segunda-feira, 21 de maio de 2012

LIÇÕES

Já comentei, em postagem anterior, sobre Zé Alfredo, o motorista com quem frequentemente partilho viagens pela prefeitura para fazer atendimentos em locais remotos e visitas domiciliares a pessoas que, graças ao estado de saúde, não têm condições de comparecer à unidade de saúde para uma consulta. Ele é pastor evangélico e tem uma fé realmente admirável. Em nossa última viagem comentávamos sobre algumas situações que vivemos quando algumas pessoas arrogantes nos agridem. Contei-lhe de uma pessoa que se queixava com justiça a Divaldo Franco de outra que lhe era demasiado agressiva e crítica, e o famoso médium respondeu apenas com uma palavra: Misericórdia. Embora evangélico, Zé Alfredo corroborou feliz a resposta de Divaldo. Contou de sua admiração por Gandhi, que sem violência conseguiu mais do que tantos outros que pegaram em armas. Ele também é admirador de Francisco de Assis, pela sua doçura, fé e entrega. No correr da viagem contei-lhe que estava sumamente preocupado com uma pasta de documentos muito importantes que havia perdido. Então o meu amigo me convidou a orar junto com ele para Deus me ajudar a encontrar a pasta. Contou-me o seguinte: Um homem vendo aproximar-se a morte chamou os três filhos, pois queria despedir-se e dar-lhes um último conselho. Mandou que fossem ao campo e colhessem varas, o que fizeram. Depois pediu ao mais velho que quebrasse uma das varas o que este o fez com facilidade, quebrando também duas varas. Então o moribundo solicitou que tentasse quebrar todas as varas ao mesmo tempo. A despeito do fato de que as varas eram bem finas, ele não conseguiu fazê-lo. Foi então que o velho lhes disse que sozinhos cada um deles não tinha força e poderia ser quebrado com facilidade por qualquer ameaça. Conclamou-os a que se mantivessem unidos, pois dessa maneira resistiriam a tudo. E neste momento Zé Alfredo me pediu que nós uníssemos a minha fé (que confesso não ser das maiores) com a dele, para pedir. E foi o que fizemos. Ele recitou uma bela oração onde pedia que se alguém tivesse encontrado a pasta que Deus lhe tocasse o coração para logo me devolver e que se eu apenas não tivesse visto a mesma, que se me abrissem os olhos para encontra-la. Depois disso, felizes seguimos o nosso trabalho. Cheguei em casa um pouco mais relaxado e fiz as coisas de praxe. Quanto a noite já estava amadurecendo e eu pensava em desligar o noticiário televisivo para dormir, o telefone tocou. Era Marilza, a técnica de enfermagem aqui do Capão, uma pessoa maravilhosa e dedicada. Estava com um casal cujo filho mais velho padecia de forte febre. Queria que visse a criança. Eles estavam com carro e poderiam vir a minha casa. Aquiesci e fui me preparar para a consulta fora de hora. Nos últimos dias isso tem acontecido com intensa frequência, o que me levou a um certo cansaço. Mas aqueles pais e aquela criança não poderiam deixar de ser atendidos com o cuidado que mereciam. Então na minha mesa de trabalho fui à estante das pastas e qual não foi minha surpresa quando encontrei a pasta perdida. Mas eu já havia buscado muitas vezes naquele lugar! Quase sem acreditar olhei a pasta e verifiquei seu conteúdo. Era sim a pasta perdida. Como pude não vê-la?! Naquele momento fui tomado por uma sensação de que este Mistério que sinto ao redor e dentro de todas as coisas, me fez uma lição povoada de profundo humor. Nos últimos dias com frequência tenho sido confrontado com a necessidade de confiar (em Deus, na Providência, no Mistério, na Vida – não importa o nome que coloquemos). Este momento, fruto da experiência com Zé Alfredo foi uma culminância da qual estou tirando várias lições. Uma dessas lições diz respeito à crítica. No posto temos uma espírita (entre outras) que está estudando história e chocada com as perseguições católicas contra os dissidentes. Em dado momento manifestou que está odiando a igreja católica (apenas força de expressão - espero), enquanto isso, uma outra que é Evangélica lhe comentou que ela fala tanto de religião e cristianismo sem nunca haver lido a Bíblia. Ambas são ótimas amigas e uma deseja que a outra siga o caminho mais correto de salvação. Pensei em Zé Alfredo e sua história e notei que seria de bom alvitre que a humanidade parasse de se preocupar com a melhor forma de amar a Deus e se dedicasse a unir todas as varas religiosas em um só feixe, afinal Deus é maior do que todas as religiões reunidas. Seria, outrossim, muito interessante e positivo se para fortalecer nossa fé, ou nossa autoestima, ou nosso senso de pertencimento a um grupo, se nós não precisássemos criticar os demais. Sim, muitas vezes nos fortalecemos, não por nossos méritos e sim por fixar-se nos deméritos dos demais. Aqui comentei a questão religiosa, mas no cotidiano inúmeras vezes criticamos o diferente, o (supostamente) menos competente, e assim nos sentimos mais fortes em nossa verdade, ou em nosso grupo. Tal postura fundamenta e fortalece a intolerância. Embora nos deixe momentaneamente com um sentimento de força, nos obrigará a recorrer repetidas vezes ao método, qual vício que carece de novas doses e sempre maiores. Aprender com os erros dos outros é recomendável, porém mais vale estar atento ao próprio orgulho, pois a vaidade inconsciente é uma forma de loucura embutida, que em seu devido tempo cobrará sua taxa. Grato a Zé Alfredo por me convidar a unir minha fé com a sua para um fim benéfico. Recebam um abraço de fé de Aureo Augusto. PS: clique em [EXPOSIÇÃO] logo aqui ao lado em cima para assistir à exposição virtual de pinturas que tem como tema os clientes da Unidade de Saúde onde trabalho.

7 comentários:

  1. Aureo meu amigo, eu vivo numa regiao em que a intolerancia religiosa eh a regra e concordo em numero, genero e grau com os seus comentarios. O mundo so podera se tornar num lugar melhor para se viver quando as pessoas aprenderem a respeitar o pensamento dos outros

    ResponderExcluir
  2. Os intolerantes religiosos não se dão conta de que não se pode obrigar ninguém a andar pelo caminho certo.

    ResponderExcluir
  3. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  4. Caro Áureo,saudações.
    Linda crônica. Já conhecia a história contada pelo motorista/pastor: precisamos unir forças em todos os âmbitos e espaços. E que viva o ecumenismo. Um abraço. Luiz Edmundo

    ResponderExcluir
  5. Também adorei a exposição(virtual): a cara dos outros, a sua cara.

    ResponderExcluir
  6. Deus é bom... veja o que ELE fez: - pra mim, ter o privilégio de aprender desse GRANDE HOMEM DE DEUS, do Vale; me fez DESCER do cargo de Secretário de Saude do município de Palmeiras há oito anos, para (com muita honra) ser seu motorista uma vez por semana, no exercício da sua profissão!!! Quero aprender mais...amigo. Qdo serei convocado novamente? saudades... Zé Alfredo/Barreiras-Ba.

    ResponderExcluir