Festa de largo aqui no Vale do
Capão é sempre uma delícia para todos os gostos. Aqueles que não comem carne
podem se deliciar com uma grande variedade de pratos, inclusive atendendo aos
mais radicais, que, como os veganos, se recusam a comer produtos lácteos e mel,
e aos que comem carnes, não lhes faltam petiscos. Além disso, e falando
especificamente do São João, que é uma festa regada a variegados licores, tem
pouca confusão e brigas – não é que não tenha, que fique isso claro, mas menos
do que o esperado.
Este São João de 2015 está tão
bonito que dá gosto. Pessoas lindas de todas as tribos passeando na praça,
rindo e se divertindo em paz, apesar de alguns idiotas bêbados (que sempre há)
ou maconheiros fumando no meio das demais pessoas que não têm adicção a este
costume.
Como todos sabem, o grande dia é
a véspera, quando temos a fogueira, canjica, amendoim cozido e coisas assim.
Por isso ontem a praça estava lotada, houve muito forró e comilança. A
prefeitura me colocou de sobreaviso para qualquer eventualidade e assim fui
chamado ao posto para atender um rapaz que chegou desmaiado. Essa foi uma nota
bem desagradável da bela festa. Mas sobre isso escrevo depois...
O grande momento, para mim, é a
fogueira de ramo. Este ano foi preparada por Lili e alguns amigos. Pegam uma
árvores ou um galho reto e colocam no meio da fogueira enquanto penduram nos
galhos diversos presentes – sacos de avoador, dinheiro, laranjas e outras
frutas, garrafas de bebidas etc. – e fica uma tropa de gente esperando o ramo
cair. Não perco!
Na hora exata é uma confusão
danada e não dá pra ficar sendo delicado com o vizinho, pois todos querem pegar
alguma coisa. Eu inclusive.
Pouco antes do galho ceder ao
fogo e cair, uma menina me pediu pra pegar algo pra ela. Já estava de olho em
um saco de avoador, pois Sunna, minha filha ali presente, gosta muito disso.
Quando o galho se inclinou, eu já havia me postado bem embaixo do meu alvo, um
lugar quase perigoso, pois o tronco poderia bater em minha cabeça. Dei um pulo,
o mais alto que pude e agarrei o saco, mas este estava bem amarrado de modo que
se rompeu, espalhando os pequenos e frágeis globos pelo chão. Tive que focar
outra coisa e vi uma garrafa que me pareceu ser de molho de soja (só no Capão
mesmo!), outra pessoa percebeu o mesmo e corremos juntos, nos chocamos no ar e
o cara (que não sei quem é) saiu pela tangente, agarrei a garrafa e ao chegar
ao chão alguém se chocou comigo (ou eu sozinho me desarrumei o equilíbrio) e
também me espatifei, mas não larguei o prêmio. Ri feliz e corri para festejar.
Infelizmente a garrafa era de catuaba – uma bebida alcoólica – que logo dei a
quem gosta.
Foi aí que a menina me encontrou
e pediu seu presente. Expliquei que não tinha conseguido e ela me disse: “Mas
Aureo, você é o médico da gente, podia ter ido atrás do que quisesse, que
ninguém ia bater em você”. Observe que pare ela eu sou alguém especial que
deveria receber consideração especial, mas me trata por “você” e me chama pelo
meu nome sem o comum apodo: Doutor. Então lhe contei que tinha sido derrubado e
caíra no chão. Ela me olhou com uma cara de incredulidade, como se fosse algo
bem impossível. Não pude deixar de rir.
Aí voltei para o posto, aonde Raí
(Raimundo Cirilo, dentista do posto) havia ficado no meu lugar para que eu
pudesse me divertir naqueles minutos. O que estava acontecendo na unidade de
saúde é assunto para o próximo post. Aguardem.
Recebam um abraço junino de Aureo
Augusto.
Amei ler sua crônica, Áureo, já que não deu pra ir por aí na festa que realmente curto. Você, como sempre escreve com a alma e daí capta bem a atmosfera do que pretende focar. Adorei a adrenalina coletiva atrás dos brindes do ramo e o lindo reconhecimento da figura do médico em Áureo, sem precisar enquadrá-lo no "doutor" e suas torres de marfim. Saudades e quem sabe o próximo São João...
ResponderExcluirVenha mesmo, menina, não vai se arrepender; aliás arrependimento é de não vir.
ExcluirReceba o meu abraço.
As festas juninas aqui são, literalmente, um sufoco!
ResponderExcluirPorque ainda tem gente que, seguindo a tradição, acende
fogueiras em frente da casa. Ora, em lugares de boa ventilação,
como normalmente ainda são as cidades do interior e eram
os subúrbios na década de 60, não há/havia problema.
Mas em meio a uma cidade com casas quase coligadas e
edifícios a dar com o pé, é, simplesmente, poluição atmosférica
desnecessária.
E as comidas típicas nessa época, são outra fonte de problemas,
desta vez, para mim, pobre diabético! Como resistir a pamonhas
e canjicas cheirosas, cheias de meu veneno específico?
Ninguém faz essas delícias sem açúcar, para o desventurado
não ter que ir parar no hospital!
Mas a menina ainda vai ter que vivenciar mais irreverências
para descobrir que "farinha pouca, meu pirão primeiro"!
E, infelizmente, vai descobrir que existe a classe política,
onde esse provérbio é a lei.
Abraço aliviado pós-festividades.
Venha pro Capão que encontrará iguarias sem açúcar, meu amigo!
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