano. É impressionante eu ter um calor ameno no verão, cheio de brisas refrescantes que batem da Mata Atlantica até o quintal da minha casa e ter um frioooooooo de montanha, no inverno.
ResponderExcluirE também eu sou do Recôncavo aonde anos atrás se usava até aquelas horrendas japonas para conter o frio. HOje nem tanto pois o clima mudou.
Na verdade, eu sempre me preocupei com o conforto térmico das pessoas ao meu redor.
Sem querer me exibir, eu já contei que acolho algumas crianças e jovens em Cações.
Então: se estiver frio e eu os vejo sem agasalhos, eu me angustio e providencio logo, capotes, moletons e até cobertores.
Se for verão e eu os vejo suados,melecados, eu dou a eles o já famoso Dia do Principe (ou da princesa) aonde eu cuido, dou banho, lavo os cabelos deles e coloco roupas fresquinhas.
Sem esquecer o tradicional Leite de Rosas, costume que eu herdei de mainha, para evitar o famosos cecê (o suvaco fedendo rsrsr).
E se faço com os meus acolhidos, imaginem com os filhos. E eu vê um velhinho com frio ou suarento demais, também me deixa agoniada.
E fico impressionada quando eu vejo mamães em pleno frio, andando com o seus rebentos com os bracinhos de fora. Me dói o coração.
Outra coisa: quando menina e tinha febre, a minha vó e mainha faziam escaldas-pés e me aquecia bastante, além do anti-térmico e chazinhos. Eu lembro que eu sentia o frio da febre e aos poucos ela se ia e eu começava suar muitooooooo. Depois de todo o suadouro, elas faziam eu tomar um banho morninho, trocar as roupas suadas e a roupa de cama.
ASsim eu fiz e faço com os meus. AQUI NINGUEM TEVE PNEUMONIAS.
Atualmente pegam as crianças com febre, enrolam com álcool, jogam no banho frio, sei não. alvez até melhorem a febre mas aparecem com bronquites, pneumonias. E os hospitais cheios deles,
Desculpe a minha ignorância mas sou mais a minha vovó que morreu aos 97 anos, dormindo, sem nenhuma mazela.
Recebam um abraço envolvido em um gostoso cobertor de lã natural...rsrr (porque ainda é inverno)..rsr
Dr. Áureo, eu estive na porta do Capão mas ainda não me foi permitido adentrá-lo...rsrsr
Abraços.
Cara Jussiara,
ResponderExcluiressa idéia de "dia do príncipe (princesa)" me pareceu fantástica e enternecedora. Os pequenos (e os idosos) devem adorar vc por aí.
Já qto ao banho frio na febre, pode ter certeza que banho frio é excelente para febre. Mas tem que obedecer a certas regras.
abração,
Aureo Augusto
Sim. Eu sou muito amada em Cações. Eu e meu marido somos acolhidos por demais. Protegidos e aceitos como "nativos".
ResponderExcluirEu tenho o meu olhar para com eles e esses dias principescos...rsrrsr, já é tradição na minha casinha, lá.
E me corta o coração, quando eu vejo os olhinhos pidões de muitos deles, querendo este Dia Especial em minha casa.
E eu sigo uma seleção. Geralmente o mais carente do dia, ganha a condição de Príncipe/Princesa ..rsrr e eu preciso descartar o restante, não sem uma pontinha de dor em meu coração.
Tem um principezinho e uma princesinha em especial: Samir e Vitória. Eles tem uma história de situações-problema em suas vidinhas.
E o que eu mais gosto de fazer com eles, quando estão sob o meu acolhimento, é dar comidinha a eles, na boca. Enquanto eu conto historinhas e depois eu os abraço e geralmente eu choro.... e eles tambem...
Receba um abraço envolto em doçuras de acolhimento.
Jussiara
Vc é um doce!
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