quarta-feira, 15 de julho de 2015

SÃO JOÃO parte 2

Cheguei no posto às 17h. Encontrei um jovem turista (depois descobri que tem 25 anos), com os olhos fechados como se dormisse, mas os pés tremiam. Cida, a técnica de enfermagem, já cuidara de seguir minha orientação por telefone (para adiantar as coisas), pôs soro na veia, verificou os dados vitais e a glicemia. E, para completar, cobriu-o para que não sentisse frio. Enquanto examinava-o e verificar que estava clinicamente bem, o funcionário da pousada aonde estava me descreveu que o jovem ali chegou à noite, e sem mais delongas deitou-se e dormiu, junto a uma parede. O dono da pousada, Lili, também nativo aqui do Vale, teve pena dele e não botou pra fora. Ele então armou uma rede na frente de um quarto, dificultando a passagem de um hóspede regular. Lili, ainda assim foi conversar com ele explicando que não podia fazer aquilo. Ele desarmou a rede, mas ficou sentado no refeitório. Depois, Lili foi atrás de lenha para a fogueira de ramo da noite e descuidou do sujeito que arranjou de usar o chuveiro elétrico e ficou um tempo inusitado ali, aproveitando para lavar a roupa. Depois deve ter sentido fome e arrombou a porta da cozinha e alimentou-se, além de ter desordenado tudo. Por fim, quando o encontraram estava desmaiado e o levaram ao posto.

Depois de algum tempo ele respondeu a minhas perguntas com tranquilidade. Perguntei se havia usado drogas, respondeu: “Depende do que você acha que é droga”, com um acento bastante desagradável. Pelo menos me deu o telefone do irmão com o qual falei e se dispôs a vir para cá desde Aracajú para busca-lo. Chamei a polícia mais ou menos às 17:30h. Paradoxalmente, em uma festa junina não havia policial no povoado. A polícia havia prometido chegar às 22h. Sei que o pessoal fica mais alto mais tarde, mas com o movimento de gente aqui, pensei que era uma temeridade não ter polícia. Pedi a ajuda da secretária de saúde que logo se comunicou com polícia, prefeito etc. E o tempo foi passando... Telefonei várias vezes pro prefeito que me disse que havia se comunicado e que uma viatura já estava vindo. A secretária chegou a ficar agastada com a demora e com o descaso. Mas o tempo foi passando...

Então ele despertou e bateu a porta da sala de curativo com muita força, Cida se assustou, foi lá, e viu que estava em pé, havia retirado o soro e se deslocado a outra sala e fechado a porta com vigor. Então cheguei e abri a porta à força, ele saiu muito agressivo, ameaçando-me e exigindo meus documentos. Depois gritou por socorro. Uma coisa bem estranha. Pedi a Cida que chamasse alguns homens fortes, uma vez que minha pujante musculatura (rs) jamais seria suficiente para controlar o rapaz bem mais alto que eu. Quando ele viu a tropa de amigos do posto, recuou e por sorte um dos que se apresentaram, Tony, o reconheceu, porque no primeiro dia em que chegou conversaram algo. Então com muito tato, Tony acalmou-o, mas ele continuou bem arrogante e irônico. Chamei por telefone o prefeito e a secretária de saúde. Ambos chamaram novamente a polícia que disse que já estava a caminho. E o tempo foi passando...

Consegui conversar com o cara e expliquei que o melhor para ele era ir para a cadeia, para se proteger porque havia feito algumas coisas e podia fazer outras – ele dizia que eu é quem dizia aquilo, duvidando, até que chegou Lili e foi descrevendo tudo e ele se lembrou e pediu desculpas com um ar de que havia cumprido sua obrigação ao fazer isso. Pelo menos aceitou ir para a delegacia quando chegassem os policiais. E o tempo foi passando...
Perto da meia-noite os policiais chegaram. Interrogaram, falaram, foram tratados por ele com algum desdém, se irritaram um pouco, mas não muito. Então o rapaz foi calçar-se para ir. Saiu. A viatura parada na porta do posto... E o tempo foi passando... Falei então: “Olhem ele já está aqui”. Um dos policiais retrucou: “Agora é com a gente”. Calei. E o tempo foi passando...
Entrei por alguns minutos e quando saí descobri que o rapaz calmamente se afastou e foi embora. O CARA FOI EMBORA TRANQUILAMENTE!!!!!!

Pensei que se era para deixa-lo livre, poderia tê-lo feito eu mesmo, sem precisar ficar seis horas e meia ali (pois eu não estava de plantão e sim de sobreaviso), já que não queria deixar Cida só com uma pessoa como ele. Então me perguntei que outra porta iria arrombar, que outras pessoas iria destratar, e se alguém revidasse?
Mas a coisa não acabou aí. Vejam a próxima postagem.


Recebam um abraço estranhado de Aureo Augusto

3 comentários:

  1. Parece que é filho do todo-Poderoso (juiz, porque Deus já foi destronado no Brasil).
    A tática do "sabe com quem está falando?", ainda funciona por aqui.
    Abraço ainda junino.

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    1. E, como se diz, "durma com um barulho destes", ou, no meu caso, não durma.

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  2. Perigo, caro, doutor. Perigo...vi coisas nesta vila....ai ai...perigooo

    Abraçços julianininioss

    rsrs

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