terça-feira, 10 de dezembro de 2019

A ROUPA NUA


A vida pode ser difícil, é para tantos de nós.
Estar vivo é lindar com a dor, a morte, a tristeza...
Somos vulneráveis.
No entanto a beleza é um bem disseminado, a luz cai oblíqua no entardecer entre as árvores e o brilho da lua resvala nas folhas criando pequenas fosforescências. O sol brilha nos diamantes do orvalho e o destrói construindo a névoa matinal que matiza a manhã.
Hoje meu neto estava feliz porque ia comer açaí e ria e contava de coisas ininteligíveis, mas maravilhosamente capazes de arrancar sorrisos ternos.
Uma criança me viu no posto de saúde e saltou sobre mim em um abraço feito de infinitas alegrias.
Um vizinho me contava da sua vasta produção de abóboras orgânicas, mais de 150, e destas tantas 2 me foram regaladas e o meu dia se iluminou. Não sei se pela minha gulodice, ou pela bondade sóbria e humilde dele, mas o dia foi balizado por esse fato precisamente precioso.
A vida se desenovela na fronteira entre a lágrima sofrida e a lágrima da emoção feliz. Para que lado devo olhar?
Não sou idiota (no sentido grego do termo) para negar ou ignorar o meu existir entre os demais. Entre os demais nem tudo ou quase nada depende sempre e completo de mim apenas. Entre os demais vulnerabilizo-me e isso quer dizer que vivo mais pleno, sou mais e sofro tanto ou menos quanto rio e abraço. Menos, reconto.
Viver é participar de uma canção e nela há versos tristes... Mas ela é uma canção! Nela nasce o sol assim como se finda no ocaso. Renasço todas as manhãs inda que nem sempre note. Sim, viver pode não ser fácil e não é para tantos, porém sempre teremos a escolha de escolher para onde dirigir o nosso olhar.
Mas para tanto, há que tomar a decisão de deixar de ser um para ser um mais além, mais pra lá. Deixar de viver uma vida que ficou pra trás, optar por ter a clareza de que a mudança já ocorreu e os restolhos do naufrágio são apenas a memória frágil de um dia lá atrás cuja lembrança apenas navega dor.
O que resta dos idos tempos é aquilo que daquilo tiramos como lição e olhar para o agora com a clareza de que a mudança ocorreu e as novas roupas são na realidade nada mais que nudez.
Em 10/12/19
Recebam meu abraço nu, Aureo Augusto

Um comentário:

  1. Muito bom ..parabens Aureo. Continue nos presenteando com seus comentários de alma poética, que nos enriquece sobremsaneira.

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