Há algum tempo, ao visitar minha mãe, encontrei-a padecendo de forte inflamação em todo o aparelho digestivo. Após muitas perguntas descobri que uma neurologista lhe havia receitado um novo remédio e fui ler a bula. Ali dizia que não havia sido suficientemente testado. Ora, se não foi suficientemente testado, por que usar? Qual a justificativa usada para liberar uma medicação se ela não foi suficientemente avaliada quanto a seus efeitos sobre o ser humano a que se destina? Segundo tenho conhecimento através da literatura do Conselho Federal de Medicina, terapêuticas como auto-hemoterapia e florais de Bach merecem impedimento do referido conselho porque os argumentos usados para seu uso não atendem aos parâmetros científicos. No entanto eu, particularmente, tenho observado resultados impressionantes com os florais de Bach (nunca experimentei outros tipos de florais que têm aparecido). Claro, para que possa ser aceito como cientificamente aplicável há que ter um grande número de casos registrados, comparados com outros casos em que se tenha oferecido placebo etc. Entendo e considero muito correta a preocupação do Conselho de Medicina com variadas práticas que não são científicas. A forma como o ilustre Dr. Edward Bach descobriu seus florais foi intuitiva e não o fruto de uma pesquisa científica. Embora tenha estudado os resultados por 10 anos antes de divulgar seu sistema, falta uma sistemática de pesquisa que atenda aos atuais requisitos de cientificidade. O que não significa que não funcionam. Algo pode não atender ao critério científico e, no entanto ser verdadeiro. Aquele que só segue o critério científico padecerá sempre de uma incompletude. A verdade não é científica, ou, dito melhor, a verdade não é apenas científica. Portanto um médico, a rigor, não trabalha apenas pelo que aprendeu na leitura das revistas científicas. Ele tateia entre a realidade chã e a abstração lógica.
Porém a medicação feita em laboratório deverá ser testada exaustivamente porque não se trata de produto intuitivo e sim de produto racional de uso. Os critérios de utilização devem ser racionais. Por isso, um remédio que não foi suficientemente testado (inda mais quando o laboratório o reconhece) e não sendo ela de caráter urgente não deveria ser liberada. Aliás, voltando ao caso de minha mãe, avaliando a queixa dela e a medicação não entendi o porquê daquela indicação. A distância entre a senescência (ou envelhecimento normal) e a senectude (envelhecimento patológico) é curta e por isso a idade pode trazer achaques, e é muito fácil medicalizar a vida da pessoa idosa, até porque os idosos tendem a demorar-se no falar e tem gente para atender lá fora, ou seja, o médico pode ter que correr porque há que ganhar dinheiro para manter o consultório luxuoso e o padrão de vida. Será que foi por isso que a médica receitou uma medicação sem propósito claro? E, independente disso, por que receitar uma medicação para uma pessoa idosa (à época minha mãe tinha 89 anos), e, consequentemente, relativamente frágil, que não se conhece com claridade os efeitos colaterais? Bastou suspender a inútil medicação para que os sintomas desaparecessem.
Ora, se uma profissional médica especializada comete tal erro (apoiado pelas instituições que cometeram o erro de liberar medicação não suficientemente testada), imagine a população em geral quando pratica a automedicação? Preocupa-me o quadro disseminado de medicalização da vida (a expressão é de Ivan Ilich) que testemunho não apenas entre colegas médicos, mas pelas pessoas em geral. Encontro com aterradora frequência as pessoas acreditando que para tudo há uma medicação. Não há paciência para nenhum tipo de sofrimento seja psíquico ou físico. Medica-se para grandes tristezas ou pequenas dores de cabeça, picadas superficiais de insetos ou arranhaduras nos jogos. Medicaliza-se os efeitos da medicalização e esquecemos que somos mais do que química. Vemos as medicações como algo natural, normal, desejável, cujos efeitos colaterais fazem parte da vida natural. Assustador!
Recebam um abraço desmedicalizado de Aureo Augusto.
