Nestes últimos dias convivo com a tristeza de estar
participando de uma greve. Não me agrada isso. Mas sou um daqueles que mais
considera que é necessária. Ocorre que após tantos anos trabalhando em
condições desafiadoras, observo que carecemos nós, os funcionários da saúde, de
alguma forma contundente de atrair a atenção para os problemas que se arrastam,
nos arrastam e desgastam a nossa relação com aquilo que escolhemos como missão.
Desespera-me a falta de insumos, ver o dentista agoniado por não ter material
para trabalhar, a ausência de sensibilidade administrativa dos poderes
constituídos...
Este é o lado triste, mas agora quero comentar do lado em
que o esperançar contrabalança a dor: Olho os estudantes de medicina que vêm
fazer estágio aqui.
O Vale do Capão, em que pese a sua extraordinária beleza,
oferece algumas dificuldades, pois estes estudantes ficam por períodos que
variam de 15 dias a 2 meses. Nesse momento tivemos um grupo de Aracajú, que
aproveitou as férias para fazer o estágio (por isso 15 dias), um grupo de
Recife, cujo estágio é de 1 mês e um grupo de Salvador, 2 meses. Todos vêm a
expensas próprias, alugam casas e se cotizam para pagar, preparam suas próprias
comidas (e nem todos têm a sorte do atual grupo da UFBA que conta com uma das
estudantes que gosta de cozinhar e sabe fazer pratos saborosos).
Eles mergulham na experiência com toda garra, ganas de
adentrar um espaço de saber bastante diferente daquele a que se acostumaram na
academia. Aqui são tudo, desde técnicos de enfermagem a médicos, aqui
experimentam as casas em lugares às vezes de acesso difícil, com e como agentes
comunitários de saúde, sofrem com o sofrer das pessoas e aproveitam o
conhecimento de especialistas da academia para conseguir apoio ao povo quando o
posto esgotou suas possibilidades.
Mais: admiro-lhes a coragem de se expor, se colocar,
desnudar-se frente a possibilidades terapêuticas antes desconhecidas. Olham com
aquele olhar da busca e transformam o meu trabalho (e nele incluo a equipe) em
uma espécie de construção de um mundo melhor. O ato em si de vê-los labutando
aprendizagens, percebo, é um ato elaborativo do que está por vir, e que já
assoma no horizonte do acontecer.
Esta juventude me diz não de uma esperança de um mundo
melhor. Ela me alerta para o fato de que o melhor dos mundos já está
acontecendo e se espalha.
Recebam um abraço de Aureo Augusto.
Obs: lembrem que agora sou um youtuber, kkkkkkkkk, http://bit.ly/aureoaugusto
Vá lá dar uma olhada.
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