segunda-feira, 15 de maio de 2017

POVO DO MUNDO MELHOR

Nestes últimos dias convivo com a tristeza de estar participando de uma greve. Não me agrada isso. Mas sou um daqueles que mais considera que é necessária. Ocorre que após tantos anos trabalhando em condições desafiadoras, observo que carecemos nós, os funcionários da saúde, de alguma forma contundente de atrair a atenção para os problemas que se arrastam, nos arrastam e desgastam a nossa relação com aquilo que escolhemos como missão. Desespera-me a falta de insumos, ver o dentista agoniado por não ter material para trabalhar, a ausência de sensibilidade administrativa dos poderes constituídos...
Este é o lado triste, mas agora quero comentar do lado em que o esperançar contrabalança a dor: Olho os estudantes de medicina que vêm fazer estágio aqui.

O Vale do Capão, em que pese a sua extraordinária beleza, oferece algumas dificuldades, pois estes estudantes ficam por períodos que variam de 15 dias a 2 meses. Nesse momento tivemos um grupo de Aracajú, que aproveitou as férias para fazer o estágio (por isso 15 dias), um grupo de Recife, cujo estágio é de 1 mês e um grupo de Salvador, 2 meses. Todos vêm a expensas próprias, alugam casas e se cotizam para pagar, preparam suas próprias comidas (e nem todos têm a sorte do atual grupo da UFBA que conta com uma das estudantes que gosta de cozinhar e sabe fazer pratos saborosos).
Eles mergulham na experiência com toda garra, ganas de adentrar um espaço de saber bastante diferente daquele a que se acostumaram na academia. Aqui são tudo, desde técnicos de enfermagem a médicos, aqui experimentam as casas em lugares às vezes de acesso difícil, com e como agentes comunitários de saúde, sofrem com o sofrer das pessoas e aproveitam o conhecimento de especialistas da academia para conseguir apoio ao povo quando o posto esgotou suas possibilidades.

Mais: admiro-lhes a coragem de se expor, se colocar, desnudar-se frente a possibilidades terapêuticas antes desconhecidas. Olham com aquele olhar da busca e transformam o meu trabalho (e nele incluo a equipe) em uma espécie de construção de um mundo melhor. O ato em si de vê-los labutando aprendizagens, percebo, é um ato elaborativo do que está por vir, e que já assoma no horizonte do acontecer.
Esta juventude me diz não de uma esperança de um mundo melhor. Ela me alerta para o fato de que o melhor dos mundos já está acontecendo e se espalha.

Recebam um abraço de Aureo Augusto.
Obs: lembrem que agora sou um youtuber, kkkkkkkkk, http://bit.ly/aureoaugusto
Vá lá dar uma olhada.


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