HÁ VÁRIOS DIAS ESTOU TENTANDO COLOCAR ESTE TEXTO EM MEU BLOG, MAS QUANDO PEDIA PRA IR AO PAINEL DE CONTROLE PARA FAZER A NOVA POSTAGEM APARECIA UM BLOG DE OUTRA PESSOA. FOI UMA ONDA, MAS FINALMENTE MEU SOBRINHO THIAGO DESCOBRIU A SOLUÇÃO. QUE SITUAÇÃO!!!
Nossaaaaa que história hein...
ResponderExcluirSem "muitas" palavras!
Um grande Abraço
Assustador sim, Áureo, principalmente porque o paciente, em geral, não questiona. Engolem tudo, da mesma forma que fazem com a mídia: Basta ser noticiado, que acreditam.
ResponderExcluirVocê reconhece as dificuldades que os médicos enfrentam, as pressões de empregador e indústria farmacêutica, e coisas tais, tudo bem. Mas dificuldades acontecem para todo mundo, o procedimento de sua colega de profissão foi criminoso! Entende-se que um jogador de futebol, recebendo um passe mal feito, encaminhe a bola defeituosamente a outro companheiro, mas não um profissional de medicina. Saúde dos outros não é o mesmo que entretenimento.
Ademais, onde a responsabilidade da ANVISA? Não é caso similar ao da talidomida?
Posso estar falando demais e fazendo tempestade em copo d'água, mas que nunca aconteça isso com familiar meu. Ou fico caranguejo dentro de lata.
_Abraço.
Tesco, vc hão falou demais! é isso mesmo, uma coisa horrível. Criou-se uma sistemática onde o médico é uma espécie de semi-deus quase infalível e o paciente é um quase nada entregue à atuação do profissional e isso é ruim para médicos e para pacientes. Fique ligada Joziele, leia as bulas.
ResponderExcluirbjs
Quinze dias atrás, minha mãe, de quase 81 anos, andou tendo umas tonturas, umas agonias e o plano de saúde dela enviou a Vital Med para aferir pressão, teste de glicemia, etc e tal.
ResponderExcluirSabíamos que os achaques foi devido a um escaldado de ovo que ela fez e ingeriu .srsrsrrs, matando um desejo e tb devido a um probleminha familiar típico de família grande, tipo a minha.
Bem, a hipertensão foi diagnosticada e ela prontamente medicada. No dia seguinte, de novo, os mesmos achaques. Novamente a equipe de emergência chegou e medicou de novo contra a hipertensão. Mas o que me chamou atenção foi um coquetel que o segundo médico ministrou a ela, inclusive com o famoso Lexotan.
A minha véa capotou legal. Dormiuuuuuu horrores e quase que nem acorda mais..rsrrsr.
No dia seguinte o cardiologista dela retornou das férias e ajustou a medicação, condenando o Lexotan e estimulando ela a viver o tempo que lhe resta.
Semana que vem ela embarca com a minha irmã para conhecer as Serras Gaúchas.
Sem Lexotan......(e o problema familiar continua mas ela está dosando as emoções).
Eu mesma tenho praticado a auto-medicação, especialmente pq eu tenho enxaqueca clássica mas o uso do Rescue Remedy me melhora e muito.
Abraços naturopatas...rsrsr
Dei boas risadas com o seu comentário Jussiara. Mas além das risadas ele nos alerta para o fato de que o médico precisa conhecer seu paciente. Veja que o cardiologista, que a conhecia bem, condenou o Lexotan. Em uma primeira consulta, o médico (ou o psicólogo, enfermeiro, massoterapeuta etc.) terá que escutar e observar bastante para tentar conhecer aquele ser que está a sua frente. Claro que nem sempre isso é possível, mas deve ser sempre uma meta. Seja como for e o que for, cuidado com a automedicação.
ResponderExcluirabração
kkkkkkkkkkkkk......
ResponderExcluiressa Juciara não é graça!!!
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