Cheguei no posto às 17h.
Encontrei um jovem turista (depois descobri que tem 25 anos), com os olhos
fechados como se dormisse, mas os pés tremiam. Cida, a técnica de enfermagem,
já cuidara de seguir minha orientação por telefone (para adiantar as coisas),
pôs soro na veia, verificou os dados vitais e a glicemia. E, para completar,
cobriu-o para que não sentisse frio. Enquanto examinava-o e verificar que
estava clinicamente bem, o funcionário da pousada aonde estava me descreveu que
o jovem ali chegou à noite, e sem mais delongas deitou-se e dormiu, junto a uma
parede. O dono da pousada, Lili, também nativo aqui do Vale, teve pena dele e
não botou pra fora. Ele então armou uma rede na frente de um quarto,
dificultando a passagem de um hóspede regular. Lili, ainda assim foi conversar
com ele explicando que não podia fazer aquilo. Ele desarmou a rede, mas ficou
sentado no refeitório. Depois, Lili foi atrás de lenha para a fogueira de ramo
da noite e descuidou do sujeito que arranjou de usar o chuveiro elétrico e
ficou um tempo inusitado ali, aproveitando para lavar a roupa. Depois deve ter
sentido fome e arrombou a porta da cozinha e alimentou-se, além de ter
desordenado tudo. Por fim, quando o encontraram estava desmaiado e o levaram ao
posto.
Depois de algum tempo ele
respondeu a minhas perguntas com tranquilidade. Perguntei se havia usado
drogas, respondeu: “Depende do que você acha que é droga”, com um acento bastante
desagradável. Pelo menos me deu o telefone do irmão com o qual falei e se
dispôs a vir para cá desde Aracajú para busca-lo. Chamei a polícia mais ou
menos às 17:30h. Paradoxalmente, em uma festa junina não havia policial no
povoado. A polícia havia prometido chegar às 22h. Sei que o pessoal fica mais
alto mais tarde, mas com o movimento de gente aqui, pensei que era uma
temeridade não ter polícia. Pedi a ajuda da secretária de saúde que logo se
comunicou com polícia, prefeito etc. E o tempo foi passando... Telefonei várias
vezes pro prefeito que me disse que havia se comunicado e que uma viatura já
estava vindo. A secretária chegou a ficar agastada com a demora e com o
descaso. Mas o tempo foi passando...
Então ele despertou e bateu a
porta da sala de curativo com muita força, Cida se assustou, foi lá, e viu que
estava em pé, havia retirado o soro e se deslocado a outra sala e fechado a
porta com vigor. Então cheguei e abri a porta à força, ele saiu muito
agressivo, ameaçando-me e exigindo meus documentos. Depois gritou por socorro.
Uma coisa bem estranha. Pedi a Cida que chamasse alguns homens fortes, uma vez
que minha pujante musculatura (rs) jamais seria suficiente para controlar o
rapaz bem mais alto que eu. Quando ele viu a tropa de amigos do posto, recuou e
por sorte um dos que se apresentaram, Tony, o reconheceu, porque no primeiro
dia em que chegou conversaram algo. Então com muito tato, Tony acalmou-o, mas
ele continuou bem arrogante e irônico. Chamei por telefone o prefeito e a
secretária de saúde. Ambos chamaram novamente a polícia que disse que já estava
a caminho. E o tempo foi passando...
Consegui conversar com o cara e
expliquei que o melhor para ele era ir para a cadeia, para se proteger porque
havia feito algumas coisas e podia fazer outras – ele dizia que eu é quem dizia
aquilo, duvidando, até que chegou Lili e foi descrevendo tudo e ele se lembrou
e pediu desculpas com um ar de que havia cumprido sua obrigação ao fazer isso.
Pelo menos aceitou ir para a delegacia quando chegassem os policiais. E o tempo
foi passando...
Perto da meia-noite os policiais
chegaram. Interrogaram, falaram, foram tratados por ele com algum desdém, se
irritaram um pouco, mas não muito. Então o rapaz foi calçar-se para ir. Saiu. A
viatura parada na porta do posto... E o tempo foi passando... Falei então:
“Olhem ele já está aqui”. Um dos policiais retrucou: “Agora é com a gente”.
Calei. E o tempo foi passando...
Entrei por alguns minutos e
quando saí descobri que o rapaz calmamente se afastou e foi embora. O CARA FOI
EMBORA TRANQUILAMENTE!!!!!!
Pensei que se era para deixa-lo
livre, poderia tê-lo feito eu mesmo, sem precisar ficar seis horas e meia ali
(pois eu não estava de plantão e sim de sobreaviso), já que não queria deixar
Cida só com uma pessoa como ele. Então me perguntei que outra porta iria
arrombar, que outras pessoas iria destratar, e se alguém revidasse?
Mas a coisa não acabou aí. Vejam
a próxima postagem.
Recebam um abraço estranhado de
Aureo Augusto
Parece que é filho do todo-Poderoso (juiz, porque Deus já foi destronado no Brasil).
ResponderExcluirA tática do "sabe com quem está falando?", ainda funciona por aqui.
Abraço ainda junino.
E, como se diz, "durma com um barulho destes", ou, no meu caso, não durma.
ExcluirPerigo, caro, doutor. Perigo...vi coisas nesta vila....ai ai...perigooo
ResponderExcluirAbraçços julianininioss
rsrs