sábado, 1 de abril de 2017

TODOS MORRER DE CÂNCER?

“Será que todo mundo vai ter câncer, pai, será que ninguém vai morrer de velhice? ”. Foi a frase de minha filha, em tom de desabafo, ao saber de mais um conhecido com a doença.
Conseguimos a glória duvidosa de criar um mundo completamente novo e diferente daquilo que nossos antepassados nos fizeram herdar, com suas frutas do quintal ou do quitandeiro, com suas viroses que faziam parte do crescer esperado, com as línguas lambendo as mãos sujas de comida.... Roubar frutas no vizinho era o padrão aqui no Vale do Capão, essa minha filha era especialista. Agora a tendência é comprar o salgadinho na venda logo ali; refrigerantes, calabresa e outros embutidos, antes raridades para momentos tão incomuns como casamentos, hoje participam da mesa do dia-a-dia e as crianças, criadas com esta alimentação, serão futuros diabéticos e hipertensos, obesos e com mais chance de ter o Mal de Alzheimer, Mal de Parkinson e variados tipos de Câncer.
O açúcar era pras visitas, todos adoçavam com o não tão comum mel ou a garapa da cana feita no quintal com uma traquineta artesanal. Qual casa de hoje não se farta do açúcar tão danoso para o pâncreas, que também irrita o corpo predispondo aos processos inflamatórios crônicos como as doenças reumáticas, o câncer, depressão e outros males, isso sem falar que aumenta o colesterol. Mas... pare um pouco! Na verdade, antes eu lutava para mostrar as pessoas os males do açúcar, agora tem coisa pior: a frutose concentrada e artificializada, retirada do milho produzido quase sem intervenção do solo tal a quantidade de químicos na lavoura, frutose esta que é infinitamente pior que o velho açúcar. É esta frutose que hoje se usa para adoçar os refrigerantes porque é bem mais barata.

A par desta alimentação doentia, e, em parte, como consequência desta, um consumo desenfreado de medicações de todo tipo, receitadas ou não, mas sempre compradas, usadas, ingeridas, quase como comida!

Mas não é só a comida! É também a sistemática de vida. Nos livramos em grande parte dos ditames de uma religião institucionalizada e anquilosada, bem como de uma moral hipócrita, para nos vermos perdidos num saceiro de conceitos libertários, nem sempre responsáveis, e, em parte por isso, incapazes de contribuir para um sentimento de segurança interior e de pertencimento. Não olhamos mais os vizinhos como continuidades de nós mesmos, e deixamos de lado o nosso ser social, fato esse acentuado em nossos corações pelo doloroso procedimento doentio de boa parte dos políticos.

E me incluo. Amo o que faço, amo o lugar onde vivo, amo meus amigos e amigas, amo muitas das coisas que configuram o meu existir aqui, no entanto neste agora me dá uma de perguntar por que temos nós, eu incluso, que criar em nós mesmos este afã de fazer. Não como luz e alegria e sim como um cansaço de viver, uma obrigação imposta. E não adianta culpar a sociedade, a economia, Deus ou o capitalismo, somos nós individualmente os maiores responsáveis, pois demais vezes não nos permitimos o descanso, mesmo tendo a oportunidade.

E, até a gente amada deste meu querido Vale, não tem mais paciência para a doença ou para dizer às crianças o que e o como, cedendo a elas direitos para os quais não ainda têm estrutura para suportar. E deixam de lado o mato pelo celular, face, coisas assim boas quando não demais.
Olho a minha vida e vejo que são tantas as coisas deliciosas a fazer, mas junto com elas e para que não se tornem um transtorno devo dar-me o tempo do contemplar... como esse meu povo de antanho que sentava a conversar nas postas depois do jantar.


Recebam um abraço pensativo de Aureo Augusto.

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